M@M: “Na corrida entre o cientista e o político, o último parece estar a levar vantagem. Em rigor, o cientista não tem nenhuma obrigação de apresentar, muito menos de explicar, as suas teses ou teorias ao grande público. Isto sempre foi feito através de uma rigorosa revisão pelos pares. Todavia, e especificamente quanto ao tema ‘alterações climáticas’, até essa revisão pelos pares se está a mostrar viciada ou corrompida por interesses alheios à ciência. Enquanto o político possui a arte da retórica, o cientista debate-se com os difíceis problemas do mundo real, e com a dificuldade na expressão dos seus resultados em linguagem acessível, sendo muitas vezes obrigado a utilizar a mesma terminologia equivocada estabelecida pela comunicação social, pelo IPCC, por grupos políticos, etc. Pode dizer-se que o tema do clima foi ‘roubado’ ao cientista, pelo político?”
Daniela de Souza Onça: “Será que esses ‘interesses políticos’ são mesmo "alheios" à ciência? Será que o tema do clima foi realmente ‘roubado ao cientista, pelo político’? Ou será que existe uma intensa simbiose entre os dois grupos? Nenhuma destas duas esferas - a ciência e a política - exerce uma preponderância absoluta sobre a outra, nos dias de hoje; o que existe é uma profunda inter-relação de ambas. Nem o cientista se converteu em soberano perante o político, nem é suficientemente independente para ser guiado, nos seus actos, unicamente pela sua vontade. Na realidade, ocorre uma forte comunicação recíproca em que, por um lado, os especialistas científicos ‘aconselham’ as instâncias que tomam decisões e, por outro, os políticos ‘encarregam’ os cientistas de ‘inventarem’ de acordo com as práticas que pretendem implementar. A instituição do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) é emblemática dessa simbiose. As conclusões do Painel passaram a guiar as decisões políticas, enquanto os governos financiam as pesquisas favoráveis à hipótese e às conclusões almejadas, necessárias à implementação de seus interesses políticos. Deste modo, controla-se, por um lado, o desenvolvimento de novas técnicas e estratégias, a partir de um horizonte tornado explícito de necessidades e de interpretações historicamente determinadas destas necessidades; e por outro controlam-se os interesses sociais, reflectidos em sistemas de valores pela alegada prova das possibilidades técnicas e dos meios estratégicos necessários à satisfação dessas necessidades. Por exemplo, são desenvolvidas tecnologias ´verdes’ porque ‘são necessárias’ para a ‘preservação do meio ambiente’, simultaneamente, investe-se em ‘estudos’ que demonstrem a ‘necessidade’ destas tecnologias. Não creio que seja possível falar em corrupção da ciência por interesses alheios a ela: a ciência climática foi corrompida pelos interesses dos próprios ‘cientistas’.”
Geraldo Luís Lino: ”Não concordo que o cientista deva ficar isento de expor as suas ideias e os resultados dos seus trabalhos ao público em geral. A ciência não pode ficar isolada em ‘torres de marfim’, deve interagir activamente com a sociedade, até porque a estrutura científica de um país depende directamente da percepção que os diversos sectores da sociedade têm, da importância da actividade científica. Aliás, se os níveis de conhecimentos científicos básicos por parte da população em geral não fossem tão baixos, e isto não só no Brasil, o catastrofismo ambientalista teria tido muito mais dificuldades em se propagar que as que teve nas últimas décadas.
Por ironia, apesar dos inegáveis avanços científicos e tecnológicos ocorridos nas últimas décadas, especialmente no campo das comunicações, hoje, uma grande parte das pessoas educadas é incapaz, ou no mínimo exibe grandes dificuldades em entender muitos conceitos científicos básicos. Assim, as pessoas tornam-se vulneráveis aos bombardeamentos de informações erradas sobre fenómenos climáticos, até mesmo quando elas contrariam o senso comum, como a ideia de que o derretimento das calotes polares do Árctico poderia implicar um aumento do nível do mar.
Quanto ao ‘roubo’ das questões climáticas pela agenda política e económica de certos grupos hegemónicos, do Hemisfério Norte, os mesmos que criaram, organizaram e colocaram em marcha o movimento ambientalista, na década de 1960, ele é não só inegável, como ajuda a explicar o rumo que o alarmismo tomou. No meu livro, há um capítulo sobre isto.”
Luiz Carlos Molion: “O tema ‘clima’ nunca foi uma discussão científica propriamente dita, pois os cientistas sabem que o clima é dinâmico e que tem variado ao longo da existência do planeta. A possível influência do homem no clima global é que se tornou objecto de discussão por sectores da sociedade que, na sua maioria, nada entendem de clima, e por alguns cientistas que tiram proveito da situação em benefício próprio. A comunicação social, em especial a televisão, mostra catástrofes aparentes - como aumento do nível do mar, o degelo das calotes polares, o aumento do número de tempestades severas - sem prova física, que impressionam e aterrorizam o público leigo. Mas os argumentos científicos sérios, que mostram que tais fenómenos são naturais e que já ocorreram no passado, não conseguem convencer o público. Os políticos, por sua vez, perceberam que ‘ser verde’ atrai votos de uma parcela considerável da população. A criação de outra moeda de troca, os créditos de carbono, propiciará desvios de recursos públicos, provenientes do aumento de impostos e taxas, supostamente investidos em conservação ambiental, investimento que muitas vezes é difícil provar que existiu.”
Ricardo Augusto Felício: “Eu acredito que estamos a assistir à mais estranha simbiose. Os políticos querem justificar as suas atitudes e precisam de legitimação. Desta maneira, fluxos financeiros correm soltos para as pesquisas que apoiem as políticas públicas que se querem implementar, não a Ciência, de facto. O próprio IPCC começou assim, com a Margareth Thatcher a financiar as pesquisas que encontrassem um bode expiatório para acabar com o problema levantado pelos sindicatos dos mineiros de carvão, no seu país. Ela tentava privatizar todas as empresas do sector e sofreu forte oposição dos sindicatos. O alvo escolhido foi justamente a emissão de dióxido de carbono, resultante da queima do carvão. Convém lembrar aquele que, há época, era o maior escândalo científico, quando em 1987, sob o governo da mesma Thatcher, países subdesenvolvidos foram obrigados a eliminar os Clorofluorcarbonetos (CFC) dos seus processos industriais para que fossem obrigados a pedir empréstimos ao FMI. Isso foi uma coerção, sim. Seria preciso lembrar ao Paulo Artaxo para que ele pare de dizer baboseiras. Podemos dar alguns exemplos, aqui no Brasil. Em São Paulo, dinheiro para pesquisas de saúde pública e de clima é usado para impor a inspecção ‘ambiental’ de veículos, restrições à circulação e a construção do anel rodoviário (sob a capa de ter sido criado para ‘dar mais conforto e melhorar a saúde’ do paulista). Com a inspecção de veículos, espera-se que cerca de dois milhões de automóveis fiquem ilegais e os seus donos percam o direito da sua propriedade. Tudo bem... é pela ‘causa’ ambiental e pela da falaciosa ‘saúde pública’. Já podemos imaginar as privatizações que os próximos governos do PSDB estão a congeminar. O país, que deveria ser dos brasileiros, vai servir a iniciativa ‘privada’ de grupos ligados a governos, em todos os aspectos, incluindo os serviços essenciais, como a água e os esgotos.”
Apache, Maio de 2011