sábado, 10 de outubro de 2009

“O verdadeiro vírus”

“Enquanto Luiz Felipe Scolari é requisitado em prol da campanha de vacinação, o bastonário da Ordem dos Médicos tenta evidenciar o "excesso de alarme" em volta da gripe A, que considera "uma doença banal e pouco letal". O dr. Pedro Nunes chegou um bocadinho atrasado. A acreditar no Expresso, para o bem e para o mal, os receios do H1N1 já alteraram os hábitos da população. Por um lado, lavamos as mãos com frequência; por outro, evitamos beijinhos e apertos de mão. Tradução: graças ao vírus, deixámos de ser um país de sebentos para nos tornarmos um país de malcriados. O mérito da evolução é discutível. Por mim, duvido que apertar uma mão infestada de microrganismos seja pior do que ficar de braço estendido perante um indivíduo que se recusa a cumprimentar civilizadamente o próximo. A primeira experiência aconteceu-me centenas de vezes, e não morri em nenhuma. Mas deve ser um embaraço mortal ver a saudação fraterna recusada por um boçal que vê em nós um foco de doenças. De qualquer maneira, o relevante em tudo isto nem é a gripe: é o empenho com que tantos abraçam as mais extraordinárias coisas a pretexto de motivos absurdos, vagos ou imaginários. Se as autoridades recomendassem que fizéssemos o pino ou empurrássemos um grão-de-bico com o nariz, essa gente acataria a sugestão com o zelo suplementar de quem encara o conselho como uma ordem e o seu cumprimento como um prazer. Talvez a explicação para o fenómeno esteja algures entre o gozo da obediência e a necessidade de integração, não sei. Sei que, além de tardias, as declarações do pobre bastonário são inúteis: dizer aos cidadãos que não se preocupem é muito menos apelativo do que convertê-los a um ritual colectivo amalucado, desde abolir o beijinho a vestir o banco do carro com o colete reflector, passando por correr a pedir o "cartão do cidadão" e por pendurar bandeirinhas nas janelas. A participação do sr. Scolari não é causal, e uma vacina contra o ridículo não é provável.”
Alberto Gonçalves, no “Diário de Notícias” da passada quinta-feira

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

“Há claramente um excesso de alarme e de zelo” em torno do H1N1

Numa entrevista dada à “Lusa” à margem da inauguração da nova sede distrital de Beja da Ordem dos Médicos (OM), Pedro Nunes, citado pelo jornal “i”, afirma que “há claramente um excesso de alarme e de zelo” em volta de algo que “não passa de uma gripe, uma doença banal, pouco letal”. Acrescentando que “o melhor contributo da Ordem dos Médicos é chamar a atenção dos médicos e, através deles, das pessoas, de que isto é uma doença banalíssima e que não é preciso andarmos todos assustados". Pecam por tardias as declarações do Bastonário da OM que há muito deveria ter criticado o alarmismo oficial. Não se percebe, no entanto, (a menos que razões económicas se sobreponham a valores éticos) porque concorda Pedro Nunes com o plano de vacinação que obedece a "consensos internacionais", sendo dever de Portugal se “integrar na comunidade internacional". Onde é que eu já ouvi falar de consensos ao som do tilintar do vil metal?
Apache, Outubro de 2009

terça-feira, 6 de outubro de 2009

"A Gaivota" - Amália Rodrigues

"Se uma gaivota viesse trazer-me o céu de Lisboa, no desenho que fizesse, nesse céu onde o olhar é uma asa que não voa, esmorece e cai no mar. Que perfeito coração no meu peito bateria, meu amor na tua mão, nessa mão onde cabia perfeito o meu coração. Se um português marinheiro, dos sete mares andarilho, fosse quem sabe o primeiro a contar-me o que inventasse, se um olhar de novo brilho no meu olhar se enlaçasse. Que perfeito coração no meu peito bateria, meu amor na tua mão, nessa mão onde cabia perfeito o meu coração. Se ao dizer adeus à vida as aves todas do céu, me dessem na despedida o teu olhar derradeiro, esse olhar que era só teu, amor que foste o primeiro. Que perfeito coração morreria no meu peito, meu amor na tua mão, nessa mão onde perfeito bateu o meu coração." Poema de Alexandre O'Neill com música de Alain Oulman, em jeito de homenagem à voz inconfundível de Amália Rodrigues (1 de Julho de 1920 – 6 de Outubro de 1999)

Apache, Outubro de 2009

O défice público ascende a 6,7% do PIB

O “Correio da Manhã”, do passado dia 22 de Setembro, anunciava que o défice público se situa "neste momento" em 8 712 milhões de euros (e agrava-se a cada dia que passa em 36 milhões de euros). Tal valor, corresponde a 6,7% do PIB. [Os últimos dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística (Julho de 2008 a Junho de 2009) apontam o valor do Produto Interno Bruto Nacional para os 129,3 mil milhões de euros.] Não sei se se recordam, mas em 2005 (ano em que o senhor “inginheiro” chegou a Primeiro-Ministro) Bruxelas validou um défice nacional de 6% do PIB. Pelo que, 4 anos depois, após o fecho de escolas e maternidades, o congelamento de salários da função pública, o aumento de impostos e, vários outros mimos, sistematicamente justificados pela necessidade de combater o défice, o melhor que este governo conseguiu fazer foi agravá-lo em 0,7%. Vamos ter calma que eles talvez ainda consigam… fazer pior.
Apache, Outubro de 2009

domingo, 4 de outubro de 2009

Portugal é dos piores exemplos na aplicação do “Processo de Bolonha”

Foi esta a ideia deixada pelo sociólogo, Boaventura Sousa Santos, professor catedrático da Universidade de Coimbra, que em entrevista dada na passada quinta-feira pôs o dedo (ainda que levemente) na ferida que “Bolonha” abriu no nosso sistema de ensino superior. Diz o professor: a descapitalização das universidades com reduções de 16% nos seus orçamentos está a “virar a investigação contra o ensino, como se se pudesse ensinar sem investigação”. Acrescentando que a culpa da má aplicação do “Processo” recai, não apenas na tutela, mas também em alguns professores universitários. “É preciso denunciar ao país que isto é um branqueamento de Bolonha e que se está a tentar fazer disto um «show off» quando na realidade é um problema que tem de ser ratado de uma forma muito mais corajosa”. Em minha opinião, o que se passa com “Bolonha” não é muito diferente do que nos últimos anos se tem passado com a esmagadora maioria das medidas tomadas pelos governos. Sob a capa de uma ideia com aspectos positivos, neste caso, a livre circulação de alunos pelas instituições do “espaço europeu” e o reconhecimento “automático” dos certificados (ainda que, em ambos os casos, discorde da sua extensão a todo o espaço comunitário), na realidade, o Processo de Bolonha é pouco mais que uma iniciativa que visa reduzir custos e combater o insucesso pela já “velha” política do facilitismo, há muito em voga no ensino básico e secundário. Com “Bolonha”, a generalidade dos cursos superiores perdeu carga horária; as licenciaturas passaram dos 5 anos (em média) de duração, para 3. Os mestrados, de 7 para 5. E os doutoramentos, antes nunca inferiores a 9 anos de estudos superiores, passaram agora para 7, constando que nalguns cursos e faculdades se podem tirar em 5 anos, saltando o mestrado. Portugal, tradicionalmente tido com um dos melhores sistemas de ensino, a nível europeu (e consequentemente mundial), graças às políticas educativas das últimas décadas, vê-se agora transformado, numa espécie de “Estados Unidos do Mediterrâneo”, onde, em termos de qualidade de ensino, apenas meia dúzia de faculdades e duas ou três dezenas de cursos resistem estoicamente aos alucinados de “Boston” (e não só) que pretendem substituir o ensino pela certificação, a cultura pelo ‘marketing’, a ciência pela adivinhação. Tal como no básico e secundário, também no superior, está (agora) aberta a Caixa de Pandora.
Apache, Outubro de 2009

sábado, 3 de outubro de 2009

H1N1´s há muitos…

Na Circular n.º 33/DSPCD, datada de 8 de Setembro de 2009, assinada por Francisco George, Director-Geral da Saúde, dirigida a “todos os médicos e enfermeiros”, lê-se: “A vacina contra a gripe sazonal não confere protecção contra o vírus da gripe A pandémica” [H1N1]. Mais abaixo, a mesma circular informa: “A OMS recomenda que, para a época de Inverno de 2009-2010 no Hemisfério Norte, as vacinas trivalentes contra a gripe, tenham a seguinte composição: Uma estirpe viral A (H1N1) idêntica a A/Brisbane/59/2007; Uma estirpe viral A (H3N2) idêntica a A/ Brisbane /10/2007; E uma estirpe viral B idêntica a B/Brisbane/60/2008.” [De facto, as 7 vacinas contra a gripe sazonal, postas à venda em Portugal, contêm todas esta composição]
Numa página portuguesa da farmacêutica “Roche” [consultada hoje, às 2:24] lê-se: “Dos 2 tipos de vírus clinicamente relevantes [A e B, pois os vírus do tipo C não provocam “doença clinicamente relevante”], o tipo A é o que sofre alterações mais profundas, motivo pelo que está frequentemente associado a epidemias e a pandemias de gripe. Em contraste, o vírus tipo B pode sofrer pequenas alterações antigénicas, contribuindo apenas para as epidemias de gripe.”
Vamos lá tentar perceber… A vacina da “gripe sazonal” protege contra 3 vírus, dois do tipo A, o H1N1e o H3N2 e, um do tipo B, mas não protege contra o vírus da “gripe A” (aqui designada pandémica) H1N1. O H1N1 da “gripe sazonal” é diferente do H1N1 da “gripe A”? Partindo do pressuposto que a resposta só pode ser, sim [em alternativa, o Dr. Francisco George tem muito que contar], então, trata-se de uma mutação (suponho que significativa), mantendo-se o nome do vírus. Mas, diz a Roche, os vírus do tipo A sofrem “alterações mais profundas” enquanto os do tipo B sofrem “pequenas alterações”. Então, porque é que está a ser vendida para 2009/2010 uma vacina com vírus (inactivados) do tipo B de 2008, e do tipo A de 2007? Não seria mais lógico substituir os H1N1 de 2007 pelos H1N1 de 2009? E já agora, se a cada mutação corresponde um vírus substancialmente diferente, sabendo nós que (só) os vírus do tipo A são 144 (numerados de H1 a H16 e de N1 a N9), considerando múltiplas mutações ao longo dos anos, teremos, provavelmente, em circulação, várias centenas (quiçá milhares) de vírus substancialmente diferentes. Então, para que queremos nós duas vacinas (a da “gripe sazonal” e a da gripe “pandémica”) que no conjunto protegem contra 4 dos alegados "milhares de tipos” de vírus existentes? Se um infecciologista, perdido na navegação, aportar aqui ao acampamento, agradece-se (antecipadamente) o esclarecimento das dúvidas.
Apache, Outubro de 2009

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

“Gato Fedorento” esmiúça a comunicação do Presidente da República

O vídeo abaixo, expressa a forma com o “Gato Fedorento” esmiuçou as declarações de Cavaco Silva, do passado dia 29 de Janeiro, no âmbito das alegadas escutas a “Belém”.

Apache, Outubro de 2009

terça-feira, 29 de setembro de 2009

"Abstenho-me do combate à abstenção"

“Os vídeos da Comissão Nacional de Eleições que pretendem convencer os jovens a votar são muito eficazes. O mais interessante é que não são eficazes a combater a abstenção, mas a transmitir aquilo que a CNE acha que é um jovem. Antes de mais nada, há que recordar que, se as pessoas são o antigo povo, os jovens são a antiga canalha. A canalha foi promovida a jovens, o povo foi despromovido a pessoas. Os partidos, que eram afáveis com o povo, são cerimoniosos com as pessoas. Mesmo correndo o risco de parecer a minha avó, vejo-me forçado a começar a próxima frase com a expressão "no meu tempo". No meu tempo (cá está), todos os cartazes e pichagens de parede tratavam o povo por tu. Até o CDS pedia, muito coloquialmente, "Vota CDS". Agora, até o PCP trata as pessoas com cerimónia, e não arrisca mais do que um educado "Vote PCP". O povo era da família - logo, tratava-se por tu, como fazem as famílias, com excepção das que residem em Cascais. O povo é só um, toda a gente sabe quem é. As pessoas são muitas, e os partidos não podem aspirar a conhecê-las todas. Daí não terem à-vontade para tratá-las por tu. Curiosamente, o mesmo não acontece com os chamados jovens. A política trata os jovens por tu, mas não por razões de familiaridade: um cãozito ou um gato não são tratados com reverência, e a CNE parece prezar os jovens como uma pessoa preza o seu animal de estimação: fazem umas habilidades giras, e às vezes parecem mesmo uma pessoa, mas continuam a ser um animal irracional. Os rapazes e raparigas que protagonizam os anúncios da CNE desempenham o papel de jovem na perfeição. Num dos vídeos, um jovem chega a uma boutique e, por não ter escolhido a roupa em tempo útil (aparentemente, no mundo deste jovem as pessoas têm um período específico para fazer a selecção da indumentária, passado o qual a escolha se torna irreversível), vê-se forçado a aceitar a escolha do alfaiate, que o obriga a trocar os andrajos que trazia por um fato e gravata. Ou seja, deixando o alfaiate escolher por ele, o miúdo ficou mais bem vestido. É possível que esta não seja a melhor forma de passar a mensagem "Não deixes que decidam por ti", o que me parece excelente. Pensando bem, a mensagem da CNE deteriora a democracia, na medida em que alerta as pessoas para o facto de os seus concidadãos não serem de fiar, e tomarem decisões que nos prejudicam. No entanto, o vídeo, na sua feliz incompetência, transmite a ideia contrária - que é, de facto, uma ideia admirável. Os partidos em que eu voto nunca ganharam uma eleição. Essa é, aliás, uma das razões pelas quais voto neles com tanto sossego. Significa isto que, mesmo tendo votado em todas as eleições, houve sempre alguém que decidiu por mim - o que é correctíssimo. Uma pessoa decidir o destino do país por nós, é ditadura; quando é a maioria que decide, isso chama-se democracia. Os outros sempre decidiram por mim, e ainda bem. Eu não quero carregar sozinho o fardo de decidir. Eu - e, sobretudo, Portugal - estamos muito melhor assim.”
Ricardo Araújo Pereira, na “Visão” de 17 de Setembro
Contrariamente ao Ricardo, em tempos, votei no partido vencedor. Tinha aproximadamente a idade destes jovens do vídeo da CNE. Serviu-me de lição.
Apache, Setembro de 2009

domingo, 27 de setembro de 2009

Está muita gente doente, no meu país

“Numa ruela de má fama
Faz negócio um charlatão
Vende perfumes de lama
Anéis de ouro a um tostão
Enriquece o charlatão.”

“É difícil ser honesto
É difícil de engolir
Quem não tem nada vai preso
Quem tem muito fica a rir.”

“Na ruela de má fama
O charlatão vive à larga,
Chegam-lhe toda a semana
Em camionetas de carga
Rezas doces, paga amarga.”

“Ainda espero ver alguém
Assumir que já andou
A roubar
A enganar o povo que acreditou.”

“Pergunto à gente que passa,
porque vai de olhos no chão?
Silêncio... é tudo o que tem
quem vive na servidão.”

“Senhor engenheiro
Dê-me um pouco de atenção
Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Não tenho eira nem beira
Mas ainda consigo ver
Quem anda na roubalheira
E quem me anda a foder.”

“Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.”

“Entre a rua e o país
Vai o passo de um anão
Vai o rei que ninguém quis
Vai o tiro dum canhão
E o trono é do charlatão.”

“Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça,
há sempre alguém que semeia,
canções no vento que passa.”

“Mesmo na noite mais triste,
em tempo de servidão,
há sempre alguém que resiste,
há sempre alguém que diz não!”
Apache, Setembro de 2009

sábado, 26 de setembro de 2009

Dia de reflexão…

[A brasileira, Patrícia Andrade]
Apache, Setembro de 2009

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Gato Fedorento - Esmiúça os sufrágios (21 de Setembro)

Com a conversa mantida com líder do Partido Comunista Português, Jerónimo de Sousa, fecha-se o ciclo de entrevistas aos dirigentes dos cinco maiores partidos, nesta nova série do “Gato Fedorento”.

Apache, Setembro de 2009

terça-feira, 22 de setembro de 2009

O Poeta é um Fingidor

Explorada a ideia, daria certamente um interessante cartaz de campanha. Assim houvesse engenho e arte.

[Captura de tela do programa “Gato Fedorento – Esmiúça os sufrágios” (episódio 6, de 21 de Setembro de 2009)]

Apache, Setembro de 2009

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

ANQ – Por cada milhão queimado, um analfabeto certificado!

A Agência Nacional para a Qualificação (ANQ) foi criada para promover, coordenar e acompanhar a implementação do programa “Novas Oportunidades”. Em apenas um ano, a ANQ, Instituto Público tutelado pelo Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social e pelo Ministério da Educação, “torrou” mais de 8 milhões e 700 mil euros, em ajustes directos, a maior parte dos quais (cerca de sete milhões e meio), em acções de marketing e publicidade (tais como: criação de filmes publicitários; impressão de folhetos, produção de pastas, sacos etc.; concepção desenvolvimento e tradução do ‘site’; participação em eventos…). Note-se que a verba mencionada, não inclui (obviamente) os elevados gastos com: os vencimentos dos funcionários da agência; os formadores; as despesas de funcionamento, quer dos serviços centrais do instituto, quer dos Centros Novas Oportunidades; etc. A título de exemplo do esbanjamento incontrolado de dinheiros públicos, veja-se a encomenda ao ex-ministro da educação, Roberto Carneiro (da Universidade Católica), de uma avaliação externa do “Novas Oportunidades”, que custou 297 900 euros (60 mil contos). Quase simultaneamente a outro (encomendado à ESE de Coimbra) sobre o impacto do aumento das qualificações dos adultos no sucesso escolar das crianças, no valor de 199 500 euros (40 mil contos). [Para confirmar todas as verbas gastas pela ANQ em ajustes directos, basta entrar na base de dados dos ajustes directos, digitar o NIF da entidade adjudicante – 508208327 – e clicar em pesquisar.] Com a iniciativa, “Novas Oportunidades”, sem acrescentar conhecimentos significativos aos formados, o estado gasta anualmente largas centenas de milhões de euros, para passar certificados de habilitações, a quem, na generalidade, não possui conhecimentos ou competências que o justifiquem minimamente.
Apache, Setembro de 2009

domingo, 20 de setembro de 2009

Gato Fedorento - Esmiúça os sufrágios (17 de Setembro)

Apesar da qualidade das entrevistas (finais) ter vindo a decair ao longo da semana, por questão de imparcialidade, deixo hoje a “conserva” mantida entre Ricardo Araújo Pereira e o dirigente do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã.

Apache, Setembro de 2009

sábado, 19 de setembro de 2009

Gato Fedorento - Esmiúça os sufrágios (16 de Setembro)

E porque aqui pelo acampamento somos tão imparciais que até chateia, fica a entrevista ao líder do CDS-PP, Paulo Portas.

Apache, Setembro de 2009

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Durão Barroso foi reeleito Presidente da Comissão Europeia

O português José Manuel Durão Barroso foi reeleito para mais um mandato de 5 anos à frente da comissão europeia. Diz-se por aí que isso é bom para Portugal e eu concordo. A esta altura estarão os mais críticos a pensar que Durão Barroso, no mandato que agora finda, pouco ou nada fez para defender os interesses de Portugal em Bruxelas, além de ser o idiota que denegriu a imagem do país naquela célebre cimeira dos Açores em vésperas do ataque americano ao Iraque (à época era Primeiro-Ministro). E gosta tanto de Portugal e da nossa língua que a sua página pessoal está traduzida em seis línguas (Inglês, Francês, Alemão, Espanhol, Italiano e Polaco) mas não na sua. De facto, estes argumentos são válidos e corroboram a minha opinião. A reeleição dele foi boa para Portugal, de outra forma não vejo grandes possibilidades de o manter tão longe do país, durante tanto tempo. P.S. A fotografia é uma oferta aos hipotéticos leitores. Imprimam, recortem e colem no açucareiro. Deve conseguir manter afastadas, as formigas.
Apache, Setembro de 2009

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Gato Fedorento - Esmiúça os sufrágios (15 de Setembro)

À semelhança de anteontem (com José Sócrates), deixo a entrevista de Ricardo Araújo Pereira à líder do PSD, Manuela Ferreira Leite.

Apache, Setembro de 2009

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Mais do mesmo

Um bom texto (que desta vez subscrevo) do José Costa e Silva (amiúde a milhas da minha linha de pensamento), do blogue “Lóbi do chá”. “Contra a monarquia instaurou-se uma república que vamos a ver e não passa de uma monarquia de partidos. Realizam-se eleições, é verdade, mas apenas para dar a ideia de que o povo escolhe alguma coisa. Na verdade, em vez do príncipe herdeiro há dois ou três militantes herdeiros, porque é do zimbório dos dois maiores partidos que sai o Rei – perdão, o Presidente. Aliás, constata-se que a República ocupa os palácios da Monarquia. Nem isso os republicanos conseguiram repudiar. O Presidente da República está comodamente instalado no Palácio de Belém a promulgar leis. Até a mais insignificante secretaria de Estado labuta nos antigos aposentos do primo do Rei. Mas se a República fosse república, os palácios, palacetes e palacinhos seriam do povo. Do povo e não dos seus chiques representantes, que vão muito melhor com aqueles edifícios envidraçados, modernos e inovadores como as cabeças dos políticos. E energeticamente eficientes como eles, até. Vem tudo isto a propósito dos dois pequenos partidos que apareceram contra os grandes partidos do poder, mas que são, afinal, iguais a eles, para além de serem iguais também entre si, o que é notável. Por exemplo, dizem que estão os dois ao centro. Consideram que há boas ideias à esquerda e boas ideias à direita. Boa ideia é a deles, porque pretendem ser o empadão que resulta da centrifugação dos tais partidos do poder. Lava-se muito bem o CDS, o PSD, o PS, a CDU e o Bloco, leva-se à Bimby e já está: um delicioso MEP, acompanhado por um suculento MMS. Lamentavelmente, porém, o empadão não está na moda e as travessas cheias de couves não sobrevivem na era do sushi. A mudança tem de começar fora do sistema, fora dos partidos (pequenos ou grandes) e fora do Parlamento. Quem quer reformar o país e a Constituição tem de mobilizar a sociedade, apelar à revolta serena e avançar para as ruas. Quem quer mudar alguma coisa tem de encher a fonte luminosa até que da lua se veja a vontade popular ditar as regras. Quem quer mudar alguma coisa não pode estar a lutar por um ou dois deputados, daqueles que ficam com a tensão baixa quando entram no hemiciclo e que atravessam a legislatura a sorrir para os lados. Não. A ambição de querer fazer diferente e melhor não está ao alcance daqueles cuja prioridade é imitar os outros.”
Apache, Setembro de 2009

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Gato Fedorento - Esmiúça os sufrágios (14 de Setembro)

Para quem não viu, deixo (do primeiro programa da nova série dos “Gato Fedorento”), a entrevista ao Primeiro-Ministro, José Sócrates.

Apache, Setembro de 2009

domingo, 13 de setembro de 2009

Uma escola suíça

«Klingnau é uma cidadezinha no Norte da Suíça. As escolas locais estão integradas num espaço verde, junto ao rio Aare, a poucos quilómetros da confluência deste com o Reno, que marca a fronteira com a Alemanha. Atravessada a zona onde se situam os campos de jogos e os edifícios mais antigos, e transposta uma ponte pedonal sobre um ribeiro, chega-se ao edifício principal - uma construção moderna, ampla e confortável. O rés-do-chão consiste numa zona ampla e num conjunto de gabinetes e salas de trabalho para o reitor e para os professores. À entrada estão os cabides e os suportes para os alunos deixarem os agasalhos e os sapatos. Mais ao fundo, uma mesa de bilhar, outra de pingue-pongue e alguns sofás. O facto de os alunos andarem obrigatoriamente descalços ou de chinelos de pano tem várias consequências positivas: para começar não estragam o revestimento do chão, que é caro e de boa qualidade; em segundo lugar, é mais difícil andarem aos pontapés às coisas ou uns aos outros; em terceiro lugar, é-lhes mais difícil, sobretudo no Inverno, abandonar sub-repticiamente as instalações da escola; e finalmente faz com que se sintam mais "em casa". Aos professores é dada mais latitude, mas a tendência é para não usarem na escola o mesmo calçado que usam na rua. E nunca vi, nem nesta escola, nem noutras, uma professora de saltos altos. Por trás do edifício, e prolongando-se até à margem do rio, há uma zona verde pertencente à escola. Entre esta zona e os espaços verdes que pertencem à cidade não há solução de continuidade: das janelas das salas de aula é frequente ver pessoas a passear os cães ou famílias a andar de bicicleta. Subindo do rés-do-chão para o andar onde se situam as salas de aula, passa-se pela sala de informática. Nesta escola dá-se o caso de os computadores serem todos da Apple, como noutra seriam de outra marca: assim o decidiu a escola, autonomamente. Na Suíça não há Ministério da Educação nem qualquer outra entidade central que negoceie os equipamentos com as empresas da sua preferência. Ao longo do corredor está uma representação à escala do Sistema Solar: num dos topos, um segmento de círculo, pintado a amarelo a toda a altura duma parede, representa o Sol; esferas suspensas do tecto representam os nove planetas. Na parede do corredor, uma vitrina com espécimes embalsamados de animais exóticos: escorpiões, tarântulas, aves de rapina. Cada sala tem a sua biblioteca de referência, organizada de acordo com as necessidades do professor responsável e dos alunos que lá têm aulas. Nas estantes ao fundo estão os manuais escolares dos alunos, que não são comprados pelas famílias nem dados pela escola: são emprestados no princípio de cada ano lectivo e devolvidos no fim, havendo lugar a pagamento apenas no caso de não se encontrarem em bom estado. Na minha havia, além disto, um retroprojector, um conjunto completo de mapas que se podiam fazer descer do tecto por meio dum mecanismo eléctrico: mapas políticos e físicos da Suíça, dos continentes europeu, americano, africano e asiático, e dos oceanos Índico e Pacífico. Nas paredes, uma fotografia de satélite do cantão de Aargau e dois posters com os peixes e as aves autóctones da região. À hora em que eu começava as minhas aulas - 15:30 ou 16:30, 13:00 às quartas - a escola já está deserta de professores, com excepção de algum que ainda por lá esteja a preparar o trabalho do dia seguinte. Mas não está deserta de alunos: todos têm acesso ao ginásio e aos campos de jogos, supervisionados apenas pelo “Hauswart” (porteiro ou administrador, traduzindo por grosso; mas a palavra em português não reflecte a importância desta personagem, cuja autoridade quase se iguala à do reitor). Alguns alunos mais velhos têm acesso sem supervisão a outras partes da escola, à sua responsabilidade e dos seus pais. O currículo inclui poucas disciplinas. Como língua materna, estuda-se o alemão-padrão, que é o da Alemanha. Os alunos chamam-lhe “Schrifttütsch”, ou "alemão escrito", por oposição ao “Schwytzertütch”, ou "alemão suíço", que é a língua que eles falam em casa. No ensino da língua materna é ainda frequente o recurso a cópias, ditados e redacções, e isto até ao equivalente do nosso 9º ano. Surpreendentemente, o francês e o italiano, que são as duas outras línguas oficiais da Suíça, raramente fazem parte do currículo por mais que um ano ou dois. O ensino do inglês inclui aqueles métodos tradicionais que em Portugal são “verboten”: gramática normativa, cadernos de significados, traduções, ditados e retroversões. Não há, obviamente, nada que se pareça com a disciplina de Técnicas de Informação e Comunicação de que os governantes portugueses tanto se orgulham. Não é que os suíços não reconheçam a importância de capacidades instrumentais como a que esta disciplina pretende desenvolver; é que entendem que estas capacidades se transmitem melhor no âmbito de disciplinas que são fins em si mesmas, como a língua materna e a matemática, e em resposta às necessidades específicas que surgem no trabalho com estas matérias. Com uma carga lectiva e curricular muito mais leve do que a que se verifica em Portugal, é possível ter turmas mais pequenas sem recrutar um número excessivo de professores. Além disso, na Suíça não há Ministério da Educação nem nenhuma outra estrutura central que ocupe milhares de "professores de gabinete", como os que em Portugal não dão aulas mas contam para a estatística. A ausência desta estrutura leva a que não haja uma teoria pedagógica oficial imposta a todas as escolas. O efeito de normalização deve-se a um consenso generalizado entre pais, professores e comunidades locais que resulta em escolas razoavelmente semelhantes entre si, e bastante mais "conservadoras" do que aquelas a que estamos habituados. Mas o contrário também se verifica: um pequeno número de escolas suíças segue teorias pedagógicas de vanguarda, algumas delas tão extremas que, comparado com elas, o "eduquês" parece prudente e conservador. Uma vez vieram ter comigo os pais de um aluno que tinha graves problemas de aprendizagem. Estavam a pensar pô-lo numa escola “Waldorf” (doutrina pedagógica baseada nas teorias antroposóficas de Rudolf Steiner). Apesar do meu extremo cepticismo em relação à antroposofia, não os desencorajei - e a verdade é que o miúdo começou a aprender melhor. Isto não me converteu à antroposofia, longe disso - mas ensinou-me que qualquer pedagogia funciona se a expectativa do aluno, dos pais e dos professores for que ela funcione. E talvez nenhuma funcione na falta desta expectativa. Se assim for, então nenhuma pedagogia oficial pode funcionar - porque as pessoas têm expectativas diferentes. E consequentemente os Ministros da Educação são como as traduções: mesmo quando são bons, são maus.»
José Luís Sarmento, no blogue “As minhas leituras