M@M: “Qual é a possibilidade real de o Brasil vir a adoptar o comércio de terras improdutivas exclusivamente para venda de créditos de carbono, como acontece nos EUA, em vez de o uso da terra para produção de alimentos e outros bens, como consequência da inviabilização das mesmas, por via tributária, ou devido ao corte de subsídios à produção de alimentos, etc.?”
Daniela de Souza Onça: “Acho pouco provável que o Brasil destine terras exclusivamente ao sequestro de carbono. O Brasil é uma nação agrícola por excelência, e a notável expansão do agronegócio no país, nos últimos anos, tende a continuar. Além disso, os incontáveis latifúndios improdutivos do país devem manter-se nesta situação.”
Geraldo Luís Lino: “Isso irá depender dos desenvolvimentos que este processo irá ter. Se os 'alarmistas' prevalecerem, num futuro imediato, veremos certamente uma enorme ampliação dos mercados de "créditos de carbono", que poderão abarcar uma vasta gama de iniciativas para arrecadar parte das verbas envolvidas, inclusive negociações com terras. O problema é que, assim como tem acontecido com os mercados baseados em valores financeiros, que tendem a formar 'bolhas' especulativas que, mais cedo ou mais tarde, acabam por estourar, a mesma coisa pode acontecer com os mercados de carbono, que não se baseiam em qualquer processo real de criação de valores económicos, mas em trocas de papéis vinculados, literalmente, a fumaça - ou seja, são 'futuros de fumaça', sem qualquer fundamento económico ou científico real. E, como toda a 'bolha', esta, nalgum momento, acabará também por estourar com prejuízos monumentais, que acabarão por ser partilhados por toda a sociedade, e não apenas pelos directamente envolvidos.”
Luiz Carlos Molion: “Não creio que haja possibilidade de comércio de terras para esse fim, antes de serem estabelecidas regras claras de como seria transferido esse dinheiro para o proprietário. O facto é que temos cerca de 220 milhões de hectares de pastagens, dos quais cerca de 30% (65 milhões) já estão degradadas. A sua recuperação, por qualquer meio, nomeadamente o cultivo: de grãos, de cana-de-açúcar ou a silvicultura, seria de extrema importância para a conservação dos solos. Mas isto tem um custo e ainda não apareceu quem queira arcar com ele. Entretanto, não está descartada a possibilidade de ONG (Organizações Não Governamentais) poderosas - muitas vezes, ao serviço de governos - virem a adquirir terras para esse propósito.”
Ricardo Augusto Felício: “Se isto acontecer, será um dos maiores absurdos que nós poderemos observar no nosso país, embora pessoalmente não veja qual será o limite para essas pessoas, que manipulam as Leis e burlam todos os sistemas, implementarem o que esta 'causa ambiental' exige. Em termos práticos, deixar de produzir alimentos para a nação irá corresponder a um aumento geral de preços para o consumidor. Deve-se ter cuidado, porque este tipo de situação também pode ser manipulado, ou seja, às vezes o alimento existe mas alguém poderá utilizar a desculpa do 'aquecimento global' para dizer que não existe. Desta maneira, inflacionarão os preços através de uma situação fictícia. Coisas deste tipo já acontecem nos países dos Andes. Um bom exemplo é a quinoa. Para os povos dos Andes, dizem que ele não existe ou é escasso, mas os brasileiros encontram-no aqui, nos principais mercados, a 'preço de ouro', claro!”
Apache, Maio de 2011