quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

“Português Técnico” por Margarida Moreira

A Directora Regional de Educação do Norte (DREN), a tal senhora que acha que contar piadas sobre o Primeiro-Ministro é um acto grave de indisciplina, mas apontar uma arma de plástico a um professor para exigir uma classificação melhor é uma brincadeira de mau gosto, tem-se revelado uma verdadeira pioneira na escrita de uma nova língua que muitos designam por “Português Técnico”, por analogia àquela estranha língua que Sócrates exibiu, no texto enviado por fax, que lhe permitiu concluir a cadeira de “Inglês Técnico” na Universidade Independente. O texto que a seguir transcrevo é parte de um ofício que Margarida Moreira enviou às escolas há cerca de dois meses, com indicações sobre os procedimentos para aquisição do “Magalhães”. "O pagamento dos Magalhães, nos casos em que a isso os pais sejam obrigados, estão a receber informação por sms devendo, em todas, constar a entidade 11023." Na semana passada, devido às más condições climatéricas, A senhora DREN viu-se novamente confrontada com a necessidade de envio de outro ofício e escreveu (entre outras pérolas) isto: “Os perigos de intempérie, inusitados em alguns concelhos, estão circunscritos, no momento, à segurança na estrada dos nossos alunos (gelo).” Entusiasmado com a leitura daqueles que serão (provavelmente) os mais belos nacos de prosa desta nova língua, questiono-me se haverá algum curso de novas oportunidades que o comum mortal possa frequentar para conseguir escrever assim? Ou será esta uma competência restrita de alguns iluminados?!
Apache, Janeiro de 2009

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O Choque que parecia tecnológico afinal é térmico

Um testemunho na primeira pessoa
“Caros colegas, Como sabemos, dadas as condições físicas do edifício da nossa escola, esta (por muito que me custe dizer) é um barracão, ou um conjunto de barracões, de onde se salvam apenas umas quantas salas situadas no bloco/barracão central. Àqueles que, como eu, dão aulas nas oficinas e seus anexos aplica-se a expressão “o pessoal das barracas”. Até há poucos anos, as “barracas” eram espaços destinados sobretudo aos cursos de Artes, Mecânica e Electricidade, mas parece que agora calha a quase todos ter ali uma, duas ou mais horitas, seja em aula normal, apoio ou TOA. Desse pessoal faziam parte até há pouco tempo os colegas de Educação Física, que eram assim um misto de “pessoal das barracas” com “sem-abrigo”. Feitas as merecidas, embora bem tardias, obras nos ginásios, agora são apenas “sem-abrigo” a tempo parcial. Claro que deve haver aulas de Educação Física ao ar livre, mas por muito que o ar seja livre… a prática é feita no chão, e o chão dos pátios da nossa escola está vergonhoso e perigoso. No ano lectivo anterior, eu tinha 16 horas do meu horário numa das “barracas”, que é a Oficina de Artes Visuais; este ano “apenas” 11 horas. Nesse ano, cheguei a levar um termómetro para verificar a temperatura daquela oficina, enquanto uma colega levava outro para a Oficina de Mecânica. O meu, que verifiquei mais tarde ser pouco fiável, nunca desceu abaixo dos 12 graus; o dela chegou algumas vezes aos 9-10 graus. Temperaturas preocupantes, que faziam tremer o corpo e fazer doer músculos e articulações. Ora, acontece que na sexta-feira, 9 de Janeiro, decidi levar para aquelas oficinas um termómetro que tenho como fiável. Estive por ali entre as 9h e as 9h45m. Em ambas as salas registavam-se 6 graus. Para quem não sabe, 5-6 graus é a temperatura que está no interior dum frigorífico, na parte destinada aos legumes, iogurtes e ovos. Dali fui para a sala 7, gelado, como é de calcular, dar uma aula de Educação Visual a uma turma de 7º ano. A sala 7 é uma das mais frias do bloco/barracão central do edifício mas, como lá se registavam 13 graus, deu para sentir o corpo a aquecer, ou melhor, a descongelar. A seguir continuei na mesma sala mas com uma turma de 11º ano que, por acaso, vinha de 90 minutos passados na Oficina de Artes Visuais. Não vou registar as reacções e palavras de vários alunos, nem as propostas de insurreição vindas de alguns, opto apenas por referir que uma das alunas, pálida e a tremer, veio mostrar-me as mãos e disse: – Professor, olhe para as minhas mãos. Estive a trabalhar na OAV com luvas, e veja como estão. Não sinto estes dedos. Tinha os dedos mínimos brancos, sem sangue, por inteiro. Claro que aos alunos (duma turma com bom comportamento) apetecia tudo menos voltar a sentar-se. Andavam pela sala, mexiam-se e falavam como quem procura, de forma irracional, fazer qualquer coisa para “quebrar o gelo”. A vontade de se sentarem, mesmo numa sala com mais sete graus do que a anterior, não era nenhuma. Mas lá se sentaram e a aula acabou por decorrer normalmente, apesar do início tardio. Ultimamente, tem sido frequente dar aulas na OAV com boina ou gorro e cachecol. O mesmo fazem alunos e alunas, alguns também com luvas. Os dois aquecedores que estão na oficina produzem pouco mais calor do que um isqueiro. A 1m de distância, o ar que as ventoinhas empurram já chega frio. Às vezes acontece os alunos irem até ao pátio onde, por ventura, poderá estar mais um ou dois graus, sobretudo ao sol. Nós sabemos os para quês…, mas aí ficam duas perguntas nestes moldes: Para quê tantas caganças e vaidades dos nossos governantes com a distribuição dos Magalhães, se há tantas escolas e tantas salas de aula por onde passeiam e habitam ratos e baratas, onde chove, entra vento, cheira mal, faz frio ou calor impróprios para se ensinar e aprender com gosto e dignidade? Para quê tantas caganças e vaidades com o Magalhães, se falta aquecimento nas salas, se faltam vidros nas janelas, fechaduras nas portas, lâmpadas nos tectos, apagadores nos quadros e papel higiénico nas casas de banho? Apetece-me dizer “Vanitas vanitatum, et omnia vanitas”. “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade” é uma frase que, na Idade Média, aparecia escrita à entrada de misericórdias e de cemitérios. Por acaso, ou não, o pedaço de edifício mais antigo que subsiste de pé em Setúbal tem essa inscrição. Trata-se do Portal da Gafaria (hospital de leprosos) datado do séc. XIV. Será que é a sina de tantos de nós vivermos e trabalharmos (e morrermos) enleados nas teias de vaidades dos governantes e poderosos?”
António Moura Galrinho, Professor da Escola Secundária de Sebastião da Gama (Setúbal)

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Da entrega ou não dos Objectivos Individuais

Nos dois blogues mais frequentados, dedicados fundamentalmente a temas relacionados com a docência: “A educação do meu umbigo” do Paulo Guinote e “Profavaliação” do Ramiro Marques, tem-se debatido ultimamente a questão da obrigatoriedade ou não da entrega dos Objectivos Individuais (OI’s). Na minha opinião a polémica faz pouco sentido. Em nenhum diploma (dos vários produzidos pelo Ministério da Educação (ME)) se faz referência ao dever (ou à obrigatoriedade) de entrega dos OI’s, pelo que, dificilmente alguém considerará a sua não entrega como violação de um dever profissional, a menos que tal obrigatoriedade seja instituída, por escrito, pelo Presidente do Conselho Executivo (PCE) (ou Director) em Ordem de Serviço, devidamente numerada, datada e assinada, podendo assim, em caso de incumprimento, o PCE acusar o docente de violação dos deveres de zelo e de obediência. No entanto, não creio que a maioria dos PCE’s opte por este caminho. Esta atitude, no actual quadro legal, poderia conduzir a suspeição de usurpação de poderes (por tornar obrigatório algo que a lei não define como tal) e, violação dos procedimentos da avaliação de desempenho (por transgressão do disposto no nº1 do artigo 44º do Estatuto da Carreira Docente (Decreto-Lei nº 15/2007, de 19 de Janeiro, adiante designado ECD). Sendo assim, não vejo outra forma alternativa de os PCE’s cumprirem o Decreto Regulamentar nº 1-A/2009 (no que aos OI’s diz respeito) que não seja a simples comunicação aos docentes (na forma de informação) do calendário com os prazos de entrega dos OI’s e das fases do processo de avaliação. Os colegas que quiserem entregarão os OI’s e os restantes ignorarão a informação. Desta opção (repito) a lei não prevê consequências. Para que servem (no caso dos docentes) então os OI’s? A meu ver, para nada! Lurdes Rodrigues, uma socióloga do trabalho, quis transpor para as escolas um modelo de avaliação idêntico aos aplicados em algumas empresas, onde devido ao tipo de tarefas, o rendimento dos trabalhadores é facilmente quantificável. Não é o caso das tarefas docentes. Provavelmente, sabendo que este tipo de avaliação dificilmente seria aceite, quis mantê-la “parcialmente escondida”, no início da governação, quando em 2006 negociou o actual ECD com os sindicatos, evitando, desde logo, acesa polémica que pudesse sentenciá-la a um curto período de tutela. Só com a publicação do Decreto Regulamentar nº 2/2008 ficou clara a completa desadequação deste modelo à realidade educativa. Daí que a expressão “objectivos individuais” não apareça transcrita uma única vez em todo o texto do ECD. O acima citado nº 1 do artigo 44º deixa claras quais são as fases do processo de avaliação… “O processo de avaliação do desempenho compreende as seguintes fases: a) Preenchimento de uma ficha de avaliação pelo coordenador do departamento curricular ou do conselho de docentes respectivo; b) Preenchimento de uma ficha de avaliação pelo presidente do conselho executivo ou pelo director da escola ou agrupamento de escolas; c) Preenchimento pelo avaliado de uma ficha de auto-avaliação sobre os objectivos alcançados na sua prática profissional, na qual identificará a formação contínua realizada; d) Conferência e validação dos dados constantes da proposta de classificação, quando esta apresente as menções de Excelente, Muito bom e Insuficiente, pela comissão de coordenação da avaliação; e) Entrevista dos avaliadores com o avaliado para conhecimento da proposta de avaliação e apreciação do processo, em particular da ficha de auto-avaliação; f) Reunião conjunta dos avaliadores para atribuição da classificação final.” Os OI’s aparecem (pela primeira vez) referenciados no nº 1 do artigo 9º do DR 2/2008, onde se lê: “Os objectivos individuais são fixados, por acordo entre o avaliado e os avaliadores, através da apresentação de uma proposta do avaliado no início do período em avaliação (…)”. Ora, não fazendo eles parte das fases de avaliação, qual a utilidade da sua entrega no início do período em avaliação? Serão eles alvo de classificação? Uma vez mais encontramos a resposta no ECD. Atente-se no nº 3 do artigo 45º… “A classificação dos parâmetros definidos para a avaliação do desempenho deve atender a múltiplas fontes de dados através da recolha, durante o ano escolar, de todos os elementos relevantes de natureza informativa, designadamente: a) Relatórios certificativos de aproveitamento em acções de formação; b) Auto-avaliação; c) Observação de aulas; d) Análise de instrumentos de gestão curricular; e) Materiais pedagógicos desenvolvidos e utilizados; f) Instrumentos de avaliação pedagógica; g) Planificação das aulas e instrumentos de avaliação utilizados com os alunos.” Tal como referi no início, não há qualquer referência aos OI’s no ECD. Não encontro portanto qualquer obrigatoriedade nem sequer vantagem na sua entrega. A propósito desta e de outras “trapalhadas” do ME, relembro que os Decretos Regulamentares, que como o próprio nome sugere são regulamentos, não podem violar a legislação (leis e decretos-lei) que lhes é hierarquicamente superior. Recorde-se que constitui regra básica de resolução da conflitualidade entre diplomas, ‘lex superior derogat legi inferiori’ (lei superior afasta lei inferior).
Apache, Janeiro de 2009

sábado, 10 de janeiro de 2009

Procura-se

Algumas temperaturas (em graus Celsius) registadas às 2 horas (da madrugada) do dia 9 de Janeiro de 2009, em vários locais do centro e do sul de Portugal continental, na versão do Instituto de Meteorologia: Coimbra -1,1; Figueira da Foz -2,9; Leiria -1,7; Tomar -4,4; Santarém -1,3; Almada -2,9; Setúbal -3,4; Portel -4,4; Évora -2,6; Mértola -2,8; Castro Verde -3,3; Alcoutim -1,7; Portimão -2,4. Das 69 estações meteorológicas que apresentavam valores, 61 (88,4%) correspondiam a temperaturas inferiores a zero. Àquela hora, a cidade de Lisboa apresentava a temperatura mais elevada de todas as estações do continente com 2,9 ºC. Se alguém vir por aí o aquecimento global, por favor envie-o para cá. É urgente!
Apache, Janeiro de 2009

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

As maiores dívidas externas

Existem vários factores que nos podem levar a classificar como rico um dado país, o produto interno bruto, o nível de vida da sua população, a riqueza do subsolo, etc. É no entanto curioso verificarmos que muitos dos países que habitualmente apontamos como estando entre os mais ricos do mundo, estão no lote dos que apresentam as maiores dívidas externas. Nesta tabela que certamente muitos desdenhariam liderar, Portugal ocupa um lugar cimeiro. Somos o 19º em dívida absoluta e ocupamos o 15º lugar em valor ‘per capita’. Seremos um país rico? Deixo a lista dos vinte países com as maiores dívidas externas do mundo, em valor absoluto (dados da CIA reportados a 31 de Dezembro de 2007), na tabela da esquerda e por habitante (cálculo meu a partir dos valores anteriores, considerando a população em 31 de Julho de 2008), na da direita. Foram tidos em conta 203 países e regiões administrativas autónomas.

(Cliquem na imagem para ampliar)

Apache, Janeiro de 2009

sábado, 3 de janeiro de 2009

"O Monstro"

Ainda a propósito da avaliação de professores transcrevo mais uma opinião. Um texto com quase 40 dias mas ainda muito actual.
"A monstruosidade burocrática chamada de avaliação de professores criou nos últimos dias uma situação de braço de ferro entre o Ministério de Educação e os professores, sindicatos e outras associações de classe, difícil de sanar. Para além do impasse ser mais do que previsível, ele é também o culminar de várias perturbações legislativas, que este organismo tem vindo sucessivamente a despejar nas escolas. A tentativa para impor esta barafunda só seria possível neste país eternamente desgovernado pela partidocracia vigente e exposto a toda a espécie de aberrações saídas de interesses obscuros e de mentes perversas. A meu ver este sistema de avaliação não foi copiado do Chile de Salvador Allende, como alguns fazem crer, mas inventado num gabinete da 5 de Outubro, por alguns dos milhares de burocratas do Ministério e seus satélites, que precisam de apresentar trabalho para defender o lugar que ocupam de feição vitalícia até à reforma dourada. Pessoalmente não entendo porque é que os professores têm que ser avaliados, uma vez que são avaliadores por excelência. Como qualquer outro profissional deverão ser, isso sim, avaliados pela empresa onde trabalham: a escola ou outra instituição. Se não servem têm que procurar outra saída profissional. Também não percebo porque é que os professores são alvo desta avaliação politiqueira, num país onde existem tantos profissionais que nunca foram avaliados nem nunca o serão, muitos deles pertencentes ao aparelho do Estado. O melhor exemplo encontra-se nos gestores e detentores de cargos políticos, peritos em auferir salários milionários e escandalosos e em oferecer milhões saídos do nosso bolso, em troca de nada. Além disso, em Portugal os professores sempre foram avaliados, embora por um processo algo semelhante ao que agora querem impor revestido de uma enxurrada de papelada e reuniões infinitas, que não lhes permitem fazer o seu trabalho e ter uma vida familiar. Há quem se esqueça que os professores antes de ingressarem na profissão tiraram os seus cursos e a sua profissionalização, tendo sido depois sujeitos a todo o tipo de acções de formação, para além de estarem em permanente formação e em contacto com experiências e livros que precisam de ler. A razão que levou a eleger os professores como forma de propaganda do governo e bodes expiatórios do fracasso das reformas, encontra-se no facto de serem um grupo profissional dividido e fragilizado por divisões politiqueiras e sindicais. Nunca foram uma corporação e dificilmente conseguirão formar um lóbi capaz de impor uma equipa ministerial que servisse o país, papel que foi deixado a universitários que nada conhecem do sector. Compare-se os modelos de avaliação vigentes nos países onde estes existem e chegar-se-á a conclusão de que por cá apenas se pretende poupar uns cobres com uma classe, que face a outros países já é bastante mal paga. Poupa-se nos professores e nas escolas, mas os cofres estão cheios de milhões para distribuir pelos bancos que têm afundado a economia e gastar em despesismos eleitoralistas de caça ao voto. Os milhões que o ministério gasta em números teatrais propagandísticos do tipo «Magalhães», em estudos e em contratos com empresas clientelistas, poderiam ter sido destinados a melhorar os estabelecimentos escolares e em criar condições para um ensino saudável, num país que tanto necessita de formação para poder competir economicamente. Este governo e a sua politica criou nas escolas um péssimo ambiente de trabalho e um clima de perseguição, que fez fugir em poucos meses muitos dos professores mais capazes e experientes, que preferiram meter a reforma antecipada, pedir a exoneração ou simplesmente procurar outro meio de vida. Entretanto, nos últimos dias a ministra parece mais preocupada em dar entrevistas a jornais e televisões, o que não lhe augura um fim feliz a ela e ao seu insólito sistema. Isto depois das cedências pontuais feitas à última hora. Toda esta atmosfera de desestabilização das escolas vai fazer com que as famílias com posses continuem a pôr os filhos nas escolas privadas, que nos últimos anos se têm vindo a multiplicar pelo Algarve e pelo país, estabelecimentos onde os professores se dedicam exclusivamente a ensinar os seus alunos. Por estranho que seja, parece que serão estas escolas que irão salvar o que resta de algum ensino de qualidade que já tivemos."
José Rosa Sampaio, Professor e Escritor, em 28 de Novembro de 2008

"Da Prepotência"

"Em bom rigor, a democracia não existe. Nunca existiu. Se exceptuarmos o protótipo ateniense, com os seus escravos insolentes, o que existe e existiu desde então, sobretudo por influência romana, são diversos modos de tirania. Quer dizer, diferentes modalidades de exercício da prepotência. A saber: a prepotência exercida por um, ou despotismo; a prepotência exercida por vários, ou oligarquia; e a prepotência da turba, da multidão, ou oclocracia ("democracia", para o vulgo). Dito de outra maneira: a tirania pode ser, respectivamente, obtusa, difusa ou confusa. Em qualquer dos casos, um tipo decente, vertebrado, regra geral, está fodido."
Dragão, do blogue "Dragoscópio"

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Do bolo-rei ao pastel…

O Presidente da Republica (PR) que até há poucos meses parecia personagem meramente contemplativo da acção da máfia rosa, decidiu comprar uma guerrinha institucional a propósito do novo Estatuto dos Açores. Afirmou que tinha dúvidas da sua constitucionalidade. A grande sopeira rosa puxou da chinela e… reaprovou o documento. Para maior derrota de Cavaco, o (seu) PSD absteve-se na votação. Esta semana, à semelhança do que havia feito aquando do veto, o PR voltou a dirigir-se aos portugueses (via televisão). Fez um discurso retórico e vigoroso. Disse que esta lei continha “absurdos” e “ilegalidades”. Promulgou-a! Personificou o absurdo que evoca! Se queria promulgar a lei, porque a vetou, devolvendo-a ao Parlamento? Se contém ilegalidades (na sua interpretação), porque não a enviou para o Tribunal Constitucional? Acaso ter-se-á esquecido que jurou “defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa.” (número 3 do artigo 127º)? O ano de 2008 termina assim, com a certeza de que no Palácio de Belém já não mora ninguém. A mensagem de Ano Novo, que há algumas horas ecoou nas televisões portuguesas, da qual destaco esta pérola: “o futuro será 2009, mas também os anos que a seguir vierem”, não é do Presidente da República, “a man who does not exist”. Nos corredores de Belém, quando muito, ressoa a voz do fantasma de Lili Caneças.
Apache, Janeiro de 2008

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Previsões para 2009

Nada será assim tão mau que não possa piorar!
Feliz Ano Novo!
Apache, Janeiro de 2009

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

"Circunspecção de mau gosto" - Ricardo Araújo Pereira

"Julgo que a opinião da directora da DREN, Margarida Moreira, segundo a qual a ameaça a uma professora com uma arma de plástico foi uma brincadeira de mau gosto, é uma brincadeira de mau gosto. Mais uma vez se prova que a crítica de cinema é extremamente subjectiva. Eu também vi o filme no YouTube e não dei pela brincadeira de mau gosto. Vi dois ou três encapuzados rodearem uma professora e, enquanto um ergue os punhos e saltita junto dela, imitando um pugilista em combate, outro aponta-lhe uma arma e pergunta: «E agora, vai dar-me positiva ou não?» Na qualidade de apreciador de brincadeiras de mau gosto, fiquei bastante desapontado por não ter detectado esta, antes da ajuda de Margarida Moreira. Vejo-me então forçado a dizer, em defesa das brincadeiras de mau gosto, que, no meu entendimento, as brincadeiras de mau gosto têm duas características encantadoras: primeiro, são brincadeiras; segundo, são de mau gosto. Brincar é saudável, e o mau gosto tem sido muito subvalorizado. No entanto, aquilo que o filme captado na escola do Cerco mostra aproxima-se mais do crime do que da brincadeira. E os crimes, pensava eu, não são de bom-gosto nem de mau gosto. Para mim, estavam um pouco para além disso – o que é, aliás, uma das características encantadoras dos crimes. Se, como diz Margarida Moreira, o que se vê no vídeo se enquadra no âmbito da brincadeira de mau gosto, creio que acaba de se abrir todo um novo domínio de actividade para milhares de brincalhões que, até hoje, estavam convencidos, tal como eu, que o resultado de uma brincadeira é ligeiramente diferente do efeito que puxar de uma arma, mesmo falsa, no Bairro do Cerco, produz. O mais interessante é que Margarida Moreira, a mesma que agora vê uma brincadeira de mau gosto no que mais parece ser um delito, é a mesma que viu um delito no que mais parecia ser uma brincadeira de mau gosto. Trata-se da mesma directora que suspendeu o professor Fernando Charrua por, numa conversa privada, ele ter feito um comentário desagradável, ou até insultuoso, sobre o primeiro-ministro. Ora, eu não me dou com ninguém que tenha apontado uma arma de plástico a um professor, mas quase toda a gente que conheço já fez comentários desagradáveis, ou até insultuosos, sobre o primeiro-ministro. Se os primeiros são os brincalhões e os segundos os delinquentes, está claro que preciso de arranjar urgentemente novos amigos."
Ricardo Araújo Pereira, na "Visão"

domingo, 28 de dezembro de 2008

Brincadeiras…

No passado dia 18 de Dezembro, um grupo de alunos (ao que parece, três, com idades compreendidas entre os 17 e os 18 anos) da Escola Secundária do Cerco, na última aula de Psicologia do 1º período, apontaram uma pistola de plástico à professora, “ameaçando-a”, caso esta não lhes atribuísse a nota que pretendiam. Um dos alunos terá também simulado uma cena de pugilato. Entretanto e tal como começa a ser habitual, outro aluno filmou a peripécia com um telemóvel e colocou no YouTube. Sobre o assunto, personagens com responsabilidades em matéria de educação teceram os comentários que seguem:
“Foi uma brincadeira de muito mau gosto, que excedeu os limites do bom senso.” – Margarida Moreira, Directora Regional de Educação do Norte. “Aquilo foi resolvido na altura. Eles próprios acharam que tinham passado os limites e pediram desculpa à professora. Ela aceitou e tudo ficou por aí, tanto que [a professora] não fez qualquer participação.” – Lina Maria, Presidente da Associação de Pais. “Isto foi encomendado por quem quer neste momento a política de terra queimada nas escolas, nomeadamente os próprios sindicatos, que lhes interessa um caso destes.” – Manuel Valente, da Federação das Associações de Pais do Porto. “São 12 alunos normais e simpáticos, dos quais todos os professores gostam, e que se dão muito bem com a professora, que também é muito brincalhona. A decisão de abrir um inquérito disciplinar decorrerá assim do facto de o vídeo ter sido tornado público mais do que pelo episódio em si.” – Ludovina Costa, Presidente do Conselho Executivo do Agrupamento Vertical de Escolas do Cerco.
Antes de mais, se alguém tiver mais alguma baboseira para dizer, faça o favor, não se acanhe. Bom… Factos. Os alunos: Levantaram-se do lugar e dirigiram-se à professora “ameaçando-a”; Desobedeceram (várias vezes) à ordem para terminarem a brincadeira, persistindo continuadamente em comportamento incorrecto; Eram portadores de (pelo menos) um telemóvel, do qual fizeram uso para filmarem o acto de insubordinação; Tornaram públicas as imagens obtidas. Com estes comportamentos violaram nove deveres. A saber: as alíneas, c), d), e), f), g), i), o) e q), do artigo 15º e, o número 3 do artigo 17º, ambos, da Lei nº 3/2008, de 18 de Janeiro, que altera a Lei nº 30/2008, de 20 de Dezembro (Estatuto do Aluno). Que fez a professora da disciplina? Nada! Que fez a Presidente do Conselho Executivo (PCE)? Nada! Que fez a Directora Regional? Promoveu uma reunião com a PCE, os alunos envolvidos e os pais, da qual, ao que parece, resultou a abertura de um inquérito. Um inquérito? Alguém que me explique em que lei é que este tipo de “acção” está previsto, se faz favor… Se calhar, isto foi uma “brincadeira” contagiosa e agora, andamos todos na “brincadeira”… P.S. Ainda não se conseguiu apurar se na referida reunião (que ocorreu na passada 6ª feira, mais de uma semana depois dos incidentes) houve ou não distribuição de chá e bolachinhas, ou sumos e fatias de bolo-rei.
Apache, Dezembro de 2008

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

"Happy Christmas" - John Lennon

"So this is Christmas And what have you done Another year over And a new one just begun And so this is Christmas I hope you have fun The near and the dear ones The old and the young A very merry Christmas And a happy New Year Let's hope it's a good one Without any fear And so this is Christmas For weak and for strong For rich and the poor ones The war is so long And so happy Christmas For black and for white For yellow and red ones Let's stop all the fight A very merry Christmas And a happy New Year Let's hope it's a good one Without any fear And so this is Christmas And what have we done Another year over And a new one just begun And so happy Christmas I hope you have fun The near and the dear ones The old and the young A very merry Christmas And a happy New Year Let's hope it's a good one Without any fear And so this is Christmas And what have we done Another year over And a new one just begun"

[Uma das mais conhecidas músicas de Natal] John Lennon
Feliz Natal
Apache, Dezembro de 2008

“Climate Change” versus Ciência

Decorria em Poznan a recente cimeira da ONU sobre alterações climáticas, quando um grupo de 650 cientistas, de vários países, farto da propaganda oficial, produziu um relatório que enviou à comunicação social. Em Portugal, ou eu ando muito distraído, ou os jornalistas ignoraram-no. Aqui ficam algumas das frases desse relatório, lido no Senado dos Estados Unidos. [Tradução minha, obviamente] “O pânico gerado em torno do alegado aquecimento do planeta é o maior erro científico da História. Quando as pessoas começarem a perceber qual é a verdade vão ficar decepcionadas com a ciência e com os cientistas.” Kiminori Itoh, ex-colaborador do IPCC (Japão) “É uma mentira descarada dizer-se na comunicação social que apenas um pequeno grupo de cientistas não reconhece que há um aquecimento global antropogénico.” Stanley B. Goldenberg, investigador do Centro de Pesquisa de Ciclones da NOAA (EUA) “Mesmo que triplicássemos a actual concentração de dióxido de carbono, o impacto sobre o clima, se existisse, seria residual, o vapor de água e as nuvens sempre dominaram [em termos de efeito de estufa] o cenário global e assim continuará a ser.” Geoffrey G. Duffy, professor de Química da Universidade de Auckland (Nova Zelândia) “Quantos anos mais, deverá o planeta arrefecer, até que alguns percebam que ele não está a aquecer.” David Gee, professor de Geologia na Universidade de Uppsala (Suécia) O alarmismo em redor das alterações climáticas é um instrumento de controlo social e um pretexto para grandes negócios e batalhas políticas. Transformou-se numa ideologia e isso é preocupante.” José J. Delgado Domingos, professor jubilado do Instituto Superior Técnico (Portugal) “As emissões de dióxido de carbono não fazem absolutamente nenhuma diferença [no clima]. Todos os cientistas sabem disso, o problema é que ninguém lhes paga para o dizerem.” Takeda Kunihito, vice-reitor do Instituto de Investigação Científica e Tecnológica da Universidade de Chubu (Japão)
Apache, Dezembro de 2008

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Assinaturas há muitas...

A propósito de um abaixo-assinado com quase 70 mil assinaturas, que foi entregue ontem (segunda-feira) no Ministério da Educação, o Secretário de Estado, Jorge Pedreira proferiu as seguintes considerações: “Este abaixo-assinado vale o que vale. As circunstâncias em que foi recolhido permitiam que qualquer pessoa sem nenhuma identificação o preenchesse e enviasse aos sindicatos. Qualquer pessoa podia assinar na internet. Só era pedido um nome e uma escola. Mas não quero menosprezar a contestação que os sindicatos têm feito.” Senhor Secretário de Estado, Vossa Excelência sabe perfeitamente que mais de 130 mil docentes são contra o modelo de avaliação que o seu ministério quer impor, podia por isso ter-se referido ao aspecto meramente simbólico deste acto, pouco relevante face às recentes manifestações de rua e à greve do passado dia 3. Sabe ainda, por via disso, que a contestação não é dos sindicatos mas dos professores. Mas Vossa Senhoria é um humorista de primeira água. E, se outras competências não conseguir demonstrar, é justo que lhe reconheçamos a evidência desta. Pena é que os nossos impostos sirvam (antes) para lhe pagar o vencimento como governante, mas de futuro, entenderemos isso como um subsídio a um comediante de relevo. Acaso não quererá Vossa Primazia debruçar-se sobre o tema a que tece tão rocambolesco comentário e elaborar uma tese sobre o mesmo? Sugiro algo do tipo: “Didácticas da recolha e validação de assinaturas - Paradigma e praxis”. No ISCTE haveria seguramente "camaradas", verdes de inveja.
Apache, Dezembro de 2008

sábado, 20 de dezembro de 2008

Imagens Convenientes

Quando se pretende vender um produto, todos sabemos que parte do sucesso deste se deve à imagem que o vendedor (e/ou o produtor), dele consegue passar. Quando o produto é um filme, além do habitual ‘trailer’, também o cartaz assume primordial importância na publicitação da película. É portanto lógico, que tal como o filme, também o cartaz recorra as modernas técnicas de produção e edição de imagens, o mais apelativas possível. De facto, estamos na presença de uma obra de ficção, cuja possível semelhança com a realidade é mera coincidência. No entanto, quando o filme é classificado na categoria de documentário, temos tendência, algumas vezes por ingenuidade, outras por desatenção, a pensar que as imagens dele (película e cartazes) são reais. Algumas sê-lo-ão, certamente. Mas outras fizeram uso da tecnologia para melhor captarem a nossa atenção e reforçarem uma determinada ideia, sendo “apenas” ilustrações que pouco ou nada têm de real. A imagem que se segue é do cartaz que publicitou em Portugal o “documentário” de Al Gore, “An Inconvenient Truth”.

Parece-me uma imagem bastante bem escolhida porque não podendo ser uma imagem real (nunca ninguém viu o fumo saído de uma chaminé desenhar no ar uma espiral), nos deixa logo a indicação que o filme é uma obra de ficção. A grande desilusão é quando percebemos que parte do tempo de duração do mesmo é passado com o ex-vice-presidente americano a falar. Aí pensamos, porra, se eu soubesse que isto tinha tão poucos efeitos especiais e as piadas eram tão fraquinhas tinha ficado em casa a ler o Diário da República, que amiúde também dá para rir e na ‘net’ é gratuito.

Quanto à imagem seguinte, que não conhecia (foi-me enviada a meio da semana por ‘mail’, por um aluno) e ao que parece também é de um cartaz do mesmo filme, já me parece bastante criticável. É que, apesar do exagero dos fumos, passa por imagem real, sobretudo junto dos mais novos e pode por isso induzir a ideia de que o que se vê no filme são (tudo) imagens reais.

A propósito desta última imagem, perguntava-me então o aluno, porque é que umas vezes vemos o dióxido de carbono branco e outras, negro, à saída das chaminés das fábricas? A resposta é: nós não vemos o dióxido de carbono a sair das chaminés, tal como não o vemos a sair do nosso nariz. Para temperaturas superiores a -78,4 ºC ele é um gás incolor. Talvez a melhor maneira de o vermos seja olharmos para as bolhinhas incolores que sobem quando agitamos uma garrafa de água gaseificada. Os fumos que vemos saírem das chaminés das fábricas podem ter as mais variadas composições (em qualidade e quantidade), daí a multiplicidade de cores. Normalmente mais de 95% é água, que sendo incolor no estado líquido, adquire variadas cores, tal como acontece nas nuvens, devido a variações de pressão e temperatura e diferentes ângulos de incidência da luz solar.

Apache, Dezembro de 2008

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Sorria, você está a ser roubado…

E pior do que isso, eu também! Já aqui tinha referido (mais que uma vez) que em 2002, o preço médio do barril de petróleo foi de 66,21 euros. Nesse ano, o preço médio do litro de gasolina 95, no mercado nacional, foi de 0,91 € e o do gasóleo de 0,67 €. Há cerca de uma hora atrás, o petróleo cotava-se a 24,80 euros por barril (62,5% abaixo dos preços de 2002), enquanto o preço mais baixo do litro de gasolina 95, praticado em Portugal, era de 1 euro, na CEPSA de Valongo (10% acima do preço de 2002) e o do gasóleo era de 0,88 €, no Jumbo de Almada (31% mais que em 2002). P.S. Os preços do petróleo apresentados, referem-se ao crude de Nova Iorque. Os preços dos combustíveis foram recolhidos no ‘site’ “Mais gasolina”.
Apache, Dezembro de 2008

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

"Avaliação e mentira" - Desidério Murcho

“Há quem pense que a avaliação de professores imposta pelo Ministério da Educação visa melhorar o ensino, mas isto é falso. Pior: nem é por essa razão que os responsáveis ministeriais querem avaliar os professores. Pois se o fosse, a maneira mais óbvia de os avaliar, com menos custos e menos complicações processuais, seria através do tratamento estatístico dos resultados dos alunos em exames nacionais, cientificamente rigorosos e pedagogicamente lúcidos.
Há duas razões, oriundas de sectores diferentes do Ministério da Educação, que fazem os responsáveis insistir tanto na avaliação dos professores. Por um lado, a própria ministra afirmou desde que tomou posse que a situação no ensino era intolerável porque a um investimento crescente ao longo das décadas não tinha correspondido um aumento do sucesso escolar. Assim, as suas duas preocupações são diminuir custos e inventar um sucesso escolar de fantasia. Por isso, a avaliação dos professores tem, para a ministra, a finalidade única de poupar dinheiro, impedindo a muitos professores o acesso ao topo da carreira.
Por outro lado, muitos responsáveis educativos querem implantar nas escolas as suas ideias educativas pretensamente científicas. Estes responsáveis vêem então na avaliação uma maneira de impor aos professores os seus modelos pedagógicos positivistas. Neste caso, não se trata de desejar poupar dinheiro, mas apenas de uma crença lírica de que tais métodos são o segredo do sucesso escolar. Daí as grelhas infinitas, com itens absurdos, impondo um modelo pedagógico rígido e universal, quando o bom senso educativo nos diz que as estratégias educativas que funcionam com uma turma e numa escola, não funcionam com outra turma e noutra escola, não havendo receitas pedagógicas universais — excepto em estudos teóricos pretensamente científicos, alheados da realidade escolar.
Que a avaliação de professores nada tem a ver com a qualidade do ensino torna-se óbvio se pensarmos nos estudantes, directamente. Para um dado estudante, tanto faz que um professor seja titular ou não: se for mau, é mau, e nada mais há a fazer; acontece apenas que não chega supostamente ao topo da carreira. Mas continuará a contribuir para a falta de qualidade do ensino — e para o sucesso escolar de fachada, não reprovando alunos e dando notas elevadas, ao mesmo tempo que preenche fichas infinitas.
O que é relevante para um estudante é que o seu professor, titular ou não, seja competente. E isso significa duas coisas: dominar as matérias que tem de leccionar e saber dar aulas. Para dominar as matérias, tem de estudar, actualizar-se, rodear-se da melhor bibliografia da sua área; tem de ter curiosidade intelectual, hábitos de estudo e de raciocínio. Para saber dar aulas, tem de saber pôr-se do ponto de vista cognitivo, social e psicológico do estudante, e transmitir-lhe o gosto pelas matérias e pelas competências da sua área. Isto é o que conta para o estudante; é o que conta para a qualidade do ensino. O resto é uma mentira política."
Desidério Murcho, co-autor do blogue “De Rerum Natura”, no “Público” de hoje (16/11)

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Dos “insultos” no Barreiro e no Seixal…

De visita ontem ao Seixal, onde entregou diplomas aos alunos do Centro de Emprego e ao Barreiro, para a cerimónia de inauguração de novo material circulante na Linha do Sado, José Sócrates viu-se confrontado com manifestações populares que contestavam as políticas de saúde e de educação. No final das acções de propaganda, instado a comentar, o Primeiro-Ministro afirmou: “Já estou habituado. Ao fim de três anos e meio habituamo-nos. O Partido Comunista faz sempre isto com todos os Primeiros-Ministros socialistas, organiza manifestações para insultar políticos.” Ó Zé, tu já foste do PSD e agora lideras o Partido Socialista, mas, aqui para nós que ninguém nos está ‘a ouvir’, passas a vida a elogiar a capacidade mobilizadora dos comunistas. Não achas isso um bocadinho estranho? Será que lá bem no fundo não terás um fetiche pelo PC? Sócrates acrescentou depois: “Quem utiliza o insulto como arma política já perdeu, porque perdeu a razão. O insulto é a arma dos fracos.” Concordo, Zé. Sabes, os professores estão fartos de dizer isso à Lurdinhas, mas ela insiste em insultá-los, pá. Não te importas de lhe repetir estas sábias palavras no próximo Conselho de Ministros, se faz favor…
Apache, Dezembro de 2008

domingo, 14 de dezembro de 2008

“Chegou a hora da verdade"

Um texto que percorre os blogues de professores mas que pela qualidade da prosa vale a pena republicar. “A divisão da carreira é uma aberração injustificada por critérios válidos, que consentimos colectivamente, que sancionámos ao concorrer, massiva e, em muitos casos, acriticamente, abrindo caminho a este modelo de avaliação e às quotas. Nunca percebi por que razão os sindicatos a aconselharam. Mas isso agora não interessa, reconhecida a borrada ingénua, há que combatê-la. Pode tornar-se um pesadelo do passado. Até 11/12/2008, eu não descortinava como forçar e apressar o retrocesso. O ME deu-nos o pretexto para acabar com isto de vez. Com a birra esticada aos limites do surreal (cada vez que olho para MLR, vejo o ministro da informação do Saddam), iluminaram-nos. Agora, haja coerência com a gritaria. Quanto a mim, antes de garantir o fundamental já não é mais preciso sair à rua, as greves tornaram-se desnecessárias, podemos fazer isto mais barato. Já está tudo dito, o coro pode emudecer. Talvez falte ainda, acabar com a conversa de que os alunos saem prejudicados pelos professores. O que nos prescrevem está sendo inteiramente cumprido. A participação na rua ou nas marés empolgantes não revelam fibra. A incógnita está aqui. É um dado da equação mas a acção agora depende apenas da consciência individual de cada um. Se pusermos de lado o próprio umbigo e deixarmos de nos acocorar a catar migalhas de poder e de arregalar os olhos ao aceno de uns tostões, tomaremos as atitudes que se impõem. Se, finalmente em maior número, orientarmos as nossas vidas por outros princípios que não exclusivamente salvar a pele, passar entre os pingos da chuva sem ficar húmido, logo, logo, isto passa. Tentámos falar com calhaus, com caracóis, com sapos, fizeram o favor de nos dizer estrondosamente que é impossível. Então não vamos engolir mais, nem desperdiçar energia. Vamos deixá-los a coaxar e tratar de vez de defender a nossa vida colectiva, em silêncio, sem incomodar ninguém. Haja coerência, solidariedade e um pouquinho de coragem. Confio que a maior parte de nós vai comportar-se com dignidade. Afinal, até os ratos lutam pela sobrevivência, não sejamos “zecos”. Pela parte que me toca, já sei o que vou fazer e isso deixa-me sereno. Vivemos uma pós-democracia com falta de chá no berço (não sei como chamar a isto, democracia mínima em que o único direito é o voto e o voto é um cheque em branco, democracia regressiva, ditadura democrática, cilindraria financeira, sei lá), temos de acreditar, escolher o caminho e exigi-lo. Não requer estoicismo, apenas alguma abnegação, mas depois de tantos outros sacrifícios, de tanta calúnia, injúria, menosprezo, etc., já não dói. Se estivermos unidos não há imolação, não custa nada. Digo eu, que estou vacinado, antevi este filme a tempo e não entrei em cena desde o primeiro ‘take’. Não reivindico a humilhação de quem quer que seja, mas levar bofetada enerva-me, e parece-me inadmissível que os professores sejam auto-estrada para o deserto intelectual da plebe. Sem cobardia ardilosa, enunciem claramente o que pretendem e os portugueses que se pronunciem, não pretendam consegui-lo à custa de desconsideração, desprezo e servilismo, ainda por cima com a nossa conivência acéfala e amorfa ou subjugada. Já deviam ter percebido que assim não vingam. ‘Por qué no te callas’, oh grande timoneiro, cego da própria radiosa presunção? Chega! Assim, a educação, a da plebe, claro, fica embargada. Se queremos um país cordial, civil, com igualdade de oportunidades, temos aqui e agora o ensejo de o demonstrar. Expurguemos as nuvens mais negras deste céu pesado que nos desabou em cima, sem sinais de desanuviar. Podemos contribuir para escampar esta saraivada. Sejamos solidários, dignos e coerentes e podemos reaver a luz possível na conjuntura actual, o esgarrão que vai ensurdecendo os tímpanos mais sensíveis é exilado no Largo do Rato. No fim, todos, não só os professores, sairemos a ganhar, e não apenas eu, eu, eu, eu e meia dúzia de adesivos.”
Teodoro Manuel L. Vieira (Professor de Informática da Escola Secundária da Moita)
Apache, Dezembro de 2008

sábado, 13 de dezembro de 2008

Jaime Gama enganou-se a contar os votos?

Segundo noticia o “Expresso” na sua edição de hoje, o deputado do PSD e vice-presidente da Assembleia da República, Guilherme Silva, defende que a proposta do CDS-PP de suspensão do actual modelo de avaliação dos professores, votada em plenário no passado dia 5 de Dezembro, foi aprovada na primeira votação. Segundo Guilherme Silva, o anúncio de Jaime Gama (presidente da Assembleia), “enferma de lapso, pois em conformidade com as regras, a votação por bancadas pressupõe em cada grupo parlamentar a totalidade dos seus deputados, e só deduzem os votos contrários ao sentido de voto da bancada.” A ser assim, a proposta do CDS-PP, de suspensão da avaliação, foi aprovada com 115 votos a favor (todas as bancadas da oposição e seis votos da bancada parlamentar do PS), uma abstenção (também da bancada do PS) e 114 votos contra (todos socialistas). Colegas de Português, alguns senhores deputados precisam de umas aulas suplementares em matéria de interpretação de textos, falta identificar quem são.
Apache, Dezembro de 2008