sábado, 20 de fevereiro de 2010

Os “camaradas papagaio”…

Há quem pense que a “cassete” é propriedade exclusiva da esquerda. Santa Ingenuidade. A “cassete” é típica da generalidade dos angariadores de adeptos (seja de causas políticas, religiosas, etc.) e dos vendedores (sejam eles de bens, de serviços, ou de ideias). Os camaradas papagaio (reprodutores incansáveis da “cassete”) mais mediáticos são, na sua maioria, políticos e comentadores políticos que ocupam a totalidade do espectro partidário, mas também abundam nas ciências sociais (principalmente na economia) e, pasme-se começam a proliferar que nem cogumelos nas ciências exactas. Têm uma característica comum, são (como diria a outra) “fraquinhos no discernimento” mas, apesar disso, ou talvez por isso, são muito úteis aos interesses instalados. O José Luís Sarmento, autor do blogue “As minhas leituras” traça (pela transcrição da “cassete” do “rigor salarial”) um fidelíssimo retrato de um “camarada papagaio”. “Se há perigo de inflação, é preciso conter os salários. Se há perigo de deflação, é preciso conter os salários. Se a crise é económica, é preciso conter os salários. Se a crise é financeira, é preciso conter os salários. Se não estamos em crise, é preciso aproveitar para melhorar a competitividade - e portanto conter os salários. Se o défice das contas do Estado está alto, é preciso conter os salários. Se o défice das contas do Estado está baixo, é preciso não entrar em euforia - e conter os salários, claro está. Se o desemprego está alto, é preciso encorajar as empresas a empregar mais gente - o que só se consegue contendo os salários. Se o desemprego está baixo, os salários tendem a subir - e portanto contê-los é mais necessário que nunca. Finalmente percebi. Não vale a pena perguntar em que circunstâncias é que os salários podem aumentar: a resposta politicamente responsável e tecnicamente rigorosa é que não podem aumentar em circunstâncias nenhumas.”
Apache, Fevereiro de 2009

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

“Liberdade de pressão”

“É uma questão que tem sido colocada várias vezes: a internet vai acabar com os jornais? Finalmente, temos a resposta: só se José Sócrates não acabar com eles primeiro. O primeiro-ministro tentou controlar o défice e não conseguiu, tentou controlar o desemprego e não conseguiu, tentou controlar a comunicação social e esteve perto de conseguir. Acaba por ser justo que o plano tenha falhado. Era o que faltava que Sócrates fosse eficaz no que lhe interessa e ineficaz no que interessa ao País. Este caso tem essa dimensão muito reconfortante: ora até que enfim que o primeiro-ministro sofre com a inabilidade política do primeiro-ministro. Apesar disso, todos gostaríamos que José Sócrates colocasse nos assuntos do Estado o mesmo empenho que coloca nos seus assuntos. Que, em vez de Mário Crespo, o desemprego fosse um problema que teria de ser solucionado. Que, em lugar de uma operação financeira para adquirir a TVI, se empenhasse numa operação financeira para reduzir o défice. Talvez falhasse na mesma, mas ficaríamos com a sensação de que teria feito um esforço maior…”
Ricardo Araújo Pereira, na “Visão” do passado dia 11

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Mais uma prova...

“Sempre que escrevo sobre o "aquecimento global", e reconheço que o faço com frequência e com o cepticismo que as aspas sugerem, sou acusado de estar do lado oposto à credibilidade. Durante algum tempo, porém, supus que a tal credibilidade fosse sinónimo dos cientistas e activistas que vivem a expensas de interesses diversos e não liguei. É difícil ligar a sujeitos que, como tem sido notório, distorcem, omitem e inventam informação de modo a legitimar (digamos) as respectivas teses. O problema é que, quando parecia desacreditada de vez, a tese da influência humana no clima ganhou enfim um defensor acima de qualquer suspeita. Falo, é claro, de Bin Laden, cuja mais recente (e atribuída) gravação é inteiramente dedicada à preocupação com as "alterações climáticas". Para cúmulo, a intervenção segue passo a passo o cânone do género e inclui visões apocalípticas, evocação do Tratado de Quioto, críticas aos EUA e a George W. Bush e, num acto de ecumenismo, citações de um judeu. A evidência ecuménica diminui se se disser que o judeu se chama Noam Chomsky. Ainda assim, o testemunho de Bin Laden é arrasador para os cépticos. Eu, pelo menos, confesso-me inclinado a começar a acreditar no "aquecimento global", sobre o qual apenas aguardo a confirmação de Ahmadinejad e daquele canibal que manda na Guiné Equatorial para abolir as aspas, aderir à Quercus, berrar contra o capitalismo americano e engrossar as fileiras credíveis.”
Alberto Gonçalves, no “Diário de Notícias” de 4 de Fevereiro
Ahmadinejad é um descrente da propaganda ocidental. O canibal da Guiné Equatorial, mais cedo ou mais tarde, papam-no. A lengalenga do morto mais palrador (e mediático) é a gota de água que faltava (se é que faltava alguma) para transbordar o copo da credibilidade da negociata. Pelo que, apesar de muitos (nos quais me incluo) subscreverem várias das críticas ao Jorginho dos arbustos, não vislumbro grande número de futuras adesões à associação portuguesa de chaparros.
Apache, Fevereiro de 2010

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Os tais 150 mil empregos…

Despacho n.º 26368/2009 “(…) nomeio (…) Sílvia Simões Esteves para exercer funções de adjunta do meu Gabinete (…) Este despacho produz efeitos a 26 de Outubro de 2009 (…) O Primeiro -Ministro, José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa.” Despacho n.º 26369/2009 “Exonero (…) Sílvia Simões Esteves das funções de adjunta do meu Gabinete (…) Este despacho produz efeitos a 30 de Outubro de 2009 (…) O Primeiro -Ministro, José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa.” Despacho n.º 26370/2009 “(…) nomeio (…) Paula Alexandre Cunha Coelho Ferreira para exercer as funções de secretária pessoal do meu Gabinete (…) Este despacho produz efeitos a 26 de Outubro de 2009 (…) O Primeiro -Ministro, José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa.” Despacho n.º 26371/2009 “Exonero (…) Paula Alexandre Cunha Coelho Ferreira das funções de secretária pessoal do meu Gabinete (…) Este despacho produz efeitos a 30 de Outubro de 2009 (…) O Primeiro -Ministro, José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa.” Despacho n.º 26384/2009 “(…) nomeio (…) Sílvia Simões Esteves para exercer funções como adjunta do meu Gabinete (…) O presente despacho produz efeitos a partir de 31 de Outubro de 2009 (…) O Secretário de Estado Adjunto do Primeiro -Ministro, José Manuel Gouveia Almeida Ribeiro.” Despacho n.º 26385/2009 “(…) nomeio (…) Paula Alexandre Cunha Coelho Ferreira para exercer funções como minha secretária pessoal. (…) O presente despacho produz efeitos a partir de 31 de Outubro de 2009 (…) O Secretário de Estado Adjunto do Primeiro -Ministro, José Manuel Gouveia Almeida Ribeiro.”
Nomeio, exonero, nomeio, exonero, nomeio… Ainda falta muito para chegar aos 150 mil?
Apache, Fevereiro de 2009

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Quero uma licenciatura em marketing pelo instituto português da coisa!

“Eu não sei quem é esse tal Rui Pedro Soares, o boy sem cv que aos 32 anos foi alçado a administrador-executivo da PT pelo Estado, a ganhar escandalosamente mais num ano do que o meu marido ganhou em toda a vida, ao longo de 40 anos como servidor do Estado nos mais altos escalões. Socialista encartado, dizem. Será, nunca dei por ele, que eu saiba nunca sequer me cruzei com ele. Fraquinho no descernimento [julgo que pretendia escrever discernimento, uma vez que, numa versão anterior do texto escreveu “atrasado mental” onde se lê agora “fraquinho no descernimento”] é, de certeza. Porque se não quis encalacrar os socialistas, foi exactamente isso que logrou ao accionar uma providência cautelar para impedir a saída do jornal SOL com mais escutas das suas ruminações telefónicas, justamente numa semana em que os socialistas procuraram desmentir quem clamava contra a falta de liberdade da imprensa. E se investiu para abafar o jornal, a criatura também não percebeu que, ao contrário, projectava ainda mais longe a radiação solar. Com bóis [numa primeira versão do texto, em vez da palavra “bóis” estava escrito “ruminantes”] destes, para que servem ao PS os boys?”
Ana Gomes, Eurodeputada socialista, ontem, no blogue “Causa Nossa
Para quem não está a par da “estória”, Rui Pedro Barroso Soares é o licenciado em Gestão de Marketing pelo Instituto Português de Administração de Marketing e ex-candidato à liderança da Juventude Socialista, que desde 2006, por proposta da Caixa Geral de Depósitos e do Banco Espírito Santo, exerce o cargo de administrador executivo da ‘holding’ do Grupo PT, auferindo o módico salário de 1373 contos por dia (2,5 milhões de euros por ano). Rui Pedro, um dos envolvidos nas escutas do processo “Face Oculta” tentou, através de uma providência cautelar (aceite pelo tribunal) impedir que a edição de hoje do “Sol” publicasse escutas envolvendo o seu nome, tendo mesmo, ao que consta, solicitado ao tribunal que fossem apreendidos todos os exemplares do jornal.
Apache, Fevereiro de 2009

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A Média das Temperaturas dos continentes (a 09 de Fevereiro de 2010)

Já aqui tinha escrito que “temperatura média do planeta” (é assim que muito boa gente a designa) é uma expressão sem significado físico. O que habitualmente aparece referenciado como tal é, na realidade, a média das temperaturas fornecidas por cerca de 1200 estações meteorológicas terrestres e alguns milhares de bóias marítimas (escolhidas conforme dá jeito à propaganda que se quer “vender”). Os valores que se obtêm seriam substancialmente diferentes, se as estações meteorológicas escolhidas para calcular a média fossem outras. Não é, portanto, possível, determinar com rigor científico o valor da temperatura média do planeta. A título ilustrativo calculei a temperatura média de cada continente, usando as 180 temperaturas mais elevadas e as 180 mais baixas (de anteontem) recolhidas na página do OGIMET (que usa dados divulgados pela NOAA). A excepção a este método foi aplicada à Antárctica, que dispõe de apenas 75 estações meteorológicas no seu território, tendo sido achada a média das máximas e das mínimas de todas as estações. Os valores obtidos (em graus Célsius) são os seguintes: África: 23,11; América do Norte e Central: -0,86; América do Sul: 25,29; Antárctica: -9,01; Ásia: -3,47; Europa: -3,24; Oceânia: 26,51. [Convém recordar que estamos em pleno Verão, no Hemisfério Sul, sendo (obviamente) Inverno no Hemisfério Norte. A Terra passou, há cerca de mês e meio atrás, pelo ponto de máxima aproximação ao Sol, da sua órbita, estado agora a afastar-se até ao solstício de Junho] Calculando a média (simples) dos valores obtidos, chegamos a 8,34 ºC. [Note-se que esta é a média global das temperaturas continentais e que 71% da superfície do planeta está coberta pelos oceanos.] Mas como sabemos, os continentes têm dimensões bastante diferentes, por isso, se calcularmos a média total, ponderando as áreas de cada continente, chegamos ao valor de 6,97 ºC para média das temperaturas de “terra emersa” a 1,5 metros do solo (quase 1,4 ºC inferior ao valor acima calculado). Se outro método fosse usado, valores diferentes seriam obtidos. É portanto ridículo (por mais contas que façamos) dizer que há provas irrefutáveis de que a temperatura média do Planeta subiu nos últimos 150 anos. O que subiu foi a média de valores de temperatura, que hoje o GISS e o CRU calculam usando determinadas estações meteorológicas, por comparação com a média das temperaturas de há 50, 100 ou 150 anos, calculadas com dados de outras estações noutros locais.
Apache, Fevereiro de 2010

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A precipitação com a precipitação

Infelizmente, por malvadez, incúria, ou ignorância, vários crimes graves de lesa-ambiente têm sido praticados pela humanidade, no entanto, tais actos restringem-se à escala local, pois a quantidade total de matéria planetária (sólida, líquida ou gasosa) manipulada pelo homem é insignificante, por comparação à massa do planeta (às massas de águas oceânicas, ou à massa da atmosfera). Localmente (entenda-se uma aldeia, ou uma cidade; um lago ou um rio) a actividade humana, pode, não só, criar graves problemas ambientais, como repará-los, assim haja vontade política e disponibilidade económica. No entanto, generalizou-se a ideia, inicialmente propagada pelas organizações ecologistas e posteriormente repetida na comunicação social por caçadores de subsídios à investigação (de honorabilidade duvidosa) que se auto-intitulam cientistas, por industriais e banqueiros a quem o dinheiro fácil inebria, e por políticos ávidos de manipulação de massas, que o homem consegue alterar o clima, à escala global e, ainda por cima, fá-lo de forma prejudicial ao ambiente, perturbando o (na versão deles) frágil equilíbrio do planeta. No final dos anos setenta e início da década de oitenta “venderam-nos” o “buraco do ozono” antropogénico (no qual fomos acreditando sem exercer espírito crítico, confiando nas competências de quem o anunciava). Percebemos tarde que se trata de uma das mais estúpidas teorias científicas até à época apresentadas. Confiantes na capacidade de manipulação, cerca de 10 anos depois, vieram com a teoria (ainda mais aberrante) do “aquecimento global” antropogénico. Tomam-nos por tolos e de curta memória, quanto mais não seja, por apontarem o dióxido de carbono como principal responsável, quando nos anos setenta foi apontado como causador de um “arrefecimento global antropogénico”. As contínuas notícias de secas devastadoras têm sido anunciadas na comunicação social, nas últimas décadas, com se algo substancialmente diferente (por comparação com 50 ou 100 anos antes) se esteja a passar actualmente. O gráfico que a seguir se apresenta (da responsabilidade de um dos organismos que sustenta a propaganda idiota; para que não se diga que se trata de obra de leigos ou “descrentes”) é da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), o equivalente nos Estados Unidos, ao nosso Instituto de Meteorologia e mostra a variação anual da quantidade total de chuva (em litros por metro quadrado, no eixo vertical) caída no planeta, anualmente (datas no eixo horizontal), entre 1900 e 2008. O valor “zero” representa a média do período em questão. Da análise do gráfico conclui-se que não houve nenhuma tendência significativa nestas (quase) onze décadas, apenas uma ligeira diminuição da precipitação nos primeiros 15 anos do século XX. A partir daí, os períodos "mais secos" têm alternado com outros "mais chuvosos", a cada 3 a 5 anos.

Apache, Fevereiro de 2010

sábado, 6 de fevereiro de 2010

“O juízo final ou a falta dele”

“Quando, em Março ou Abril últimos, a gripe A chegou aos noticiários, previ aqui que os milhões de mortos anunciados resultariam em coisa nenhuma ou quase nenhuma. Não foi uma previsão arriscada. Se acertasse, cá estaria para lembrar "Eu não avisei?" Se falhasse, a carnificina teria sido tão vasta que os restos da humanidade andariam mais ocupados a enterrar cadáveres do que a confrontar as opiniões de humildes colunistas, entretanto também provavelmente falecidos por acção do H1N1. Numa altura em que a gripe A praticamente sumiu, em que o número das respectivas baixas anuais ronda os 3% das da gripe comum e em que distintas personalidades vêm aos bandos acusar a OMS de inventar uma falsa pandemia em prol das farmacêuticas, apraz-me cumprir um ritual e proclamar (ligeiro rufar de tambores, por favor): "Eu não avisei?" É evidente que os meus dotes premonitórios aproveitaram uma característica de todas as catástrofes anunciadas: não passam dos anúncios. Sempre que os responsáveis globais e caseiros pela saúde pública antecipam uma qualquer mortandade a pretexto dos porcos, das galinhas, das vacas e dos bichos que calham, é garantido tratar-se de histeria infundada. Com, vá lá, uma virtude: se não posso jurar que visem beneficiar a indústria farmacêutica, pelo menos as sucessivas histerias médicas revelam a sua falsidade em questão de meses. Muito piores, excepto para as indústrias que deles beneficiam, são os apocalipses a médio ou longo prazo, isto é, os que em vez de prometerem a desgraça para o inverno que vem, imitam as Testemunhas de Jeová e marcam o Julgamento para 2025 ou 2050, datas que adiam, ou no mínimo complicam, a confirmação da fraude. O exemplo clássico é o do "aquecimento global", que há anos influencia políticas e enriquece os pioneiros das "energias alternativas". Apenas recentemente se abriram brechas "mediáticas" no consenso de que a acção do homem arruinaria o clima em poucas décadas. Hoje, as sugestões de manipulação ou pura trafulhice nos dados "oficiais" tornam-se uma trivialidade entre os especialistas do ramo (há dias, foi o principal conselheiro científico do governo britânico a pedir "honestidade"; uns dias antes, fora o próprio organismo da ONU para o clima, o alarmista-mor IPCC, a reconhecer "erros grosseiros"). Tudo isto aconselha a desconfiar das instituições? Em parte. Mas a parte maior da desconfiança deve recair sobre a humanidade, que engole cada patranha com recorrência curiosa, para não dizer assustadora. "Uma mentira exige duas pessoas: uma para mentir, outra para escutar." O autor da frase é, claro, Homero, o dos "Simpsons" e não o da "Ilíada". O futuro está inteirinho nos clássicos.”
Alberto Gonçalves, no “Diário de Notícias” de 28 de Janeiro

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

"Desfolhada" – Simone de Oliveira

Poema escrito em 1968 por José Carlos Ary dos Santos, com o título “desfolhada portuguesa”, foi em 1969 renomeado para “desfolhada”. Nesse ano, com música de Nuno Nazareth Fernandes e orquestração de Joaquim Luís Gomes vence o Festival da Canção, interpretado pela voz colossal da Simone de Oliveira.

“Corpo de linho lábios de mosto meu corpo lindo meu fogo posto. Eira de milho luar de Agosto, quem faz um filho fá-lo por gosto. É milho-rei milho vermelho, cravo de carne bago de amor. Filho de um rei que sendo velho volta a nascer quando há calor. Minha palavra dita à luz do sol nascente meu madrigal, de madrugada amor, amor, amor, amor, amor presente em cada espiga desfolhada. Minha raiz de pinho verde meu céu azul tocando a serra. Oh minha água e minha sede, oh mar ao sul da minha terra. É trigo loiro é além Tejo, o meu país neste momento. O sol o queima o vento o beija, seara louca em movimento. Minha palavra dita à luz do sol nascente meu madrigal, de madrugada amor, amor, amor, amor, amor presente em cada espiga desfolhada. Olhos de amêndoa cisterna escura onde se alpendra a desventura. Moira escondida moira encantada lenda perdida lenda encontrada. Oh minha terra, minha aventura. Casca de noz desamparada. Oh minha terra, minha lonjura, por mim perdida, por mim achada.”
Apache, Fevereiro de 2010

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O derreter da mentira

Num longo artigo de 6 páginas (16 a 21), desnecessariamente sensacionalista, que faz a capa desta semana, da revista indiana “Open”, o jornalista Ninad Sheth escreve sobre a fraude das alterações climáticas, mostrando-se impiedoso com Rajendra Pachauri e com o IPCC (Painel Intergovernamental da ONU para as Alterações Climáticas) a que ele preside, apelidando-os de “máfia das alterações climáticas”. Na capa lê-se que: “é agora claro que o relatório sobre aquecimento global, que permitiu ganhar o Prémio Nobel, está cheio de exageros imprecisões, conclusões ilógicas e mentiras.” No interior, logo abaixo do título do artigo, acrescenta: “Foi apresentado como um facto. O IPCC, liderado pelo famoso Rajendra Pachauri chegou a anunciar que havia consenso sobre o assunto. O mundo estava a aquecer e os humanos eram os culpados. Despejou um monte de mentiras.” Mais adiante: “Nunca tão poucos enganaram tantos por tanto tempo, nunca.” E continua: “A verdade é que o mundo não está a aquecer significativamente. Nem os glaciares dos Himalaias vão derreter em 2035 como foi afirmado. Nem há nenhuma ligação entre desastres naturais como o furacão Katrina e o aquecimento global. Tudo isto é puro disparate, ou se preferirem, ‘não-ciência’.” [Tradução minha] O artigo pode continuar a ser lido aqui. Por um lado, é de saudar que a comunicação social comece a despertar para o chorrilho de mentiras convenientes que umas centenas de políticos, na generalidade ignorantes e umas dezenas de cientistas maioritariamente corruptos, propagaram durante cerca de 20 anos. Mas por outro, é caso para perguntar onde esteve a comunicação social nestas últimas duas décadas? E já agora, por onde anda a dignidade e o profissionalismo dos cientistas que se mantiveram e permanecem calados a esta e a várias outras mentiras ridículas que caçadores de subsídios, auto-denominados cientistas, venderam no último meio século e infestam o ensino das ciências mundo fora?
Apache, Fevereiro de 2010

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O texto de Mário Crespo a que a direcção do JN negou publicação

“O fim da Linha”
“Terça-feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento. O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa. Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil («um louco») a necessitar de («ir para o manicómio»). Fui descrito como «um profissional impreparado». Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal. Definiram-me como «um problema» que teria que ter «solução». Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o. Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): «(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)». É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos. Sem esse confronto só há ‘Yes-Men’ cabeceando em redor de líderes do momento dizendo ‘yes-coisas’, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados. Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser «um problema» que exige «solução». Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre. Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos «problemas» nos media como tinha em 2009. O «problema» Manuela Moura Guedes desapareceu. O problema José Eduardo Moniz foi «solucionado». O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser «um problema». Foi-se o “problema” que era o Director do Público. Agora, que o «problema» Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais «um problema que tem que ser solucionado». Eu.” Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada.” Este é o texto que Mário Crespo escreveu para ser hoje publicado, na habitual coluna semanal de opinião que o jornalista tem mantido no “Jornal de Notícias”, mas que a direcção do jornal se recusou a publicar e que marca, nas palavras do jornalista, o fim da sua colaboração com o diário.

Ban Ki-Moon (e indirectamente o IPCC) desafiado a provar as alegadas alterações climáticas antropogénicas

Há quase dois meses, em vésperas da Cimeira de Copenhaga (sobre as alegadas “alterações climáticas” provocadas pelo Homem) um grupo de destacados cientistas tomou (uma vez mais) a iniciativa [gabo-lhes a paciência] de escrever mais uma carta aberta ao Secretário-Geral das Nações Unidas, que como era expectável permanece sem resposta: “Sua Excelência, Ban Ki-Moon Secretário-Geral das Nações Unidas Nova Iorque, Estados Unidos da América 8 de Dezembro de 2009 Caro Secretário-Geral, A ciência relacionada com as alterações climáticas está a atravessar um período de «descobertas negativas» - quanto mais aprendemos neste domínio excepcionalmente complexo e em rápida evolução mais percebemos o quão pouco sabemos. Verdadeiramente, em ciência nenhum assunto está encerrado. Portanto, não há nenhuma boa razão para impor decisões de política pública, dispendiosas, aos povos da Terra, sem que primeiro se apresente prova convincente de que as actividades humanas estão a causar alterações climáticas perigosas e que vão além das que resultam de causas naturais. Antes de se tomar qualquer acção precipitada, temos de ter sólidos dados de observação mostrando que as recentes alterações no clima diferem substancialmente das mudanças observadas no passado e estão acima das variações normais causadas pelos ciclos solares, pelas correntes oceânicas, por alterações de parâmetros da orbita terrestre e por outros fenómenos naturais. Nós, abaixo assinados, qualificados em disciplinas científicas relacionadas com o estudo do clima, desafiamos a UNFCCC (Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas) e todos quantos nas Nações Unidas a suportam, a produzir convincente EVIDÊNCIA OBSERVÁVEL para as vossas afirmações de existência de um perigoso aquecimento global e de outras mudanças no clima, de origem humana. Projecções de possíveis cenários futuros, feitas por modelos climáticos computadorizados, não comprovadas, não são substitutos aceitáveis para os dados do mundo real obtidos por imparcial e rigorosa investigação científica. Mais especificamente, desafiamos os defensores da hipótese de existirem perigosas alterações climáticas antropogénicas, a demonstrar que: 1- As alterações climáticas globais verificadas nos últimos cem anos estão significativamente fora do intervalo de variabilidade natural observado nos séculos anteriores; 2- As emissões humanas de dióxido de carbono e de outros gases com efeito de estufa estão a ter um impacto perigoso no clima; 3- Os modelos computorizados conseguem replicar de forma fidedigna todos os factores naturais que influenciam significativamente o clima; 4- Os níveis do mar estão a aumentar perigosamente, a um ritmo que se acelerou com o aumento das emissões humanas de gases com efeito de estufa ameaçando pequenas ilhas e populações costeiras; 5- O número de casos de Malária está a aumentar por causa das alterações climáticas; 6- A espécie humana e os ecossistemas naturais não se conseguem adaptar às alterações climáticas, contrariamente ao que aconteceu no passado; 7- Os glaciares, pelo mundo fora, estão a recuar e o derretimento de gelo nas regiões polares é incomum e está relacionado com as emissões humanas de gases com efeito de estufa; 8- Os ursos polares e a restante vida selvagem do Árctico e do Antárctico são incapazes de se adaptar, antecipando possíveis efeitos das mudanças no clima, independentemente da causa dessas mudanças; 9- Os furacões, as tempestades tropicais e outras manifestações climáticas extremas estão a aumentar em frequência e em intensidade; 10- Os dados registados pelas estações meteorológicas terrestres são um indicador fiável das tendências da temperatura global de superfície. Não é da responsabilidade dos cientistas que observam o clima real, provar que não estão a ocorrer perigosas alterações climáticas de origem humana. Pelo contrário, são aqueles que o propõem e que promovem a alocação de investimentos maciços para resolver o suposto «problema», que têm a obrigação de demonstrar, de forma convincente, que as recentes alterações climáticas não têm origem natural e, que se não fizermos nada, mudanças catastróficas se seguirão. Até à data, os que o tentaram, falharam rotundamente.”
Assinam 188 cientistas de múltiplas nacionalidades... [Tradução minha]

domingo, 31 de janeiro de 2010

“Cem anos de simulação”

“(…) Comemorar a Iª República é igual a comemorar o dia em que o nosso tio-avô contraiu sífilis. A abolição da monarquia constitucional resultou da acção de um pequeno bando de rústicos, de carácter, conduta e aspecto duvidosos. O regime imposto pelo bando foi um exercício de limitação sucessiva de direitos concedidos, é verdade que moderadamente, até 1910. Fora a famosa liberdade religiosa, um pretexto para perseguir o clero, no resto, contas por alto, condicionou-se a liberdade de expressão, mediante censura activa, e a liberdade de voto, entretanto restrita aos alfabetizados - cujo número, durante a vigência "progressista" de Afonso Costa e comparsas, misteriosamente quase não sofreu alterações (durante Salazar, curiosamente, sim). As consequências imediatas de semelhante delírio traduziram-se na emergência do Estado Novo, que adaptou a trela nos costumes e contrapôs ao caos governativo e económico um modelo de ordem, para alívio inicial das massas. As consequências a longo prazo ainda se sentem hoje, quando um país teoricamente civilizado festeja com pompa oficial a delinquência e o atraso de vida, afinal os autênticos "valores" da I República, de que a III, para nosso embaraço, pelos vistos não abdica.”
O republicano Alberto Gonçalves, no Diário de Notícias de ontem (30 de Janeiro)

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Fecha-te Sésamo

A figura acima mostra a evolução do número de estações meteorológicas que fornecem informações para a GHCN (Global Historical Climatological Network), a base de dados usada pelo GISS da NASA para calcular a média das temperaturas do planeta. É curioso constatarmos que, quando o número de estações meteorológicas usadas nos cálculos, começou a diminuir, o que ocorreu a partir do final da década de 70, a média das temperaturas do planeta começou a subir. Sugiro aos manipuladores estatísticos da NASA que continuem a afastar gradualmente dos cálculos todas as estações meteorológicas, à excepção das situadas nos desertos e destas excluam os valores obtidos entre o pôr e o nascer do Sol. Conseguirão então a prova “irrefutável” do aquecimento global.
Apache, Janeiro de 2010

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Falar para dentro…

Dizia hoje o Presidente da República, na cerimónia de abertura do ano judicial: "Muitas das leis produzidas entre nós não têm correspondência à realidade portuguesa. Em alguns casos as leis produzem o efeito contrário à intenção do legislador.” Acrescentando que se justifica "mais ponderação e prudência" porque "a pretensão de mudar a realidade da vida pela força da lei raramente produziu bons resultados." Concluindo que "muitas das leis produzidas entre nós correspondem a impulsos do legislador, muitas vezes ditados por puros motivos de índole política ou ideológica, mas não vão ao encontro das necessidades reais do país, nem permitem que os portugueses se revejam no ordenamento jurídico nacional." Desta vez (para variar um pouco) estou completamente de acordo com as declarações do Senhor Presidente da República, mas… Quem será aquele totó que assina como Aníbal Cavaco Silva, e anda por aí a promulgar um rol de lixo em forma de diplomas legais?
Apache, Janeiro de 2010

Rabo escondido com o gato de fora

Há pouco mais de um mês, o ministro do ambiente indiano, numa declaração à comunicação social, disse que as afirmações do IPCC (Painel Intergovernamental da ONU para as Alterações Climáticas) de que os glaciares dos Himalaias iriam desaparecer em 2035 estavam erradas e que a “saúde” destes glaciares é excelente. As declarações caíram que nem uma bomba na comunidade internacional, principalmente por terem sido proferidas por um governante indiano, o país do Presidente do IPCC, Rajendra Pachauri, que se apressou a chamar arrogante ao ministro. A polémica causada pelas declarações contrárias de Pachauri e do Ministro do Ambiente alimentaram, nos dias seguintes, a comunicação social (principalmente a indiana e a inglesa) de notícias de estranhas ligações entre várias organizações que lucram significativamente com o alarmismo lançado diariamente pelo IPCC. Nada de especial novidade se o próprio Pachauri não fosse destacado membro de algumas dessa organizações; expondo-se assim um poderoso conflito de interesses entre as suas funções de liderança do IPCC e os negócios pessoais. No capítulo 10 do texto final do Grupo de Trabalho II, do 4º relatório do IPCC (publicado em 2007) lê-se que “os glaciares dos Himalaias estão a derreter mais depressa que quaisquer outros pelo mundo e, se persistir a actual tendência é extremamente provável que eles desapareçam no ano de 2035, ou talvez antes, se continuar a actual taxa de aquecimento da Terra.” Alguém razoavelmente ingénuo, poderia pensar que estas declarações (de um organismo que, sendo essencialmente político, é publicitado pela comunicação social, como científico) têm por base, um estudo científico revisto pelos pares. Puro engano. Estas declarações foram feitas numa entrevista publicada em 2005 na revista “The New Scientist”, por um funcionário da empresa indiana TERI (The Energy Research Institute) de que Pachauri também é presidente. O dito funcionário citava a página oficial da WWF (World Wide Fund for Nature) a Organização Não-Governamental (ONG) ambientalista que o Príncipe Filipe (marido da Rainha Isabel II, de Inglaterra) criou em 1961 (à época com o nome World Wildelife Fund). Acontece que (tal como é habitual) a natureza não tem colaborado, nem com os patetas da WWF nem com os “artistas” do IPCC e não há qualquer evidência científica de que os gelos dos Himalaias tenham sofrido, nos últimos anos, redução mensurável. Pressionada pela comunicação social, a WWF divulgou, na passada sexta-feira, um comunicado onde reconhece que, apesar das boas intenções, o texto que publicou em 2005 não tem qualquer fundamento e lamenta a confusão que entretanto (por causa dele) ocorreu. Só que, para Pachauiri, as más notícias não ficaram por aqui, é que, com toda esta agitação, ficou-se a saber que a empresa que lidera (a TERI) conseguiu obter da União Europeia (devido às citadas afirmações contidas no relatório do IPCC) 10 milhões de euros para investigar o alegado possível desaparecimento do gelo dos Himalaias. Nada de novo, aqui, debaixo do Sol. As negociatas “escuras” em volta do aquecimento global antropogénico (perdão, das alterações climáticas) seguem dentro de momentos…
Texto corrigido: Por lapso meu, foi referido no texto que a ONU subsidiou a empresa presidida por Pachauri (a TERI) em 10 milhões de euros. De facto, esse financiamento proveio da União Europeia. O texto foi corrigido (e hiperligado a um dos sitíos da Internet que o comprovam) às 19:30 de 27 de Janeiro de 2010.
Apache, Janeiro de 2010

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Importam-se de repetir?... (7)

“O maior atributo do actual Governo é a originalidade. Depois de, há dias, o ministro das Obras Públicas ter finalmente explicado a serventia do TGV (transformar Lisboa na praia de Madrid), agora a nova ministra do Trabalho ilumina-nos com uma previsão certeira sobre o desemprego, "um problema que", cito, "provavelmente vai continuar a subir antes de descer". Note-se que, até à erupção da dr.ª Helena André, a polémica em volta do tema imperava. Entre o caos opinativo, havia palpites de que o desemprego estagnaria, ou jamais voltaria a descer, ou desceria às terças e quintas, subiria às segundas e quartas e descansaria às sextas, de modo a passar o fim-de-semana em casa. Felizmente, a dr.ª Helena não entra em tolices e opta pela lógica irrefutável, que merece bis: o desemprego "provavelmente vai continuar a subir antes de descer". É verdade que a ministra não arrisca uma data para a inversão da tendência, logo a descida poderá ocorrer depois de amanhã ou em 2025. Enquanto isso, a governante sugere que dediquemos aos números do desemprego "um olhar refrescado". Amavelmente, a dr.ª Helena deixa a interpretação da directiva oftalmológica ao nosso cuidado. Podemos, por exemplo, calar as lamechices e começar a invejar a situação dos 11 por cento de ociosos, os quais dispõem enfim de tempo livre para a reflexão existencial ou a bricolage. Podemos achar positivo que ainda haja 89 por cento da população activa com ocupação. E podemos largar as comparações face à generalidade dos países da UE e comparar os dados nacionais com os da Serra Leoa. Só os ministros que temos não se comparam. Nem os 600 mil desempregados "oficiais" com as incontáveis hordas não registadas ou distraídas pela prestigiada "formação" proporcionada pelo Governo, cuja extravagância já subiu o que tinha a subir antes de se estatelar ao comprido.”
Alberto Gonçalves no Diário de Notícias

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

"No teu poema" - Mafalda Arnauth

De novo a voz de Mafalda Arnauth, desta vez num poema de José Luís Tinoco.

"No teu poema Existe um verso em branco e sem medida Um corpo que respira, um céu aberto Janela debruçada para a vida. No teu poema Existe a dor calada lá no fundo O passo da coragem em casa escura E aberta, uma varanda para o Mundo. Existe a noite O riso e a voz refeita à luz do dia A festa da Senhora da Agonia E o cansaço do corpo que adormece em cama fria. Existe um rio A sina de quem nasce fraco ou forte O risco, a raiva, a luta de quem cai ou que resiste Que vence ou adormece antes da morte. No teu poema Existe o grito e o eco da metralha A dor que sei de cor mas não recito E os sonos inquietos de quem falha. No teu poema Existe um cantochão alentejano A rua e o pregão de uma varina E um barco assoprado a todo o pano. Existe a noite O canto em vozes juntas, vozes certas Canção de uma só letra e um só destino a embarcar No cais da nova nau das descobertas. Existe um rio A sina de quem nasce fraco, ou forte O risco, a raiva e a luta de quem cai ou que resiste Que vence ou adormece antes da morte." No teu poema Existe a esperança acesa atrás do muro Existe tudo mais que ainda me escapa E um verso em branco à espera... do futuro…

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Ainda o acordo de (falta de) princípios…

"O acordo a que o Governo chegou com alguns sindicatos deu lugar a um coro de regozijo pela “pacificação das escolas”. Assim falaram governantes, alguns parlamentares, jornalistas, colunistas e sindicalistas. E se tirassem uma semana sabática e fossem às escolas? Veriam a revolta e a estupefacção dos que, respondendo aos apelos dos sindicatos, não entregaram objectivos individuais, não pediram aulas assistidas nem se candidataram às menções de “muito bom” e “excelente” e por isso ficaram para trás. Veriam discórdia a cada canto, desconfiança crescente, raiva pelas injustiças não sanadas e pelo oportunismo premiado, cansaço acumulado, competição malsã nascente, desilusão e desmotivação generalizadas. Chamam a isto pacificação? Quem ignore os antecedentes do conflito entre os professores e o Governo e leia o acordo conclui que as razões da discórdia se circunscreviam a carreira e salários. E não circunscreviam. Os professores reclamaram contra a degradação do ensino e defenderam a autoridade, a dignidade e a independência intelectual indispensáveis ao exercício sério da sua profissão. Sócrates e Maria de Lurdes Rodrigues instilaram na sociedade uma inveja social contra os professores. Este acordo oferece argumentos a quem queira, maliciosamente, fomentá-la. Nos extremos das 14 horas de clausura na 5 de Outubro estão dois textos. Um, de partida, anteriormente rejeitado; outro, de chegada, agora celebrado. Li e comparei os dois. Para lá das loas, os factos são estes: ao bom jeito dos burocratas de serviço, foi o preâmbulo o pedaço mais alterado; clarificou-se, a meu ver de forma redundante, que a educação especial fica inclusa nas cláusulas do acordo; os sindicatos subscreveram o atestado de menoridade às instituições de ensino superior, que a prova de ingresso titula, a troco de meia dúzia de indigentes dispensas; a conseguida eleição de três membros para a Comissão de Coordenação da Avaliação (de entre um grupo que o director nomeia), a promessa de que o ministério promoverá acções de formação concretas (que despreza miseravelmente o direito daqueles que prefeririam acções de formação abstractas) e a nomeação de um representante da direcção regional respectiva para apreciar eventuais recursos de classificação (estou mesmo a ver como o Senhor se vai empenhar na defesa do súbdito) emprestam algum humor ao conservadorismo da coisa; a possibilidade de renúncia a tarefas, por parte dos possuidores de especialização funcional, e a alusão à tendencial formação especializada do relator serviram para disfarçar que mais de três quartos das contrapropostas da Fenprof não foram aceites e para encher a coluna das mudanças, num cenário de quase tudo ficar na mesma (o toque erudito do acordo é-lhe conferido pelo espírito de Falconeri, que lhe subjaz); e o resto é uma complicada teia contabilística de índices, vagas e quotas, que parte significativa dos professores irá descobrindo com esgares amarelos (o cromatismo clássico não se aplica à complexidade desta caldeirada rosa, laranja e vermelha). A iniquidade, a mediocridade técnica, a burocracia insustentável e a consequente inaplicabilidade de um modelo de classificação do desempenho (é de classificação e não de avaliação que se trata) foram publicamente patentes ao longo de três anos de conflito. Estipula o acordo, já apodado como o mais importante dos últimos 20 anos, pasme-se, mudanças substanciais? Não! Mas o mais pernicioso está agora aceite. Cairá essa excrescência artificial que dividia em duas uma carreira que, pela sua própria natureza, só pode ser única. Mas foram ampliados os estrangulamentos que dela derivavam. A prova de ingresso, classificada sempre (antes e após o acordo, volte-se a pasmar) como algo sem sentido, foi igualmente aceite, repito. E as quotas, que ontem impediam categoricamente qualquer entendimento, foram engolidas sem indigestão. Os professores mais ousados, os que mais se expuseram pessoalmente para defender o que todos reclamavam, foram abandonados, feridos, no campo de batalha. A sua generosidade e o seu exemplo determinantes foram irrelevantes no cotejo com o pragmatismo, que não conhece moral nem ética. Os ciclos de dois anos e as mesmíssimas dimensões da classificação garantem a eternização de uma burocracia impraticável. Um terço dos professores jamais chegará ao topo (não invoquem probabilidades teóricas; por elas eu também posso ganhar o Nobel da paz). A progressão é agora claramente mais lenta que em 2006 e nenhuma simulação teórica o disfarça. A política e o sindicalismo ajoelharam perante o altar do comércio dos interesses pequenos e imediatos. É deprimente como saldo! O Governo reconheceu, no texto do acordo, que o estatuto e a avaliação em análise desqualificaram a escola pública, são entraves ao cumprimento da missão da escola e remetem para segundo plano o trabalho com os alunos (se lerem com atenção, verão que está lá). Não é espantoso que, dito isto, os acordantes prossigam no mesmo caminho? Ou ensandeceram? Mais coisa, menos coisa, dos resultados até agora conhecidos, teremos 700 professores “excelentes”, 18.000 “muito bons”, 78.000 “bons” e “300” regulares. Foi por isto que se destruiu a harmonia nas escolas e se vilipendiaram os professores?"
Santana Castilho, professor do ensino superior, no “Público” de hoje

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Uma luz no escuro

“Na investigação climática e na sua modelação, devemos reconhecer que lidamos com um sistema caótico, não-linear e que, portanto, não é possível prever como será o clima futuro, a longo prazo.” Lê-se na página 774 do 3º Relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), 2001. Assinam, pelo Grupo de Trabalho I: Y. Ding, D. J. Griggs, M. Noguer, P.J. Van Der Linden, X. Dai, K. Maskell e C. A. Johnson [Tradução minha]