terça-feira, 15 de setembro de 2009

Gato Fedorento - Esmiúça os sufrágios (14 de Setembro)

Para quem não viu, deixo (do primeiro programa da nova série dos “Gato Fedorento”), a entrevista ao Primeiro-Ministro, José Sócrates.

Apache, Setembro de 2009

domingo, 13 de setembro de 2009

Uma escola suíça

«Klingnau é uma cidadezinha no Norte da Suíça. As escolas locais estão integradas num espaço verde, junto ao rio Aare, a poucos quilómetros da confluência deste com o Reno, que marca a fronteira com a Alemanha. Atravessada a zona onde se situam os campos de jogos e os edifícios mais antigos, e transposta uma ponte pedonal sobre um ribeiro, chega-se ao edifício principal - uma construção moderna, ampla e confortável. O rés-do-chão consiste numa zona ampla e num conjunto de gabinetes e salas de trabalho para o reitor e para os professores. À entrada estão os cabides e os suportes para os alunos deixarem os agasalhos e os sapatos. Mais ao fundo, uma mesa de bilhar, outra de pingue-pongue e alguns sofás. O facto de os alunos andarem obrigatoriamente descalços ou de chinelos de pano tem várias consequências positivas: para começar não estragam o revestimento do chão, que é caro e de boa qualidade; em segundo lugar, é mais difícil andarem aos pontapés às coisas ou uns aos outros; em terceiro lugar, é-lhes mais difícil, sobretudo no Inverno, abandonar sub-repticiamente as instalações da escola; e finalmente faz com que se sintam mais "em casa". Aos professores é dada mais latitude, mas a tendência é para não usarem na escola o mesmo calçado que usam na rua. E nunca vi, nem nesta escola, nem noutras, uma professora de saltos altos. Por trás do edifício, e prolongando-se até à margem do rio, há uma zona verde pertencente à escola. Entre esta zona e os espaços verdes que pertencem à cidade não há solução de continuidade: das janelas das salas de aula é frequente ver pessoas a passear os cães ou famílias a andar de bicicleta. Subindo do rés-do-chão para o andar onde se situam as salas de aula, passa-se pela sala de informática. Nesta escola dá-se o caso de os computadores serem todos da Apple, como noutra seriam de outra marca: assim o decidiu a escola, autonomamente. Na Suíça não há Ministério da Educação nem qualquer outra entidade central que negoceie os equipamentos com as empresas da sua preferência. Ao longo do corredor está uma representação à escala do Sistema Solar: num dos topos, um segmento de círculo, pintado a amarelo a toda a altura duma parede, representa o Sol; esferas suspensas do tecto representam os nove planetas. Na parede do corredor, uma vitrina com espécimes embalsamados de animais exóticos: escorpiões, tarântulas, aves de rapina. Cada sala tem a sua biblioteca de referência, organizada de acordo com as necessidades do professor responsável e dos alunos que lá têm aulas. Nas estantes ao fundo estão os manuais escolares dos alunos, que não são comprados pelas famílias nem dados pela escola: são emprestados no princípio de cada ano lectivo e devolvidos no fim, havendo lugar a pagamento apenas no caso de não se encontrarem em bom estado. Na minha havia, além disto, um retroprojector, um conjunto completo de mapas que se podiam fazer descer do tecto por meio dum mecanismo eléctrico: mapas políticos e físicos da Suíça, dos continentes europeu, americano, africano e asiático, e dos oceanos Índico e Pacífico. Nas paredes, uma fotografia de satélite do cantão de Aargau e dois posters com os peixes e as aves autóctones da região. À hora em que eu começava as minhas aulas - 15:30 ou 16:30, 13:00 às quartas - a escola já está deserta de professores, com excepção de algum que ainda por lá esteja a preparar o trabalho do dia seguinte. Mas não está deserta de alunos: todos têm acesso ao ginásio e aos campos de jogos, supervisionados apenas pelo “Hauswart” (porteiro ou administrador, traduzindo por grosso; mas a palavra em português não reflecte a importância desta personagem, cuja autoridade quase se iguala à do reitor). Alguns alunos mais velhos têm acesso sem supervisão a outras partes da escola, à sua responsabilidade e dos seus pais. O currículo inclui poucas disciplinas. Como língua materna, estuda-se o alemão-padrão, que é o da Alemanha. Os alunos chamam-lhe “Schrifttütsch”, ou "alemão escrito", por oposição ao “Schwytzertütch”, ou "alemão suíço", que é a língua que eles falam em casa. No ensino da língua materna é ainda frequente o recurso a cópias, ditados e redacções, e isto até ao equivalente do nosso 9º ano. Surpreendentemente, o francês e o italiano, que são as duas outras línguas oficiais da Suíça, raramente fazem parte do currículo por mais que um ano ou dois. O ensino do inglês inclui aqueles métodos tradicionais que em Portugal são “verboten”: gramática normativa, cadernos de significados, traduções, ditados e retroversões. Não há, obviamente, nada que se pareça com a disciplina de Técnicas de Informação e Comunicação de que os governantes portugueses tanto se orgulham. Não é que os suíços não reconheçam a importância de capacidades instrumentais como a que esta disciplina pretende desenvolver; é que entendem que estas capacidades se transmitem melhor no âmbito de disciplinas que são fins em si mesmas, como a língua materna e a matemática, e em resposta às necessidades específicas que surgem no trabalho com estas matérias. Com uma carga lectiva e curricular muito mais leve do que a que se verifica em Portugal, é possível ter turmas mais pequenas sem recrutar um número excessivo de professores. Além disso, na Suíça não há Ministério da Educação nem nenhuma outra estrutura central que ocupe milhares de "professores de gabinete", como os que em Portugal não dão aulas mas contam para a estatística. A ausência desta estrutura leva a que não haja uma teoria pedagógica oficial imposta a todas as escolas. O efeito de normalização deve-se a um consenso generalizado entre pais, professores e comunidades locais que resulta em escolas razoavelmente semelhantes entre si, e bastante mais "conservadoras" do que aquelas a que estamos habituados. Mas o contrário também se verifica: um pequeno número de escolas suíças segue teorias pedagógicas de vanguarda, algumas delas tão extremas que, comparado com elas, o "eduquês" parece prudente e conservador. Uma vez vieram ter comigo os pais de um aluno que tinha graves problemas de aprendizagem. Estavam a pensar pô-lo numa escola “Waldorf” (doutrina pedagógica baseada nas teorias antroposóficas de Rudolf Steiner). Apesar do meu extremo cepticismo em relação à antroposofia, não os desencorajei - e a verdade é que o miúdo começou a aprender melhor. Isto não me converteu à antroposofia, longe disso - mas ensinou-me que qualquer pedagogia funciona se a expectativa do aluno, dos pais e dos professores for que ela funcione. E talvez nenhuma funcione na falta desta expectativa. Se assim for, então nenhuma pedagogia oficial pode funcionar - porque as pessoas têm expectativas diferentes. E consequentemente os Ministros da Educação são como as traduções: mesmo quando são bons, são maus.»
José Luís Sarmento, no blogue “As minhas leituras

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Foi há oito anos…

Em Londres são 21 horas e 54 minutos de dia 11 de Setembro de 2001. O canal BBC News 24 anuncia que em Nova Iorque, o edifício “Salomon Brothers”, mais conhecido por WTC 7”, colapsou [1º vídeo]. Três minutos depois (21 horas e 57 minutos em Londres, 16:57 em Nova Iorque), a BBC World [2º vídeo], repete a notícia, primeiro através do pivô de serviço e mais tarde em nota de rodapé. Ilustrando a peça, liga (em directo) à sua correspondente em Nova Iorque, Jane Staneley, que confirma a derrocada, apesar de, atrás, ao fundo, por cima do seu ombro esquerdo (portanto à direita na imagem) se ver o WTC 7 em pé e aparentemente sem danos significativos. [é o edifício mais alto, em forma de paralelepípedo] Cerca das 17 horas e vinte minutos locais, (22:20 em Londres) o edifício “Salomon Brothers” implode. Dois canais televisivos do mesmo grupo (BBC) “adivinharam” com mais de 20 minutos de antecedência, a queda de um edifício (sem danos visíveis significativos) a cerca de 100 metros das torres principais (alegadamente atingidas por aviões comerciais). Tamanha certeza da BBC só se justifica (em minha opinião) por informação oficial da demolição controlada do WTC 7 (o edifício onde funcionavam, entre outros, o comando de crise do presidente da câmara nova-iorquina, os serviços de finanças (IRS) e vários serviços secretos (entre eles, a CIA)). A demolição controlada de um edifício destas dimensões é uma tarefa que demora alguns dias a preparar. Na versão oficial, o WTC 7, cuja estrutura era de aço, ruiu devido a fogos incontrolados no seu interior, tal como aconteceu às “Torres Gémeas”. Foram até hoje, os únicos três edifícios (com esturra de aço) a ruir na sequência de fogos (neste caso pouco significativos) e também as únicas derrocadas (alegadamente não controladas) onde a resistência do ar não se fez sentir.

[BBC News 24 anuncia colapso do WTC 7, 26 minutos antes de tal acontecer] [BBC World anuncia colapso do WTC 7 , 23 minutos antes de tal acontecer, enquanto (simultaneamente) mostra imagens em directo do edifício, sem danos aparentes significativos]

Apache, Setembro de 2009

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Há jornalistas e jornalistas… (obviamente!)

Em texto anterior, tinha criticado o silêncio cúmplice da Ordem dos Médicos, que contrariamente aos seus homólogos espanhóis, permitem que governantes e comunicação social propaguem um alarmismo absolutamente injustificável em torno do vírus H1N1 (agora, vulgarmente designado de gripe A). Também a ausência de espírito crítico (nesta como noutras matérias) por parte da generalidade da comunicação social, tem sido por mim lamentada. É, por isso, de elementar justiça, destacar a excelente reportagem que a TVI apresentou no “Jornal Nacional” do passado dia 7, que levanta parte do véu alarmista que esconde importantes interesses económicos. Valorize-se também as declarações (honestas, ainda que muito defensivas) do Dr. Fernando Maltês, Director do Serviço de Doenças Infecciosas do Hospital Curry Cabral. Já agora, aproveito para agradecer ao Diogo, do blogue “Um homem das cidades” o ‘post’ que permitiu o surripio deste vídeo.

Apache, Setembro de 2009

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Gelo inconveniente… Custava-lhe alguma coisa colaborar na propaganda?

[A imagem (obtida com dados fornecidos por satélite) mostra o mapa da Gronelândia, correspondendo as zonas amarelas e laranjas a locais onde a quantidade de gelo tem vindo a diminuir e as zonas azuis aos locais onde tem vindo a aumentar. (As zonas assinaladas a branco são aquelas onde não se detectaram alterações na altura do gelo.)]
Embora se verifique algum derretimento de gelo junto à costa, nos últimos anos do século passado, devido à fraca intensidade dos Anticiclones Móveis Polares (que agora se tornaram de novo mais intensos), tal como havia acontecido no período quente das décadas de 30 a 50, na generalidade do território da Gronelândia, a neve e o gelo têm vindo a aumentar continuamente. Um estudo realizado por, Ola Johannessen, Kirill Khvorostovsky, Martin Miles e Leonid Bobylev, publicado na “ Science” de 11 de Novembro de 2005 concluiu que em média, o gelo que cobre a quase totalidade da ilha tem vindo a aumentar continuamente 5,4 cm por ano (margem de erro ± 0,2 cm).
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[Perito Moreno, um dos maiores glaciares do mundo, com 30 quilómetros de comprimento e quase 200 quilómetros quadrados de área]
O glaciar “Perito Moreno” na Argentina cresce constantemente desde que começou a ser observado, há mais de um século, apesar de espalhar pelo lago gelado da base, icebergues do tamanho de prédios. A imagem do “Perito Moreno” despejando enormes blocos de gelo no “Lago Argentino” ficou famosa no documentário de Al Gore, “Uma Verdade Inconveniente” e foi usada para dar a ideia de que o glaciar está a derreter, quando na realidade se tem verificado um significativo crescimento do mesmo. As derrocadas de gelo (dizem, um dos espectáculos mais belos da natureza, que muitos consideram a oitava maravilha do mundo) acontecem porque o glaciar barra as águas do “Rio Braço” que ao acumularem-se, atingindo uma altura de cerca de 30 metros, exercem sobre o icebergue enormes forças de pressão que acabam por provocar a derrocada de gigantescas estruturas de gelo.
Apache, Setembro de 2009

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Legislativas 2009 - Primeira Sondagem

“Não sei quem vai ganhar a velhacagem «eleiçoeira» que se avizinha. Não sei e, para ser franco, não me interessa. Mas sei, de certeza, quem vai perder. É o do costume: o país. Portugal, chamaram-lhe em tempos. Mais um prego no caixão e mais um certame de vermes. Entre o Pinóquio e a Bruxa, o diabo não escolhe: patrocina.”
Dragão, do blogue “Dragoscópio”

domingo, 6 de setembro de 2009

Gripe A: a epidemia do medo

“Está-se a criar um alarme e uma angústia exagerada em torno da gripe A, diz o Conselho Geral de Colégios Médicos de Espanha (OMC), citado pelo jornal “El País”. O seu presidente, Juan José Rodríguez Sendín, foi mesmo mais longe e, numa conferência de imprensa, disse que a Espanha está imersa numa epidemia de medo provocada por uma doença fantasma. O presidente da OMC não descarta a hipótese de existirem interesses económicos e políticos por trás da pandemia, porque o ênfase que se colocou numa doença tão comum como a gripe não se deve a razões sanitárias. Diz o médico que “10 a 12% dos espanhóis são hipocondríacos” e em Espanha, a fantasia e a novela são muito comuns. Afirmou também que os dados disponíveis mostram que o H1N1 se tem revelado menos severo, causando menos e mais leves complicações e uma taxa de mortalidade muito inferior à da gripe sazonal. A OMC havia já referido que em todo o Hemisfério Sul, ao fim de 4 meses de contabilização e, a menos de um mês do final do Inverno, o H1N1 fez 1 796 mortos, quando, só em Espanha, a gripe mata entre 1 500 a 3 000 pessoas por ano. Curiosamente, em Portugal, onde a propaganda em torno do H1N1 não é menor, a Ordem dos Médicos permanece muda e queda à verborreia ‘ad nauseam’ de dois dos seus membros (a pediatra, Ana Jorge e o médico interno, Francisco George), ou será que sou eu que tenho andado distraído?
Apache, Setembro de 2009

sábado, 5 de setembro de 2009

Novela à portuguesa – Jornal Nacional de sexta

Diz o “Expresso” que foi este vídeo de promoção ao “Jornal Nacional” que desagradou à administração da “Média Capital” e levou ao afastamento de Manuela Moura Guedes.

Entretanto, em entrevista ao “Diário de Notícias”, a jornalista aproveitava para (como é seu estilo) "escaqueirar a louça". Deixo um resumo… "Gostava de ter José Sócrates como seu espectador? Ah, mas ele só pode ser meu espectador. Está sempre a par do jornal. É óbvio que é meu espectador. (…) Este Jornal Nacional de hoje é uma espécie de arranque da «rentrée». É o Pontal das televisões... (…) Espero, como é óbvio, que as pessoas dêem alguma atenção ao jornal, mas foi muito empolado este meu regresso. Isso despertou alguma curiosidade, claro. (…) Sei que sou incómoda. Recebi tantos telefonemas de jornalistas nas últimas semanas, que nem consigo contar. E muitos deles perguntavam-me: "Então, já lhe disseram que não vai para o ar?" Achei surpreendente porque era como a pescada: antes de ser já o era [risos]. Toda a gente partiu do princípio de que eu estaria fora do ar. E a Manuela nunca partiu desse princípio? Eu? Não. Não mesmo? No actual contexto político, no contexto desta empresa, no contexto da sua relação com esta administração, não temeu que isso pudesse acontecer? Não tenho dúvidas de que há muita gente que gostaria que eu e que aquele jornal não fosse para o ar... (…) Cá dentro, na TVI, também? [longa pausa] Na TVI? Só se fosse alguém muito estúpido. Como você sabe, o meu jornal faz grandes audiências, esta televisão é uma televisão comercial que vive de audiências e daquilo que elas geram, portanto... (…) Acha que não gostam de si? [Pausa] Não sei. Que incomodo, sei que incomodo. Ao longo da minha carreira tenho tido provas disso. Sejam de direita, sejam de esquerda. Acho engraçado que só se fale do Sócrates, mas o Jornal Nacional tem sido o único a dar dados relevantes de investigação do caso Portucale. São processos escondidos, coisas vergonhosas. Eu já apanhei Bloco Central, Cavacos, Guterres, Durões, Santanas. Ninguém gosta de ser alvo deste tipo de notícias. Mas quando estão no poder têm mais responsabilidades. E há uma coisa importante: eu percebia a contestação se tivéssemos cometido erros. Mas não cometemos um único erro. Não há um único desmentido das notícias que fizemos. (…) Há quem diga que com a saída de Moniz a administração livrou-se de uma pedra no sapato. A Manuela é a outra pedra no sapato? Não sei, pergunte-lhes a eles. (…) Sente-se um alvo a abater? Sinto, claro que sinto. Pelas pessoas que eu incomodo. O primeiro-ministro é o mais óbvio, não vale comentar mais. As coisas que ele disse sobre mim são tão claras, que é claro que ele me quereria abater. Entre aspas, naturalmente [pausa]. Entre aspas [fala mais alto e olha para o gravador, como que a confirmar que ficou bem gravado]. Mas não teme que a saída do director-geral a fragilize a si e a deixe mais isolada na TVI? Tudo depende de quem estiver a liderar a informação da TVI. Nesse campo, para já, não parece haver novidade. João Maia Abreu é o director de informação. Sim, o João continua e tem exactamente o mesmo entendimento do que eu. O Jornal Nacional de 6.ª tem uma linha editorial que assenta muito na investigação. E isso vai continuar a ser feito. (...) Como é que convive com as críticas da classe jornalística, que tem sido demolidora para si? Não tenho grande apreço pela classe jornalística actualmente. É muito má. Sente que é melhor do que a generalidade dos jornalistas? Sinto que sou mais séria. Perdoem-me a imodéstia. Mas sabe que a classe jornalística que a critica diz de si, precisamente o contrário, que é pouco séria... [pausa] Aquilo que é idiota na classe jornalística que me critica é que só se preocupa com o que é acessório. "Os trejeitos, porque ela faz opinião, porque um jornalista não deve ir para ali confundir opinião com jornalismo" [enquanto enumera as críticas que lhe fazem, faz uma voz de falsete]. As mesmas pessoas, em seguida, fazem os maiores fretes possíveis aos políticos, deixam para trás as coisas que são importantes, são capazes de estender o microfone sem os confrontar com o que quer que seja. Têm medo. São cobardes. Cobardes até à última. Porque no fundo, no fundinho, o que eles queriam ser era Luíses Bernardos, Damiões [ambos assessores de imprensa]. Andarem ali com as pastinhas deles. Babam-se com os políticos. Babam-se com os Sócrates deste país. Há gente dessa na televisão? Na televisão, nos jornais. Claro que há. Em todos os órgãos de comunicação. Babam-se. E passam-se, para não dizer outra palavra mais grotesca, quando um político lhes liga. "Que bom, ligaram-me. Que importante que eu sou" [e volta a fazer voz de falsete]. E aquela ligação telefónica passa a ser um veículo para o político e não para o jornalista. Você acha normal que o primeiro-ministro apresente uma iniciativa cinco vezes e que nenhum jornalista tenha a coragem de dizer que ele já apresentou aquilo cinco vezes? Nada. Porque essa gente é incapaz de perguntar, é incapaz de pensar. Sindicato dos Jornalistas, ERC, opinion makers... Estão todos errados quando criticam a sua forma de fazer jornalismo? Sindicato dos Jornalistas? Você sabe como foi a decisão do sindicato sobre as críticas que me fizeram? Vá lá ver se não houve votos vencidos. E veja se eles divulgaram os votos vencidos. Veja o currículo daquela gente que faz aquele programa de imprensa, ou lá o que é aquela porcaria na RTP2 [Clube dos Jornalistas]. [gargalhada sonora]. Veja o currículo daquela gente. Eram todos daquele jornal do PCP, não era o Avante!. Ai, como é que aquilo se chamava? O Diário. Isso! [gargalhada] O currículo deles é esse. Passaram pelo Diário. Ah, e claro, pelo Notícias da Amadora. É o currículo daqueles pobres sem eira nem beira. E o Sindicato dos Jornalistas a mesma coisa. É sempre a mesma coisa. Depois têm uns tachos, estão lá durante décadas e nunca fizeram a ponta de um corno na vida. E acham-se no direito de fazer críticas. A ERC também a criticou... A ERC? A Estrela Serrano? Aquela pérola do jornalismo! Que escreveu aquelas normas básicas para os jornalistas [gargalhada]. Por amor de Deus, andamos a brincar! Mas se a Manuela opina no seu noticiário, essas pessoas, todas essas pessoas que citou, também têm o direito de o fazer... Eu não dou opinião. O que eu digo são coisas do senso comum. Mas é suposto um pivô de telejornal fazer eco do senso comum, ser o repositório do que ouve na rua? Os meus pivôs [textos de ligação entre peças] não são iguais aos dos outros. Sim, isso eu sei. Mas acha que é legítimo terminar um pivô com a expressão "pois!" e os olhos arregalados ou dizer "é sempre a mesma história"? Eu não digo "é sempre a mesma história". Tento contextualizar a informação. Procuro que o meu pivô tenha mais informação, recordando coisas que já aconteceram, procuro relacionar as coisas. E admito que possa ter lá um bocadinho do que eu penso. E isso é legítimo? Claro que é. Normalmente, de um pivô de telejornal espera-se... ... espera-se o quê? Que seja uma alforreca? Que seja idiota? Que seja um autómato? Não, que seja imparcial, equidistante, ponderado... Então metam lá uma boneca insuflável. Acho uma graça... E depois a ERC vem dizer que não ouvimos todas as partes. Isso é de uma desonestidade a toda a prova. A ERC sabe muito bem que não há um único membro do Governo que fale connosco. Toda a gente critica o facto de eu dizer "pois!" ou de arregalar os olhos, mas ninguém comenta a brejeirice dos meus coleguinhas, do piscar de olhos às gajas. Ou aqueles sorrisos depois de uma gaja boa aparecer na televisão. Só falta babarem-se. Essa coisa muito macho, muito de homem. (…) Está ou não está a fazer campanha contra o Governo de José Sócrates? Claro que não. O Governo diz que sim. Diz, diz. O Governo diz muita coisa. (…) Tem limites? [surpreendida] Se tenho limites? Claro que tenho limites. Eu faço os textos com o Vítor Bandarra. Rimo-nos imenso. E muitas vezes temos de pôr um travão em algumas coisas. Mas não nega que gosta de uma boa polémica. Sócrates, Sousa Tavares, Marinho Pinto, José Alberto Carvalho, Judite de Sousa... Porque as pessoas não estão habituadas. Fala aí do Sócrates. Porquê? Não tenho qualquer polémica com o Sócrates. Eu nunca o entrevistei. Ele não deixa. Gostava? Claro. Mas não era como aquelas que lhe fazem. Já alguma vez o primeiro-ministro aceitou ser entrevistado sobre o tema da justiça? Não. Isso, eles não lhe perguntam. (...)

Apache, Setembro de 2009

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Dúvida “inatacável”

“O princípio de que a avaliação de desempenho tem que existir é inatacável.” Valter Lemos, Secretário de Estado da Educação, ao jornal albicastrense “Reconquista” Dúvida: O sistema educativo finlandês é bom, porque os alunos têm boas notas nos testes internacionais [nos PISA de 2006, a Finlândia ocupou o 1.º lugar a Ciências e o 2.º a Matemática e a Leitura, ficando, no conjunto dos testes, no 1.º lugar], ou mau porque não existe nenhum modelo formal de avaliação de professores?
Apache, Setembro de 2009

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

"Summer of 69" - Bryan Adams

Agora que o Verão de 2009 está a chegar ao fim, que tal viajar no tempo, até ao “Verão de 69”? Bryan Adams, ao vivo, no velhinho Estádio José Alvalade, em “Summer of ‘69”.

Apache, Setembro de 2009

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A prova da inexistência de facilitismo

“A notícia de que as reprovações no ensino «básico» e «secundário» caíram vertiginosamente durante os últimos anos apanhou-me desprevenido. Sinceramente, julgava que o Eng. Sócrates e a Sra. ministra já tinham conseguido erradicar total e definitivamente tal calamidade, e que a figura do «chumbo» estava hoje restrita às decisões de Cavaco Silva sobre as leis governamentais. Erro meu. Pelos vistos, ainda há alunos que reprovam. Permitam-me uma pergunta: como? Permitam-me agora uma resposta: não é fácil e, em abono da verdade, há que reconhecer os esforços do Governo em sentido contrário, embora no mesmo sentido dos governos anteriores. Se bem se lembram, foi o presente Ministério da Educação (ME) que alertou para o peso de cada reprovação no sensível bolso dos contribuintes. Foi o ME que transformou a reprovação numa tortura burocrática que Kafka não se atreveu imaginar. Foi o ME que inventou o novo «Estatuto do Aluno», o qual praticamente ilegaliza as «retenções». Foi o ME que vinculou a avaliação dos professores e das escolas às notas dos alunos. Foi o ME que deixou alunos com 8 ou 9 negativas «transitarem» de ano. Foi o ME que dissipou a pouca autoridade que restava aos decentes sobre as crianças. Foi o ME que baixou a exigência dos exames nacionais para níveis acessíveis a uma ou, vá lá, a duas alforrecas. Foi, enfim, o ME que criou as «Novas Oportunidades» de forma a legitimar com diplomas do 9.º e do 12.º anos os analfabetos não legitimados pelo «ensino tradicional». Perante isto, o Eng. Sócrates nega a existência de «facilitismo», o que é um facto se tivermos em conta que, por enquanto, o Estado não distribui doutoramentos por recém-nascidos. (…)”
Alberto Gonçalves (sociólogo), no “Diário de Notícias” de ontem

domingo, 30 de agosto de 2009

Maria de Lurdes Rodrigues, a ministra da barbárie

“O mandato de Maria de Lurdes Rodrigues no ministério da educação teve a característica, aparentemente paradoxal, de ser simultaneamente de continuidade e de ruptura. Esta é mais fácil de descrever do que aquela, uma vez que consistiu basicamente em duas políticas, ambas com raízes extrínsecas à educação e visando fins políticos fora desta área. A primeira destas políticas - a demonização dos professores - serviu sobretudo o projecto político pessoal de José Sócrates. Tratava-se de arranjar um inimigo interno para congregar a população em torno de um líder supostamente forte (refira-se, a talhe de foice, que expressões como «população» e «opinião pública», relevantes da geografia, da sociologia, da comunicação e do marketing político, calham melhor ao estilo deste governo que a palavra «cidadãos», relevante da política na sua vertente nobre). A segunda política de aparente ruptura foi, por um lado, uma política de «o que parece é», e por outro, uma política de favorecimento económico e político a diversas clientelas. Refiro-me às chamadas reformas, tecnológicas ou administrativas, que não tiveram nem estão a ter outro efeito que não seja dar dinheiro a ganhar aos parceiros do «Centrão» no regime de «crony capitalism» que se está a consolidar no nosso país. Vejam-se, a título de exemplo, as manigâncias com o Magalhães e as adjudicações referentes à requalificação do parque escolar - negócios de muitos milhões a que só alguns eleitos têm acesso. Noutra vertente, a política, o novo modelo de gestão veio satisfazer os apetites de caciques locais, de quem se espera agora, como contrapartida, um maior empenho político no enraizamento do PSD e do PS por via da multiplicação de comissariados políticos. De tudo isto, só a melhoria das condições de conforto nas escolas se poderá traduzir num melhor ensino, mas mesmo assim muito menos do que aconteceria se os projectos de engenharia e arquitectura tivessem sido distribuídos a mais empresas e mais pequenas, de um modo mais transparente, e obedecendo a cadernos de encargos na elaboração dos quais tivessem participado os profissionais no terreno, que são quem melhor sabe o que faz falta. Mas a melhoria do ensino nunca fez parte dos objectivos destas políticas; e mesmo a melhoria da «educação» foi, quando muito, um objectivo subsidiário. Se as reformas e as rupturas tiveram origens e perseguiram objectivos exteriores ao sistema educativo, as políticas de continuidade nasceram dentro do sistema e tiveram como objectivo agir sobre ele. Maria de Lurdes Rodrigues nunca rompeu com o gigantismo do seu Ministério, nunca afrontou os interesses duma burocracia que tem que produzir sempre mais leis e regulamentos, sem cuidar da sua qualidade, utilidade, coerência ou racionalidade, para manter os empregos (nos escalões mais baixos da hierarquia) ou o poder (nos escalões mais altos). Manteve, sem quaisquer modificações, uma política de manuais escolares que não serve os alunos, os pais ou os professores, mas se enquadra perfeitamente nos interesses dos editores e livreiros. Promoveu e reforçou as correntes pedagogistas mais convenientes ao interesse das Escolas Superiores de Educação (ESSE’s) privadas. Na sua complacência criminosa com o gigantismo burocrático, com o delírio pedagógico e com o incivismo que grassa nas escolas, Maria de Lurdes Rodrigues não se distinguiu substancialmente de muitos dos seus antecessores. A diferença decisiva está em que estes, embora criados no caldo de cultura das ESE's e do sociologismo, tinham ligações culturais e conceptuais ao exterior deste mundo, ligações estas que lhes permitiam reconhecer pelo menos a existência de algo para além dele. Maria de Lurdes Rodrigues, pelo contrário, só existe neste pequeno mundo e não acredita que haja alguma coisa fora dele. E, não conhecendo outro mundo, também não conhece o seu. Nunca afrontaria a «Nomenklatura» tecnoburocrática do seu ministério porque nem sequer se dá conta da sua existência - tal como um peixe não se dá conta da água. Por isso foi capaz de assinar um Estatuto da Carreira Docente em que as palavras «ensino» e «ensinar» não aparecem uma única vez - nem sequer na parte em que são enumeradas as vinte e nove tarefas e competências dos professores. O que deixa Maria de Lurdes Rodrigues para o futuro? Que dirá dela a História? Dirá, provavelmente, que introduziu mais irracionalidade num sistema que já era irracional. Que se propôs recompensar os bons professores e penalizar os maus, mas impôs para isso uma ferramenta que tem precisamente o efeito oposto. De futuro, se se mantiver o sistema de avaliação e de carreiras que inventou (ou foi copiar ao Chile), os professores beneficiados serão os mais burocratas, os mais carreiristas, os mais chico-espertos, os mais ignorantes, e sobretudo os mais integrados nas redes locais e nacionais de tráfico de influências. Dirá a História, provavelmente, que foi ela quem abriu aos bárbaros as portas da cidade, entregando nas mãos dos «Isaltinos» e dos «Ferreira Torres» uma das últimas instituições públicas portuguesas que ainda estavam relativamente imunes ao caciquismo e à corrupção. Se a civilização é, como se diz, uma corrida entre a escola e a barbárie, Maria de Lurdes Rodrigues será a ministra que pôs peias e freios à escola. Não foi ministra da educação, foi ministra da barbárie.”
José Luiz Sarmento (professor), do blogue “As Minhas Leituras

sábado, 29 de agosto de 2009

Os cartazes da pré-campanha eleitoral

“O cartaz do PS é uma reprodução da bandeira nacional, mas com senhoras verdes à esquerda, senhoras vermelhas à direita, e José Sócrates no lugar da esfera armilar. É possível que as senhoras verdes estejam verdes de fome, e as senhoras vermelhas estejam vermelhas de irritação por estarem desempregadas. Mas tanto as senhoras verdes como as senhoras vermelhas olham para o primeiro-ministro com benevolência, o que leva a acreditar que se trata de uma fotomontagem. Na testa de uma das senhoras vermelhas está o slogan: "Avançar Portugal". Uma agramaticalidade que pode ser mais um efeito da insatisfação social: tendo em conta o estado a que chegou a relação entre o Governo e os professores, é natural que não tenha havido ninguém a avisar o PS de que "Avançar Portugal" não é das frases mais escorreitas que já foram escritas no nosso idioma. Em contraponto, os cartazes do PSD apresentam desde logo uma vantagem cromática: são os únicos que incluem uma senhora que não está verde nem vermelha. Manuela Ferreira Leite aparece com a sua cor natural ao lado de frases que o PSD recolheu junto daquela entidade a que antigamente se chamava "povo" e a que hoje se chama "pessoas". Antes das frases, para que não haja dúvidas sobre a sua autoria, diz: "Ouvimos os Portugueses", assim mesmo, com maiúscula. O PSD, à semelhança do que sucede com os outros partidos, aproveita a campanha para ouvir os portugueses, e faz questão de os escutar com particular atenção agora, uma vez que vai passar os próximos cinco anos a ignorá-los. Há um tempo para tudo. O cartaz do PCP contém a palavra "Mudança" (change, em inglês), e a frase "Sim, podemos ter uma vida melhor" (em inglês, "Yes, we can", etc.). Onde é que eu já ouvi isto? Não me lembro, mas parece-me que a fotografia do cartaz mostra um Jerónimo de Sousa bastante mais bronzeado do que é costume. A campanha dos comunistas portugueses usa os mesmos lemas que a campanha do chefe do imperialismo americano, facto que mais uma vez me obriga a constatar que não percebo nada de política. O cartaz mais arriscado é o do CDS. Ao lado da fotografia de Paulo Portas aparece a frase "Há cada vez mais pessoas a pensarem como nós". "Sim, mas são todos sócios da Autocoope", dirão os cínicos que sistematicamente identificam o discurso do CDS com o dos taxistas. O certo é que a mensagem do cartaz é arriscada na medida em que, para chegar à conclusão de que há cada vez mais pessoas a pensar como o CDS, os democratas-cristãos tiveram forçosamente que fazer uma sondagem. Ora, os democratas-cristãos têm-nos dito com muita insistência que não devemos fiar-nos nas sondagens. Que fazer? Eis um cartaz que estimula o pensamento político mas também o filosófico. Quanto ao Bloco, que eu tenha visto, não tem ainda novos cartazes com as suas principais caras. O Bloco tem, evidentemente, caras para pôr em cartazes, mas talvez não saiba ainda quais dessas caras vão estar nos cartazes do PS. Há que esperar e ver quem sobra.”
Ricardo Araújo Pereira, na “Visão” do passado dia 27

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

As escutas ao Presidente da República

Pelo cartoonista Henrique Monteiro, no seu blogue "HENRICARTOON"

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Houve uma redução para metade, do insucesso escolar?

De acordo com o jornal “Público”, a ministra da educação, Maria de Lurdes Rodrigues, afirmou ontem que os resultados escolares do ano lectivo 2008/2009 revelam uma "redução para metade do abandono e insucesso escolar" nos últimos anos. A diminuição do abandono não é surpresa para ninguém, desde que, através de alteração legislativa (Estatuto do Aluno) e inclusive de instruções ilegais (nomeadamente as da DGIDC), o Ministério da Educação manipulou ardilosamente o conceito de falta injustificada, reduzindo o número de reprovações por ultrapassagem do limite de faltas. Quanto à questão da redução do insucesso, para podermos aferir da veracidade das suas afirmações, impõe-se que explique o que entende por “insucesso”. E já agora, se o incómodo não for muito, esclareça também o que (para si) significa “metade” (por via das dúvidas…) Abaixo, apresentam-se dois gráficos com a evolução (dados oficiais), nos quatro anos de tutela do actual governo, das percentagens de reprovações, e das médias, das quatro disciplinas com mais alunos a exame (Matemática A, Português, Biologia e Geologia e Física e Química A). Recordo que (à excepção do de Português) estes exames são feitos com consulta de formulário e com o uso de máquinas de calcular gráficas e programáveis, para as quais os alunos copiam cadernos e livros.
[Cliquem nas imagens para ampliar]
Apache, Agosto de 2009

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

“E pur si muove”

A foto acima, da Associated Press, publicada no Sunday Telegraph, é uma das fotos mais caricatas do ano. Nashville, Tennessee, 21 de Julho de 2009 (pleno Verão no hemisfério norte), Al Gore (um dos principais responsáveis pela propaganda em volta do alegado aquecimento global antropogénico) acena junto da janela da sua mansão, a um repórter fotográfico da AP, enquanto a neve lhe vai serenamente cobrindo a vidraça.
P.S. Já agora, uma curiosidade em relação ao título:
A frase “no entanto ela move-se” é muito usada em meios académicos para contrariar teorias oficialmente aceites e cientificamente incorrectas. A frase é atribuída a Galileu Galilei, no final do julgamento a que a Santa Inquisição o submeteu por ter defendido publicamente a teoria heliocêntrica de Nicolau Copérnico. No entanto, o mais provável é que Galileu nunca a tenha proferido. Que a Terra se movia em volta do Sol, sabia-o a Igreja há algum tempo, o que a instituição pretendia é que isso não fosse tornado público, daí Galileu ter sido “forçado” a negar publicamente a teoria. A célebre frase terá (ao que consta) sido inventada por Giuseppe Baretti.
Apache, Agosto de 2009

sábado, 22 de agosto de 2009

O alter-ego do “inginheiro”

Carolina Patrocínio, a jovem modelo e apresentadora da SIC, é a mandatária do PS para a juventude. Há dias, num programa da RTP que o vídeo abaixo documenta, disse: “Odeio perder. Prefiro fazer batota, a perder. Gosto de dar nas vistas (no bom sentido). Gosto que reparem. Gosto de ser notada, não gosto de passar despercebida.” E mais adiante: “Odeio os caroços das frutas. Só como cerejas quando a minha empregada tira os caroços para mim. Não como fruta se tiver que descascar. E uvas sem grainha.” São afirmações, ainda que ridículas, desvalorizáveis pela "infantilidade" dos 22 anos da Carolina e pelos mimos que a família (abastada) não parece ter sabido dosear. O que é curioso nesta “estória” é que, com declarações deste tipo, Carolina Patrocínio passa de si, a imagem que temos do “artista” de Vilar de Maçada. Acidentalmente, ou não, o “inginheiro” acaba de descobrir o seu alter-ego.

Apache, Agosto de 2009

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A pedagogia da DGS

“A tão negligenciada literatura de casa de banho acaba de obter o significativo patrocínio do Estado. O recente panfleto que a Direcção-Geral de Saúde espalhou por todas as casas de banho públicas do País é, antes de tudo, inquietante - como toda a boa literatura deve ser. Intitulado "Como lavar as mãos?", o texto começa por ser magistral no modo como manipula a arrogância do leitor para, em primeiro lugar, provocar o riso. Um riso que depressa se torna amargo: em poucos segundos, o mesmo leitor que intimamente escarneceu da intenção de quem se propunha ensinar-lhe insignificâncias é tomado pelo assombro de verificar que nunca, em toda a vida, teve as mãos verdadeiramente lavadas. O panfleto apresenta um plano de lavagem das mãos em 12 (doze) passos, incluindo manobras de esterilização com as quais o cidadão médio jamais terá sonhado. Não haja dúvidas: estamos perante um compêndio da higiene manual e digital, uma bíblia da desinfecção do carpo e metacarpo. Este detalhado e rigoroso guia não deixa nem uma falangeta por purificar. Mas - e isto é que é terrível -, ao mesmo tempo que o faz, esfrega-nos na cara a nossa imundície passada e presente. Ao primeiro passo da boa lavagem de mãos é atribuído, misteriosamente, o número zero: "Molhe as mãos com água." Trata-se, é claro, de um momento propedêutico em relação à lavagem propriamente dita, mas não deixa de ser surpreendente que a Direcção-Geral de Saúde não lhe reconheça dignidade suficiente para lhe atribuir um número natural. O passo número um vem então a ser o seguinte: "Aplique sabão para cobrir todas as superfícies das mãos." É aqui que começa a vergonha. Quem sempre ensaboou não deixará de sentir a humilhação de nunca ter aplicado sabão. A instrução encontra na linguística um cruel elemento diferenciador do grau de asseio: quem sabe lavar-se aplica sabão; os porcos ensaboam-se. Porcos esses que, como é óbvio, olham pela primeira vez para as mãos como extremidades dotadas de uma pluralidade de superfícies. No passo número dois ("Esfregue as palmas das mãos, uma na outra", recomendação acompanhada de um desenho em que duas mãos se esfregam em movimentos circulares contrários ao movimento dos ponteiros do relógio), quem sempre esfregou no sentido inverso, como é o meu caso, sente que desperdiçou uma vida inteira de higiene pessoal. Os passos seguintes fazem o mesmo, embora em menor grau: em terceiro lugar há que "esfregar a palma da mão direita no dorso da esquerda, com os dedos entrelaçados, e vice-versa"; o quarto passo apela a que se esfregue "palma com palma com os dedos entrelaçados"; e o quinto passo aconselha uma fricção da "parte de trás dos dedos nas palmas opostas com os dedos entrelaçados". Bem ou mal, com os dedos mais ou menos entrelaçados, estes passos descrevem esfregas que estão ao alcance da imaginação de qualquer pessoa. A partir daqui, o caso piora de novo. O passo seis determina que se "esfregue o polegar esquerdo em sentido rotativo, entrelaçado na palma direita e vice-versa", em movimentos semelhantes aos que se fazem quando se acelera numa motorizada, e o passo sete recomenda que se "esfregue rotativamente para trás e para a frente os dedos da mão direita na palma da mão esquerda e vice-versa". O cuidado posto nestes preceitos amesquinha quem até aqui se limitava a esfregar as mãos uma na outra, descurando, por exemplo, o papel que os dedos devem desempenhar, e logo rotativamente, na higiene. Enxaguar as mãos é o passo oito. Secar as mãos com toalhete descartável, o passo nove. Mas o passo dez volta a revelar que o processo é complexo: "Utilize o toalhete para fechar a torneira, se esta for de comando manual." A torneira deve, por isso, continuar a correr durante todo o passo nove, provavelmente para prevenir eventuais emergências de enxaguamento, sendo fechada apenas no passo dez. O décimo primeiro passo é o mais interessante: "Agora as suas mãos estão limpas e seguras." A contemplação da limpeza e segurança das mãos constitui, portanto, um passo autónomo neste processo de lavagem manual. No fim da lavagem, falta apenas, com as mãos impecavelmente limpas (e seguras), sair da casa de banho abrindo a porta em que toda a gente mexeu. E, creio, voltar atrás para repetir o processo.”
Ricardo Araújo Pereira, na “Visão”, de ontem (20 de Agosto)

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Dos políticos que temos

Estas declarações têm mais de um ano, mas em vésperas de campanha eleitoral é bom recordarmos que habitualmente só mudam as moscas.
“Os que têm surgido vêm apenas para ganhar eleições, promover-se e repartir vantagens pelos amigos e pelos arrivistas de sempre; usam sem escrúpulos sofismas que só retardam a compreensão das coisas e dificultam a aplicação das decisões essenciais. Montam circos atraentes para impressionar, acenam com «facilidades» que não existem e prometem um «amanhã» que nunca chegará. Servem-se e servem outros.”
Medina Carreira, no Público de 13/06/2008
Apache, Agosto de 2009

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Espelho meu, espelho meu… Há alguém mais bronco do que eu?

A dado momento da acção de propaganda que intentou junto de alguns escritores de blogues, no passado dia 27 de Julho, a que já me referi (por outra razão) anteriormente, José Sócrates afirmou: “O que eu queria dizer é que nós fomos o governo que menos fez”. Detectado o erro, o José emendou para: “que melhor fez”. Para a frase ficar correcta, faltou-lhe acrescentar: actuámos como uma verdadeira bactéria decompositora; de Portugal, muito pouco resta.

Apache, Agosto de 2009