Mostrar mensagens com a etiqueta Propaganda. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Propaganda. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Notícias do hospício

Num país onde o Governo enterrou, há (apenas) alguns meses, largos milhares de milhões de euros em dois bancos falidos (BPN e BPP); num país onde uma agência governamental (ANQ) gasta dezenas de milhões de euros a certificar com o 12.º ano, analfabetos funcionais; num país onde as escolas secundárias estão a ser dadas (sob o pretexto de precisarem de obras de recuperação) a uma empresa maioritariamente privada (a Parque Escolar), onde o Governo investiu alguns milhares de milhões de euros em obras, em vários casos desnecessárias; num país onde nos últimos anos largas dezenas de milhões de euros foram gastas a distribuir computadores portáteis, a crianças de seis anos que não sabem ler nem escrever; num país em que o Primeiro-Ministro gasta, anualmente, 63 mil euros em flores e mais de 220 mil euros em telemóvel; os dois principais partidos políticos concordam que o Governo roube (via Orçamento de Estado) entre 3,5 a 10% no vencimento dos funcionários públicos (que estão entre os mais mal pagos da União Europeia) e corte brutalmente as despesas (também elas das mais baixas da Europa) com o “estado social” (nomeadamente abonos de família) apesar de sermos um dos países europeus com maior percentagem de pobres. Este é o mesmo Governo que (com o beneplácito do maior partido da oposição) permite que os seus paus-mandados beneficiem de mordomias obscenas, em empresas de capitais públicos ou mistos (públicos/privados) como por exemplo (e muitos mais haveria): Ascenso Simões (administrador da ERSE) que aufere mais de 188 mil euros (anuais), além de carro de serviço; Filipe Baptista (administrador da ANACOM) que recebe mais de 198 mil euros (por ano) além de viatura de serviço; ou, o caso mais flagrante, Fernando Gomes (administrador da GALP) que leva (anualmente) para casa, 529 mil euros de vencimento, acrescidos de prémios, Planos de Poupança Reforma e subsídios de renda de casa e de deslocação. O problema deste país já não se limita à nudez do rei. O problema é que a corte é maioritariamente constituída por alucinados, liderados por verdadeiros inimputáveis.
Apache, Outubro de 2010

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A importância de ser...

«À saída do número cosmopolita que foi a conferência do nosso Primeiro na Universidade de Columbia, NY, sobre renováveis e variáveis, o ex-ministro Manuel Pinho, à saída da primeira fila, deu uma mini-entrevista à Lusa; foi reproduzida no "Público" e no "DN". Prefiro atribuir a pieguice e puerilidade da notícia a um subtexto irónico de jornalista de agência, caso contrário tratar-se-ia de jornalismo grotesco. Dá-nos conta de como "foi importante ser ministro cinco anos mas agora estou a adorar a minha vida em Nova Iorque". E continua por aí: o gabinete na Universidade de Columbia, onde é professor visitante, ou visiting professor em inglês técnico, tem uma óptima vista do oitavo andar sobre a zona norte de Manhattan. Os americanos são muito frugais nos hábitos e existe igualdade de tratamento social, ao contrário dos países da Europa do sul ("are you talking to me?"). Uma garrafa de vinho decente custa menos de 20 dólares. Levanta-se às 5 da matina para preparar as aulas. E teve a surpresa de ser convidado para ser docente do mestrado de renováveis pelo reitor da Universidade de Columbia, que lhe telefonou sem mais nem ontem no dia dos anos. Quer vir para NY? E foi. Uma vida adorável. Único problema: "Alguém tinha posto o seu telemóvel pessoal no silêncio e não encontrava uma forma de sair desta opção para pôr um toque bem audível no aparelho, numa altura em que já contabilizava seis chamadas não atendidas" (fim de citação). Como este país do sul da Europa não é constituído por parolos e como uma boa parte desses espertalhões também adorasse viver em NY, o ex-ministro Pinho recebeu uma carrada de comentários online: jocosos, odiosos e sérios com algumas verdades à mistura, devidamente noticiadas e que eu, como tantos parolos sulistas, não li. Juro que acreditei que o ex-ministro tinha mesmo sido convidado dada a sua proverbial esperteza em renováveis. E de renováveis também não percebo nada, pago-as, com o resto dos parolos, na factura da EDP. De resto, toda a gente acha que são muito boas para a saúde e o ambiente. O pior é que, curiosa de uns tantos comentários, fui pesquisar na Net, e pesquisando fui parar a uns blogues onde a discussão sobre renováveis e o seu custo me pareceu cientificamente descrita por gente que percebia do assunto; e onde fiquei a saber como é que o ex-ministro foi parar a NY. A EDP pagou. No "Jornal de Negócios online", uma notícia assinada por Helena Garrido deu-nos conta disso, a 13 de Agosto de 2010. A EDP fez uma doação de montante desconhecido à SIPA (School of International and Public Affairs) de Columbia, e criou um mestrado, um semestre em NY, uma cidade adorável, e um semestre no ISCTE em Lisboa, menos adorável, mas encantadora para estrangeiros e com vinho a menos de 20 dólares já que falamos nisso. Longe de mim comparar o meu desconhecimento do tema das renováveis com o know-how de Pinho nesta súbita especialidade sua, mas fiquei a saber, ao cabo de horas de pesquisa, que a factura desta nova forma de energia nos custa agora 700 milhões de euros. A ERSE, Entidade Reguladora Serviços Energéticos, descobriu uma coisa chamado défice tarifário, mais de 2000 milhões de euros, que tem de ser abatido em 2010 em 129 milhões de euros (notícia da TSF online). Neste défice tarifário, que ninguém sabe o que é exactamente, incluem-se os "custos das renováveis". E como vamos pagar o défice? Mais um euro nas nossas facturas em 2010; multiplicado por milhões é adorável. O preço do petróleo diminuiu e continuamos a pagar a electricidade cara. O consumo também diminuiu, adivinhem porquê: não há dinheiro dos parolos para pagar a fatura. A discussão fica interessante quando percebemos o logro das renováveis. Não como conceito mas modo de aplicação em Portugal. Descobri que a EDP Renováveis vende à EDP com lucro fabuloso e a EDP vende ao consumidor com mais lucro. Descobri que essa energia custa três a seis cêntimos a ser produzida e nós pagamos 17 cêntimos. Descobri que a EDP ultrapassou o máximo razoável de potência eólica instalada e que a exportação rendeu menos do que o custo; e descobri que o Sr. Primeiro-ministro, outro especialista de renováveis, instalou em S. Bento uma T. Urban, turbina eólica do INETI, que desde Novembro de 2007 teria produzido 8 Watt por hora, o que daria para alimentar uma lâmpada de poupança. Verdade ou mentira? A discussão é científica e mereceria ser investigada. Para sabermos quem são e o que são a chamada "máfia do vento" (promotores das eólicas, governantes, autarcas que recebem uma comissão) como lhes chama um ‘bloguer’ com formação na área e que é a favor das eólicas. Vou argumentar à Durão Barroso (não haverá aeroporto enquanto houver uma criança com fome): enquanto houver um velho que morra de frio no inverno, não deveria haver mestrados em NY nem Sócrates em inglês técnico. Temos de ter hábitos frugais. E cortar no vinho.»
Clara Ferreira Alves, na revista “Única” do “Expresso” do passado sábado

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

“O mistério dos 400 milhões de euros desaparecidos”

“Tornou-se um falso dado adquirido na coreografia retórica em torno do défice, do aumento da despesa pública e daqueles a quem é útil apontar o dedo como causa da desgraça fabricada por incompetente governação. Embora o valor possa ter tido origem na máquina comunicacional do governo, rapidamente foi adoptado como bom por ‘experts’ da oposição para fazer passar a mensagem: o acordo entre o Ministério da Educação e os sindicatos de professores foi desastroso para as finanças públicas porque acarretou um encargo adicional de 400 milhões de euros. A falsidade é de tal maneira evidente, e desmontá-la é tão óbvio, que é trágico como consegue continuar a ser reproduzida, desde gente que demonstra a sua incapacidade técnica ou então a sua extrema credulidade, isto para não falar em outros casos que já raiam o foro do delírio patológico. Comecemos pelos números. De acordo com os números mais recentes, existirão cerca de 115 000 professores nos quadros do ME. Segundo quem diz que sabe, o acordo feito em Janeiro (atenção que o acordo foi para o ECD, nem sequer foi directamente sobre o modelo de avaliação, sendo que a estrutura da carreira impede progressões automáticas em dois níveis) teria implicado o tal encargo suplementar de 400 milhões de euros. Não vou prender-me sequer com a demonstração, ao nível micro, da falsidade da alegada progressão automática de todos os docentes. Vou apenas pela tentativa de desmontagem dos números. Mesmo que todos os professores tivessem progredido em função do acordo - o que já de si é totalmente falso -, cada professor teria direito a receber mais 3500 euros este ano, o que implicaria um acréscimo bruto de 250 euros mensais. Consultando qualquer tabela salarial percebe-se que a maioria das transições acontece abaixo dos 200 euros e algumas rondam apenas os 100 euros ilíquidos. Logo, gostaria de saber que contas foram feitas, pois a generalidade dos professores que subiram de escalão o fez por ter completado mais do que o tempo suficiente para transitar e outros que ainda nem progrediram, sendo que isso já estava previsto no OE para 2010. Mas há ainda a cronologia. E essa ainda é mais gritante na forma como desmente o que é afirmado. O acordo ME/sindicatos foi assinado em Janeiro de 2010. Quando PS e PSD acordaram o pacote de austeridade em Maio já se sabia qual o efeito desse acordo, que directamente era quase irrelevante, pois, como referi atrás, as progressões em virtude da avaliação de 2007-09 já estavam previstas no OE e as decorrentes da apreciação curricular intermédia são uma minoria. Logo, qualquer derrapagem entre Maio e Setembro não pode ser assacada a qualquer acordo com os professores, mas a uma de duas hipóteses principais: mistificação voluntária dos números em Maio ou pura incompetência técnica da equipa das Finanças. É como a história dos submarinos... já se sabe há muito o que custam. Qualquer derrapagem da despesa pública desde Maio, cuja origem o Governo não desvenda, não pode de modo algum ser atirada para as costas largas dos professores, por ser absolutamente inverosímil. Que o Governo, o maior partido da oposição e a miríade de opinadores e especialistas-satélite se prestem a repetir essa falsidade em público é uma absoluta vergonha. O que está em causa é que desde final de 2009, quando o PSD apoiou o Governo na não suspensão do modelo de avaliação, as progressões suspensas desde 2005 tinham de ser desbloqueadas para os professores avaliados e em condições há muito para progredir. E isso é anterior a qualquer acordo. Era bom que todos, sindicatos incluídos, o declarassem, a bem da verdade dos factos.”
Paulo Guinote, Professor do 2.º CEB, Doutorado em História da Educação, no “Público” da passada terça-feira

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Dom Sócrates I – A pérfida

«Acompanhado de um séquito de subalternos e repórteres (nem sempre se distinguem), o senhor primeiro-ministro visitou uma feira chamada Portugal Tecnológico, no Parque das Nações. Visto tratar-se do Dia Europeu sem Carros, o senhor primeiro-ministro chegou de transporte público: "Gosto muito de andar de metro e comprei bilhete de ida e volta", esclareceu. Depois, deixou-se transportar até à feira propriamente dita num, cito os jornais, "minibus eléctrico autoguiado", um carrinho da ‘bem portuguesa’ Siemens, que, em jargão de engenharia, o senhor primeiro-ministro definiu como "um elevador que anda na horizontal". Após o senhor primeiro-ministro contactar com outras invenções assim assombrosas, um grupo de crianças juntou-se-lhe de forma espontânea. O senhor primeiro-ministro, a que as crianças se referiram por "senhor presidente" ("Sua Alteza" seria na mesma adequado), aproveitou para uma troca informal de ideias no complexo domínio da informática: "Não acham que o Magalhães trouxe benefícios às escolas?" As crianças responderam que sim. "Não acham que o Magalhães vos prepara para trabalharem com as novas tecnologias de informação no futuro?" As crianças responderam que sim. "Não acham que o Magalhães vos ajuda a aprender?" O senhor primeiro-ministro respondeu: "Pois, eu também acho." Por fim, o senhor primeiro-ministro fez um discurso no qual aludiu ao papel do Governo e da sua pessoa no nosso crescimento científico e tecnológico, sem se esquecer de notar, com modéstia, que duas escolas nacionais (uma de uma aldeia na Lousada, outra nos Açores) se viram seleccionadas para integrar a lista das mais avançadas do mundo, escolha a cargo da Microsoft, que distingue e apoia a utilização das tecnologias de informação e comunicação na educação, e que está restrita a estabelecimentos de ensino de apenas 114 países. Igualmente presente na feira, o ministro Vieira da Silva lançou a vital questão: "Se não estamos aqui a falar de economia e do futuro de Portugal, estamos a falar de quê?" Por mim, do que o dr. Vieira da Silva e o senhor primeiro-ministro quiserem, embora suspeite de que não queiram falar da avançadíssima escola de Lamego eleita pela Microsoft no ano passado e encerrada pelo Ministério da Educação neste. Nem do Tomás. O Tomás, agora revelado pelo Expresso, não mostrava queda para a matemática, óbice que o levou a desistir dos estudos sem concluir o "secundário". Em 2009, inscreveu-se num Centro de Novas Oportunidades, onde frequentou os "módulos" de Saberes Fundamentais (?) e Gestão. Em curtos meses, conseguiu a equivalência ao 12.º. Hoje, encontra-se no curso de Tradução da Universidade de Aveiro e foi, em todo o País, o aluno com a melhor nota de candidatura: 20 valores. Convém explicar que a "média" do Tomás no liceu não pesou nas contas, limitadas a um exame de Inglês. A partir daqui as explicações tornam-se menos fáceis. Porque é que milhares de crianças insistem em perder anos no ensino tradicional para obter o que as Novas Oportunidades lhes dariam num instante? Porque é que não se saltam as Novas Oportunidades e se distribuem doutoramentos aos recém-nascidos? Porque é que a epopeia de modernidade e crescimento para que o senhor primeiro-ministro nos convocou termina invariavelmente em rábula cómica, na educação e no resto? Porque é que a realidade teima em contrariar a propaganda que vai na cabeça de D. Sócrates I e, se os céus tiverem misericórdia de nós?»
Alberto Gonçalves, no “Diário de Notícias” do passado dia 23

segunda-feira, 19 de julho de 2010

“- Foge cão que te fazem Barão! – Para onde, se me fazem Visconde?”

A propósito do programa “Novas Oportunidades” e do seu mais que previsível alargamento generalizado ao Ensino Superior, Universitário, Público (convém não esquecermos: as Escolas Superiores de Educação, a cirurgicamente extinta Universidade Independente, o Processo de Bolonha, etc., só para citar os casos mais óbvios) escrevia em tempos, no “Diário de Coimbra”, Rui Baptista, adaptando à circunstância Almeida Garrett: “- Foge gato que te dão o bacharelato! - Para que lado, se me fazem licenciado?” Acrescentando eu – É indiferente, pois no primeiro cruzamento oferecem-te o doutoramento!
Apache, Julho de 2010

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Taras e manias (2)

O jornal “i”, na sua edição de ontem, dava conta de uma polémica gerada em torno da aquisição, por parte de algumas escolas, de um “kit” a ser usado nas aulas de Educação Sexual.
“O assunto promete criar polémica, uma vez que o modelo pedagógico e o material educativo é, na maioria das escolas, fornecido pela Associação para o Planeamento da Família (APF). (…) Duarte Vilar, é o primeiro a assumir que o material didáctico da associação tem sido um dos principais recursos das escolas públicas e que, desde Setembro de 2009, foram vendidos mais de 1300 kits” Belo negócio para a APF. Estaremos perante mais uma JP Sá Couto?
“(…) Mais de 70% das escolas públicas já encomendaram ou estão a encomendar os kits de Educação Sexual à APF.” Onde terão arranjado o dinheiro para adquirir este lixo?
“Questões como as da masturbação (…) são respondidas através de exemplos práticos." Exemplos práticos? Com a Bruninha de Mirandela? Rasura-se já o comentário anterior.
“Duarte Villar reconhece que a APF tem sido a principal entidade formadora dos professores, em Portugal.” Cá está, as fotos para a Playboy integravam-se, provavelmente, no plano de formação da APF.
“(…) Mas esclarece que os conteúdos dos materiais didácticos e das acções de formação estão orientados «numa lógica de conhecimento científico e de diversidade moral». Julgamentos de valor não existem, esclarece o responsável; o que existe são valores promovidos na Constituição portuguesa, como a igualdade de direitos de homens e mulheres ou questões «consensuais» na sociedade portuguesa.” Ah… se há consenso e a ciência subscreve, ficamos muito mais descansados, Duarte Gore Villar.
Apache, Junho de 2010

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Blá, blá, blá… (2)

Diz Mourinho: “Até tenho vergonha de ganhar o que ganho, com esta crise”. Não vejo o que o impede de pegar em 50% do seu ordenado e oferecê-lo a instituições de beneficência, ou melhor ainda, de investir o seu dinheiro na criação de emprego. A menos que Mourinho seja, apenas, mais um demagogo envergonhado.
Apache, Maio de 2010

domingo, 16 de maio de 2010

A responsabilidade dos irresponsáveis

“Hoje, [refere-se ao passado dia 11 de Março] mais uma vez, o ministro Teixeira dos Santos ousou utilizar a palavra "responsabilidade" perante o Parlamento e em referência a um partido da oposição. Sem que ninguém se escandalizasse. Sem que ninguém o chamasse à ordem. Se Teixeira dos Santos falou em nome do Partido Socialista, enganou-se: os partidos da oposição não respondem perante o partido do governo, mas sim perante os eleitores. Como o partido do governo, de resto. Se falou em nome do governo, também se enganou: não é o Parlamento que é responsável perante o governo, mas sim o governo perante o Parlamento. É espantoso que um órgão de soberania declare expressamente, poucos dias depois de tomar posse, que se reserva o direito de violar a seu bel-prazer os termos do mandato que o Soberano lhe conferiu. É espantoso ouvi-lo declarar que não presta contas a quem as deve porque tem que as prestar a quem as não deve: à Comissão Europeia, ao FMI, ao BCE, aos mercados, às agências de notação financeira, ao diabo a quatro. É espantoso que peça responsabilidade à oposição no preciso momento em que ele próprio se declara irresponsável. É espantoso que um governo não entenda que ao descartar a sua responsabilidade perante os eleitores está a abdicar da legitimidade que estes lhe conferiram. É espantoso. É lamentável. É vergonhoso. E é, isto sim, irresponsabilidade a sério.”
José Luís Sarmento, do blogue “As minhas leituras”

quinta-feira, 13 de maio de 2010

À deriva

“O primeiro-ministro anunciou no final de Conselho de Ministros de hoje as novas medidas para redução do défice do Estado, onde se cria uma taxa adicional de IRS de um a 1,5 por cento, e de IRC de 2,5 por cento, para as empresas com lucros acima de dois milhões de euros.” Não aumento os impostos. Aumento os impostos. Não aumento os impostos. Reduzo os impostos. Não aumento os impostos. Aumentos os impostos. Incoerente, eu? Não. Simplesmente um mentiroso, à deriva.
Apache, Maio de 2010

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Devido ao “aquecimento global”, o nível do mar pode subir 5 cm nos próximos mil anos

De acordo com um estudo publicado na semana passada, na Geophysical Research Letters, uma equipa de cientistas liderados por Andrew Shepherd da Universidade de Leeds (Reino Unido) concluiu que devido ao derretimento dos gelos flutuantes do Árctico e do Antárctico, o nível do mar pode subir 49 micrómetros por ano (sensivelmente, a espessura de um cabelo). O Princípio de Arquimedes permite concluir que a água resultante da fusão do gelo marinho ocupará o espaço deixado pelo gelo, não resultando daí qualquer alteração de volume. Mas a equipa liderada por Shepherd diz que não é bem assim, pois a água do mar é mais quente que o gelo e mais densa, devido ao sal, garantindo que a observação dos dados dos satélites e o uso de uma simulação de computador permitiram-lhe concluir pela subida do nível do mar, em 49 micrómetros por ano. Shepherd parece desconhecer três coisas importantes: a primeira é que os satélites não mostram (actualmente) uma diminuição do gelo marinho, como comprova a imagem de satélite abaixo, que mostra o gelo do árctico (ontem), sensivelmente no valor médio (representado pela linha preta);

[Clique na imagem para ampliar]

A segunda é que se a água do mar não fosse mais quente que o gelo este não derreteria (estariam ambos em equilíbrio térmico), no entanto, em volta do gelo, a água não será significativamente mais quente que ele e a máxima densidade (a que corresponde o menor volume para a mesma massa) da água é a 4 ºC, pelo que, se depois do gelo derretido, a água do local não ficar a temperatura superior a 4 ºC não há nenhum aumento de volume; A terceira é que as águas de superfície são menos salinas que as de profundidade, e próximo dos pólos, precisamente devido às grandes quantidades de gelo que derrete todas as Primaveras e Verões são praticamente doces. De qualquer forma, é interessante constatar-se que Al Gore começou a prever (há uma década) uma subida do nível do mar, de 6 metros, nos próximos cem anos, pelo que, o meio centímetro agora previsto por este estudo (4,9 centímetros, em mil anos), só pode ser encarado com um sorriso.

Apache, Maio de 2010

quinta-feira, 11 de março de 2010

Estratégias há muitas…

"Em 2000, a preocupação com a estagnação económica do continente levou a UE a elaborar um amplo sortido de políticas destinadas a transformar a Europa na "mais competitiva e dinâmica economia avançada do mundo". Ao conjunto de políticas chamou-se Estratégia de Lisboa e 2010 foi o ano previsto para a consagração plena dos seus objectivos. Ora bem, eis 2010 e dificilmente se pode dizer que o plano tenha sido um sucesso, pelo que seria de esperar dos senhores da UE um pedido de desculpas, uma retractação, um comunicado a reconhecer que, de facto, não sabem a quantas andam e vão procurar um ofício menos desadequado às suas capacidades do que a imitação suave de Estaline e a reforma dos povos por decreto. Em vez disso, porém, a título comemorativo a UE oferece-nos, adivinhem (rufar de tambores)... Acertaram em cheio: um novo plano ambicioso que irá "assegurar a saída da crise e preparar a economia da UE para a próxima década"! Ou seja, mais decretos, mais reformas, mais estalinismo doce, tudo embrulhado sob o delicado nome Estratégia Europa 2020. E como se processará essa maravilha? Nas palavras do presidente da Comissão, combatendo "de forma decisiva os nossos pontos fracos" e apostando "nos nossos pontos fortes". Até agora, pelos vistos, fez-se ao contrário. Mas o dr. Durão Barroso vai ao pormenor: "Temos de construir um novo modelo económico baseado no conhecimento, numa economia hipocarbónica [lindíssima expressão] e numa elevada taxa de emprego." Dito de diferente e igualmente bela maneira, a Estratégia Europa 2020 terá "três áreas prioritárias interdependentes": o crescimento "inteligente", o crescimento "sustentável" e o crescimento "inclusivo", por oposição aos crescimentos imbecil, intolerável e restrito que falharam rotundamente. Será possível suplantar tamanho caldo de dirigismo e conversa fiada? Acredito que sim. Daqui a dez anos, a constatação do fracasso da Estratégia 2020 produzirá sem dúvida outro infalível plano decenal, a não ser que entretanto a distância da realidade aos delírios de Bruxelas se alargue a ponto de, em 2020, não existir Europa de todo. Só estratégia, que é o que normalmente sobra sempre que as pessoas são desprezadas em favor do gozo de mandar nelas."
Alberto Gonçalves, no “Diário de Notícias” da passada sexta-feira

terça-feira, 9 de março de 2010

Era para escolher?

Citando a “Lusa”, o “Diário de Notícias” de ontem informa que os prejuízos causados recentemente pelo mau tempo (que ascendem a mil e quinhentos milhões de euros) quase davam para pagar a terceira ponte sobre o Tejo, orçada (segundo a notícia) em mil e setecentos milhões de euros. Muitos argumentos se poderiam esgrimir sobre a utilidade e os custos dessa infra-estrutura, mas não é esta a discussão que nos propõem. O que nos apresentam é algo diferente, com o qual os mais distraídos nem sonhavam: a possibilidade de optarmos por um temporal ou uma ponte nova. Ok, para a próxima já sei o que escolher. E a velhota do 3º esquerdo, com quem me cruzei à hora do almoço, também. Manda dizer que está disposta a trocar a próxima chuvada por dois pares de cuecas novas e uma peúgas mais quentinhas.
Apache, Março de 2010

segunda-feira, 1 de março de 2010

Obrigadinho, Zé!

Num encontro com professores socialistas, o Primeiro-Ministro, José Sócrates, citado pelo jornal "Público" garantiu que “não há sucesso económico sem melhor educação.Esqueceu-se de definir o que entende por “sucesso económico” e por “educação”, assim, é impossível o contraditório e, falando sem nada se dizer vai-se passando por douto. Tecendo elogios à actual Ministra da Educação, enfatizou “o êxito político notável das negociações que conduziu com os sindicatos do sector para duas reformas essenciais. Subentende-se idêntico elogio aos sindicatos do sector, que conduziram com a ministra negociações para duas reformas essenciais. Essenciais, para eles (sindicatos, ministra e consequentemente Governo) porque os professores foram, uma vez mais, ignorados (para ser politicamente correcto). Em relação à avaliação dos docentes e ao estatuto da carreira disse que as “reformas começaram por ser controversas mas já estão interiorizadas e consensualizadas.” Interiorizadas foram-no, seguramente, como comprovam as (ainda na memória) manifestações de 100 e 120 mil docentes. Quanto ao “consenso” é uma expressão que está muito na moda aplicar, sempre que uma determinada ideia é alvo de forte e fundamentada contestação e não há argumentos válidos para a defender. Obrigadinho pelo reconhecimento, Zé!
Apache, Março de 2010

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Mais um boy

«O filho dum amigo meu não acabou curso nenhum, deram-lhe o nono ano sem saber ler nem escrever, chamaram-no para uma tarefa sigilosa, forneceram-lhe um PC portátil e um e-mail confidencial, um telemóvel com cartão de pré-pagamento e disseram-lhe que quando lhe encomendassem tarefas, teria de obedecer. Pode trabalhar em casa, sem horários, recebe em dinheiro e não faz perguntas nem descontos. O rapaz anda feliz. Limita-se a reenviar mails e sms com comentários a artigos e notícias em jornais, e com ameaças aos destinatários que lhe indicam e que, viria ele a descobrir mais tarde, são os autores desses escritos. Há momentos em que há mais que fazer. Mas nos tempos mortos, fornecem-lhe historietas e anedotas para o rapaz distribuir pelos endereços electrónicos que lhe indicam, desacreditando uns e deixando boas impressões de outros. À observação de ser um erro não descontar para a segurança social, o filho do meu amigo diz que não é preciso. ”Deram-me um número de telefone e, se precisar de alguma coisa, alguém cuida de mim”. E se alguém pergunta o que faz na vida? ”Ora, digo que sou informático, ou que trabalho para o Estado, ou que sou consultor do Governo. Depende! É conforme! Mas eu gostava era de estar na equipa que escreve os textos”…»
Joaquim Letria, no jornal “24 horas” da passada quarta-feira

sábado, 6 de fevereiro de 2010

“O juízo final ou a falta dele”

“Quando, em Março ou Abril últimos, a gripe A chegou aos noticiários, previ aqui que os milhões de mortos anunciados resultariam em coisa nenhuma ou quase nenhuma. Não foi uma previsão arriscada. Se acertasse, cá estaria para lembrar "Eu não avisei?" Se falhasse, a carnificina teria sido tão vasta que os restos da humanidade andariam mais ocupados a enterrar cadáveres do que a confrontar as opiniões de humildes colunistas, entretanto também provavelmente falecidos por acção do H1N1. Numa altura em que a gripe A praticamente sumiu, em que o número das respectivas baixas anuais ronda os 3% das da gripe comum e em que distintas personalidades vêm aos bandos acusar a OMS de inventar uma falsa pandemia em prol das farmacêuticas, apraz-me cumprir um ritual e proclamar (ligeiro rufar de tambores, por favor): "Eu não avisei?" É evidente que os meus dotes premonitórios aproveitaram uma característica de todas as catástrofes anunciadas: não passam dos anúncios. Sempre que os responsáveis globais e caseiros pela saúde pública antecipam uma qualquer mortandade a pretexto dos porcos, das galinhas, das vacas e dos bichos que calham, é garantido tratar-se de histeria infundada. Com, vá lá, uma virtude: se não posso jurar que visem beneficiar a indústria farmacêutica, pelo menos as sucessivas histerias médicas revelam a sua falsidade em questão de meses. Muito piores, excepto para as indústrias que deles beneficiam, são os apocalipses a médio ou longo prazo, isto é, os que em vez de prometerem a desgraça para o inverno que vem, imitam as Testemunhas de Jeová e marcam o Julgamento para 2025 ou 2050, datas que adiam, ou no mínimo complicam, a confirmação da fraude. O exemplo clássico é o do "aquecimento global", que há anos influencia políticas e enriquece os pioneiros das "energias alternativas". Apenas recentemente se abriram brechas "mediáticas" no consenso de que a acção do homem arruinaria o clima em poucas décadas. Hoje, as sugestões de manipulação ou pura trafulhice nos dados "oficiais" tornam-se uma trivialidade entre os especialistas do ramo (há dias, foi o principal conselheiro científico do governo britânico a pedir "honestidade"; uns dias antes, fora o próprio organismo da ONU para o clima, o alarmista-mor IPCC, a reconhecer "erros grosseiros"). Tudo isto aconselha a desconfiar das instituições? Em parte. Mas a parte maior da desconfiança deve recair sobre a humanidade, que engole cada patranha com recorrência curiosa, para não dizer assustadora. "Uma mentira exige duas pessoas: uma para mentir, outra para escutar." O autor da frase é, claro, Homero, o dos "Simpsons" e não o da "Ilíada". O futuro está inteirinho nos clássicos.”
Alberto Gonçalves, no “Diário de Notícias” de 28 de Janeiro

sábado, 12 de dezembro de 2009

O “Aquecimento Global” e os Ciclones (2)

A comunicação social costuma difundir exaustivamente notícias de que nos últimos anos tem havido um aumento da intensidade dos ciclones. Tais notícias, não são corroboradas pelos factos, pelo contrário, o mundo real tem-se recusado a alinhar com as estapafúrdias teorias da moda. A demonstrá-lo deixo (de novo) um gráfico publicado pela Universidade da Florida, onde se representa a Energia Acumulada em todos os ciclones que existiram no planeta, desde que se iniciaram medições por satélite (em 1979), destes valores (Accumulated Cyclone Energy (ACE)). Como resulta evidente, nos últimos anos os ciclones têm vindo a diminuir a sua intensidade, sendo os valores registados este ano, os mais baixos desde que se efectuam este tipo de leituras. É portanto expectável que nos próximos anos, os ciclones se possam tornar mais violentos, não devido ao alegado “aquecimento global”, mas porque os níveis de energia actuais são de tal forma baixos que não há muito mais margem para reduções.

Apache, Dezembro de 2009

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Carta Aberta ao Presidente das Maldivas

Há, sensivelmente, um mês, o Governo das Maldivas reuniu-se debaixo de água, segundo noticiou a imprensa, com o objectivo de alertar para as consequências da subida do nível do mar resultante das alegadas “alterações climáticas”. No início deste século, uma equipa internacional esteve nas Maldivas a efectuar estudos que concluíram que o nível do mar na região permaneceu estável nos últimos 30 anos. O cientista que liderou essa equipa, indignado com a propaganda implícita na dita reunião de governo, escreve assim ao presidente Mohamed Nasheed: “Sr. Presidente, Realizou recentemente um Conselho de Ministros submarino de sensibilização para a ideia de que nível do mar está a subir e, portanto, ameaça submergir as Maldivas. Esta proposição não é fundada em factos observáveis nem em verdadeiros juízos científicos. É, portanto, incorrecta. Por isto, manifesto-me muito surpreendido com a sua acção, tendo redigido a presente carta como forma de protesto. Em 2001, quando o nosso grupo de investigação encontrou provas irrefutáveis de que o nível do mar não estava em crescimento nas Maldivas, pelo contrário, permaneceu bastante estável nos últimos 30 anos, eu pensei que não seria respeitoso para com o povo do arquipélago se voltasse para casa e apresentasse os resultados nas instâncias internacionais. Por isso, decidi anunciá-lo numa entrevista à emissora de TV local. No entanto, o seu antecessor no cargo censurou a notícia, interrompendo a transmissão. Quando o senhor se tornou presidente, esperei a democracia e o diálogo. No entanto, escrevi-lhe duas vezes, ambas sem resposta. O seu povo não deveria viver sob a constante ameaça de que não há futuro para eles nas suas próprias ilhas. Esta mensagem é profundamente inapropriada, uma vez que não é fundada na realidade mas sim num conceito importado, que carece de justificação científica, sendo, por isso, insustentável. Simplesmente não há base racional para ele. Deixe-me resumir alguns fatos (veja a figura junta e as provas apresentadas em Mörner, 2007):

A azul, o nível do mar nas Maldivas, nos últimos 500 anos. A cor-de-rosa, a estimativa máxima de subida até ao final do século.

(1) Nos últimos 2000 anos, o nível do mar apresentou 5 picos que oscilaram entre os 60 cm e 1,2 m acima do nível actual; (2) Entre 1790 e 1970 o nível do mar esteve cerca de 20 centímetros mais elevado do que hoje; (3) Na década de setenta, o mar baixou cerca de 20 centímetros, vindo a situar-se no nível actual; (4) O nível do mar manteve-se estável nos últimos 30 anos, o que significa que não se justifica qualquer alarmismo sobre a sua subida; (5) Assim, estamos em condições de libertar as Maldivas (e as restantes ilhas e costas de baixa cota, mundo fora) da condenação de se verem alagadas, num futuro próximo. Quando eu era presidente da Comissão INQUA sobre “Alterações do Nível do Mar e Evolução Costeira” (1999-2003), despendemos bastante esforço nesta questão das alterações futuras do nível do mar. Após estudos de campo intensivos e discussões em cinco reuniões internacionais, a Comissão concluiu que no máximo, a subida esperada até ao ano de 2100 é de 5 centímetros, com uma margem de erro de ±15 centímetros (conforme indicado na figura apresentada). Tais mudanças implicam efeitos pequenos ou insignificantes. Na figura podemos ver que o tal pequeno aumento não traria nenhuma ameaça para as Maldivas. Quando muito, tal subida corresponderia a um retorno às condições naturais existentes entre 1790 e 1970, ou seja, o mar retomaria a posição antes do abaixamento verificado nos anos setenta. Aplica-se aqui a mesma história sem senso, repetida para várias outras áreas do globo, de que o nível do mar está a subir e que já há enchentes a ocorrerem: Tuvalu, Vanuatu e Veneza (Mörner, 2007b). Convém referir que, a tendência global resultante dos dados obtidos pelos altímetros dos satélites sofreu uma correcção manual para que pudesse revelar uma tendência crescente (Mörner, 2008), que na realidade nunca foi medida. Portanto, Sr. Presidente, quando você ignora os factos disponíveis, se recusa ao normal diálogo democrático, e continua a ameaçar o seu povo com um imaginário de enchentes já em andamento, acho que está a cometer um grave erro. Vamos ser construtivos. Vamos discutir os factos observáveis. Vamos continuar e alargar os nossos estudos do nível do mar para outros locais no enorme atol das Maldivas. E deixe-nos, pelo amor de Deus, levantar o fardo psicológico terrível que você e o seu antecessor colocaram sobre os ombros de todo o povo das Maldivas, que vivem agora com a ameaça imaginária que as inundações em breve os expulsarão de suas casas, porque isto mais não é senão uma ficção de poltrona, artificialmente construída por um simples programa de computador cujos resultados, se têm constantemente provado estarem errados, por meticulosas observações do mundo real. A reunião que efectuou, sob as águas, não é senão um artifício ou uma acrobacia política. Al Gore é um mestre nestas fantasias baratas. Mas estas condutas são desonestas, improdutivas e, acima de tudo, não científicas.

Estocolmo, Suécia, 20 de Outubro de 2009

Nils-Axel Mörner Chefe de Paleogeofísica e Geodinâmica da Universidade de Estocolmo, Suécia (1991-2005) Presidente da Comissão INQUA sobre “Alterações do Nível do Mar e Evolução Costeira” (1999-2003) Líder do “Projecto Nível do Mar nas Maldivas” (desde 2000) Presidente do projecto INTAS sobre “Geomagnetismo e Clima” (1997-2003) Premiado com a medalha de ouro de Mérito da Universidade do Algarve (2008) "pela sua irreverência e contribuição para nossa compreensão das alterações do nível do mar.” [Tradução minha]

Apache, Novembro de 2009

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Do “Prós e Contras” sobre a Gripe A (de 2 de Novembro)

Como já vem sendo habitual neste programa, cerca de duas horas de pseudodebate sobre a “Gripe A” e respectiva vacina, pouco contribuíram para a explicação das principais dúvidas, quer sobre o vírus em si, quer sobre a segurança e (principalmente) eficácia da vacina. As questões mais pertinentes sobre o tema (quer prévias, quer resultantes das intervenções atabalhoadas de alguns convidados), não chegaram sequer a ser colocadas, a saber: Que diferença (concreta) existe entre o vírus H1N1 da “Gripe A” e o vírus H1N1 do tipo A da “Gripe Sazonal”? Ou se preferirem, quantos vírus H1N1 diferentes estão actualmente em circulação? Francisco George, Director-Geral da Saúde afirmou no início do debate [link para a 1ª parte do programa] que a ordem para fabricação de vacinas para o hemisfério norte é dada em Fevereiro. Como foi possível dar ordem em Fevereiro para a elaboração de uma vacina contra a “Gripe A” se o vírus foi identificado (segundo palavras do próprio) em Atlanta, a 7 de Abril? E por que é que o mesmo Francisco George afirmou há dias, no programa “Diga lá excelência” que esta vacina estava a ser preparada pela Novartis desde 2001, quando a estirpe comum às três vacinas disponíveis na Europa (da Glaxo (em Portugal), da Novartis e da Baxter) é a Califórnia/7 de 2009? Quem sofre a mutação mais rápida, o H1N1 ou o neurónio de Francisco George? Uma vez que parte significativa da histeria em volta da “Gripe A” resulta das estatísticas do número de infectados e do número de vítimas mortais, importa esclarecer se esse número se refere a infecções com o H1N1 da “Gripe A” ou se inclui também os infectados com H1N1 da “Gripe Sazonal”? Ou será que os testes efectuados não permitem distinguir os dois?
Sabendo-se que em vários países do hemisfério Norte, o vírus gripal actualmente mais activo é o H3N2, por que não são efectuados testes e divulgadas estatísticas sobre o número de infectados por cada estirpe de vírus? Havendo constante mutação dos vírus da gripe por que é que a vacina da “Gripe Sazonal”, colocada este ano no mercado, contém duas estirpes de vírus do tipo A, H1N1 e H3N2, de 2007, respectivamente a Brisbane/59 e a Brisbane/10, as mesmas do ano passado? O representante do Infarmed referiu que a necessidade de adjuvante [link para a 2ª parte do programa] na vacina da “Gripe A” se prende com a falta de vírus para produzir tantas vacinas. Falta de vírus, com tantas centenas de milhar de infectados? E o cultivo em laboratório? Um dos três fabricantes produziu a vacina sem adjuvante, terá o monopólio da reprodução dos vírus? Por que se insiste tanto na distinção entre esta “Gripe A” e a “Gripe Sazonal" quando a OMS, para o hemisfério Sul, para 2010, recomenda para a vacina da “Gripe Sazonal” as estirpes A: H1N1 Califórnia/7/2009 (que agora faz parte da vacina da “Gripe A”) e H3N2 Perth/16/2009; e a estirpe B Brisbane/60/2008 (a mesma deste ano)? O H1N1 Califórnia/7/2009, este ano é da “Gripe A” mas para o ano é da “Gripe Sazonal”? Que probabilidade tem, de não contrair gripe (neste Outono/Inverno), alguém que seja vacinado com os dois tipos de vacina existentes no mercado (“Gripe A” contra o H1N1 (do tipo A) e “Gripe Sazonal” contra o H1N1, o H3N2 (ambos do tipo A) e uma estirpe do tipo B) se só do tipo A se conhecem 144 estirpes diferentes (numeradas de H1 a H16 e de N1 a N9) e a acreditar nas palavras dos responsáveis, há vários vírus diferentes dentro de cada estirpe?
Apache, Novembro de 2009

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Uma aventura no Ministério da Educação

Depois de na passada quinta-feira termos ficado a saber que a nova Ministra da Educação é a coordenadora do Plano Nacional de Leitura, Maria Isabel Girão de Melo Veiga Vilar, conhecida como co-autora da colecção infantil “Uma Aventura”, pelo pseudónimo literário de Isabel Alçada, foram hoje tornados públicos os nomes dos dois secretários de estado que completam a equipa. A saber: José Alexandre da Rocha Ventura Silva (que Maria de Lurdes Rodrigues havia colocado à frente do Conselho Científico para a Avaliação de Professores, órgão que criou para lhe validar os devaneios avaliadores, também conhecido pelos seus estudos independentes, “parecidos” com os da OCDE) e João José Trocado da Mata (“ex-criado” de dona Lurdes no ISCTE, actual Director-Geral do Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação e Coordenador do Plano Tecnológico da Educação). Por comparação aos anteriores inquilinos da “5 de Outubro”, o ministério fica a ganhar na embalagem, sobretudo na qualidade dos fatos e dos perfumes e na linguagem melosa, mas quanto ao conteúdo, espera-se o mesmo cinismo, a mesma hipocrisia, a mesma falta de conhecimento do terreno, a total ausência de ideias válidas. Particularmente no que respeita à líder da equipa, não só, não cultivo grandes ilusões, como, na generalidade, subscrevo o que Santana Castilho (bem ao seu estilo) escreveu no Público de ontem.
“Aqui me têm como sou, dizendo aos que têm a generosidade de me ler o que me vai na alma. Não sou hipócrita nem cultivo falsos respeitos. Se vejo claro o que aí vem, por que insípida postura me iria escudar em convenientes benefícios de dúvida? Qual benefício para quem afirmou, com sorriso de leste a oeste, à espera dos aplausos da plateia, dar o seu “inteiro apoio à política educativa que tem vindo a ser seguida” e considerar “que é importante a prossecução e aprofundamento do trabalho que tem vindo a ser realizado”? Esta é a segunda referência escrita que faço à actual ministra da Educação. A anterior já me valeu 3 mimos: inconveniente, radical e extremista. Assim seja. Sou inconveniente para os dissimulados e radical para os que se especializaram em protelar. Aceito o extremismo. Mas mais extremistas que eu são os que atacaram extremamente os professores, a escola pública e o ensino sério. E esses vão continuar, enquanto não se lhes responder de forma extremamente resoluta. De Isabel Alçada conheciam-se meia centena de livros de fantasias para crianças. Mas nenhuma ideia expressa sobre Educação, para adulto ler. Hoje já temos 3 discursos políticos, bem recentes, e um quadro de comunicação não verbal, que só escapa aos incautos. Tudo visto, são discursos que revelaram uma organização de ideias confrangedora, recheados dos clichés repetidos ad nauseam durante os últimos 4 anos, medíocres do ponto de vista da semântica e da construção frásica, onde os erros de concordância surpreendem. Ficou-lhe mal elogiar tanto o seu Plano Nacional de Leitura. Esse e o da Matemática. Os planos nacionais são expedientes a que se recorre quando as primeiras instâncias falham e não se sabe corrigir o que está mal. Custam muito dinheiro, jogado em cima do que já existe para obter os mesmos resultados. No caso da leitura, o plano sucedeu a anos a menosprezar o ensino do Português, a substituir os clássicos por panfletos de cordel e a tornar a gramática para crianças numa charada de linguistas. No que toca à Matemática, entregou-se a concepção e a execução do plano aos que tinham sido apontados como responsáveis pela situação que o mesmo se propunha corrigir. Sem mais! Esta é a sinopse do verdadeiro contexto de elogios ocos. Ficou-lhe mal dizer que o Magalhães e o plano tecnológico nos tinham colocado na primeira linha do desenvolvimento. São tiques de deslumbramento terceiro-mundista, sem credibilidade, que minam o desejável recato de qualquer começo. Ficou-lhe mal a alusão encomiástica às novas oportunidades e ao ensino profissional. Os professores sabem que, descontadas poucas situações de funcionamento sério, uma e outra iniciativa são farsas e manipulações grosseiras das pessoas e das instituições. Ficou-lhe muito mal a protecção que deu à clausura das crianças na escola, de sol a sol, e a cobertura que não regateou à moderna escravização administrativa dos docentes. Foi-lhe desfavorável a versão, inverosímil, segundo a qual o convite e a aceitação surgiram momentos após a sua declaração pública em contrário e escassas horas antes do anúncio oficial. Aceitaram os que acreditam no Pai Natal. Numa palavra, fez o suficiente para que nenhum professor prudente acredite nela. Para início e em tão pouco tempo, pior seria difícil. Não espanta que Isabel Alçada seja ministra sem anteriormente ter sentido necessidade de dizer o que pensa do sistema educativo. Sócrates pensará por ela. Lurdes Rodrigues já pensou por ela. Aliás, no fim da cerimónia de remodelação governamental, a agora ex-ministra foi profética quando sublinhou, repetidas vezes, com o cinismo que a caracteriza, a sua muita confiança no novo governo. Os mais atentos sabem que tem razão, porque Isabel Alçada não tem identidade política. Melosa e sorridente, foi alistada para continuar a contar histórias, agora aos professores. Da política tratará Sócrates, Silva Pereira, Santos Silva e Francisco Assis. Fala-se muito no poder da Assembleia da República para corrigir os erros de política educativa da anterior legislatura. Mas desvaloriza-se, nessa fé, a circunstância de Sócrates não os reconhecer. Desvaloriza-se, nessa compreensível ânsia de sacudir um jugo de 4 anos, que uma coisa é a cavalgada fácil do descontentamento generalizado, para colher votos, outra é entender a importância estratégica da Educação. Como tal, a realidade mostra que os partidos, todos os partidos, a ignoram. Imediatamente após ter sido indigitado primeiro-ministro, Sócrates assumiu, para espanto dos sensatos, que tanto lhe dava uma coligação com o PSD, como com o PCP, CDS ou BE. Revelou assim, sem delongas, a ideologia do PS que lidera e a manhosice que porá na navegação táctica que se segue. Na peugada, aliás, recordo-o para os de memória curta, de Soares e Guterres: o primeiro meteu rapidamente o socialismo na gaveta, para governar com o CDS; o segundo trocou sem rebuços a coerência política por umas fatias de queijo Limiano. Com este pano de fundo, espera-nos uma aventura de curvas à direita e contra-curvas à esquerda. No primeiro cruzamento, podemos ser surpreendidos por um paradoxo: para suspender tacticamente um modelo de avaliação do desempenho que já não existe, reforçaremos estrategicamente um poder que se instala sob a nossa ingenuidade. Não me entendem? Estejam atentos aos próximos capítulos!”
Apache, Outubro de 2009

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Quero uma bola de cristal igual à da Novartis

Em entrevista concedida ao programa “Diga lá Excelência”, da Rádio Renascença e do jornal Público, transmitido pela RTP2 no passado dia 23, Francisco George, Director-Geral da Saúde afirmou que sabiam [julgo que se refere aos dirigentes da DGS] que “uma nova epidemia de gripe ia acontecer”. Deduzia-se do diálogo mantido com as entrevistadoras (Joana Benárd da Costa e Romana Borja-Santos), que tamanha certeza não era mais que uma mera previsão baseada na periodicidade de epidemias passadas. Mas eis que, a certa altura da entrevista [concretamente aos 13:54 do vídeo] afirma: “A vacinação, para o vírus que veio a emergir, foi preparada mesmo antes da emergência do vírus. Em 2001 recebemos, na Direcção-Geral da Saúde (DGS), cientistas da Novartis que estavam a preparar a nova vacina.” Francisco George afirma assim, que a vacina destinada a prevenir a “Gripe A” (cujo plano de vacinação se inicia hoje) preparada a partir de vírus inactivados (do tipo H1N1) cujas primeiras infecções em humanos (de acordo com a OMS) foram detectadas em Abril do corrente ano, e que a revista Visão já havia noticiado (tal como referi) ter sido patenteada pela Baxter em 2007, afinal, estava a ser preparada pela Novartis (com o conhecimento da DGS) desde 2001.
Começou a ser preparada uma vacina, com o vírus causador da doença, oito anos antes do surgimento do dito? “Há coisas fantásticas, não há?!”
Apache, Outubro de 2009