A azul, o nível do mar nas Maldivas, nos últimos 500 anos. A cor-de-rosa, a estimativa máxima de subida até ao final do século.
(1) Nos últimos 2000 anos, o nível do mar apresentou 5 picos que oscilaram entre os 60 cm e 1,2 m acima do nível actual; (2) Entre 1790 e 1970 o nível do mar esteve cerca de 20 centímetros mais elevado do que hoje; (3) Na década de setenta, o mar baixou cerca de 20 centímetros, vindo a situar-se no nível actual; (4) O nível do mar manteve-se estável nos últimos 30 anos, o que significa que não se justifica qualquer alarmismo sobre a sua subida; (5) Assim, estamos em condições de libertar as Maldivas (e as restantes ilhas e costas de baixa cota, mundo fora) da condenação de se verem alagadas, num futuro próximo. Quando eu era presidente da Comissão INQUA sobre “Alterações do Nível do Mar e Evolução Costeira” (1999-2003), despendemos bastante esforço nesta questão das alterações futuras do nível do mar. Após estudos de campo intensivos e discussões em cinco reuniões internacionais, a Comissão concluiu que no máximo, a subida esperada até ao ano de 2100 é de 5 centímetros, com uma margem de erro de ±15 centímetros (conforme indicado na figura apresentada). Tais mudanças implicam efeitos pequenos ou insignificantes. Na figura podemos ver que o tal pequeno aumento não traria nenhuma ameaça para as Maldivas. Quando muito, tal subida corresponderia a um retorno às condições naturais existentes entre 1790 e 1970, ou seja, o mar retomaria a posição antes do abaixamento verificado nos anos setenta. Aplica-se aqui a mesma história sem senso, repetida para várias outras áreas do globo, de que o nível do mar está a subir e que já há enchentes a ocorrerem: Tuvalu, Vanuatu e Veneza (Mörner, 2007b). Convém referir que, a tendência global resultante dos dados obtidos pelos altímetros dos satélites sofreu uma correcção manual para que pudesse revelar uma tendência crescente (Mörner, 2008), que na realidade nunca foi medida. Portanto, Sr. Presidente, quando você ignora os factos disponíveis, se recusa ao normal diálogo democrático, e continua a ameaçar o seu povo com um imaginário de enchentes já em andamento, acho que está a cometer um grave erro. Vamos ser construtivos. Vamos discutir os factos observáveis. Vamos continuar e alargar os nossos estudos do nível do mar para outros locais no enorme atol das Maldivas. E deixe-nos, pelo amor de Deus, levantar o fardo psicológico terrível que você e o seu antecessor colocaram sobre os ombros de todo o povo das Maldivas, que vivem agora com a ameaça imaginária que as inundações em breve os expulsarão de suas casas, porque isto mais não é senão uma ficção de poltrona, artificialmente construída por um simples programa de computador cujos resultados, se têm constantemente provado estarem errados, por meticulosas observações do mundo real. A reunião que efectuou, sob as águas, não é senão um artifício ou uma acrobacia política. Al Gore é um mestre nestas fantasias baratas. Mas estas condutas são desonestas, improdutivas e, acima de tudo, não científicas.
Estocolmo, Suécia, 20 de Outubro de 2009
Nils-Axel Mörner Chefe de Paleogeofísica e Geodinâmica da Universidade de Estocolmo, Suécia (1991-2005) Presidente da Comissão INQUA sobre “Alterações do Nível do Mar e Evolução Costeira” (1999-2003) Líder do “Projecto Nível do Mar nas Maldivas” (desde 2000) Presidente do projecto INTAS sobre “Geomagnetismo e Clima” (1997-2003) Premiado com a medalha de ouro de Mérito da Universidade do Algarve (2008) "pela sua irreverência e contribuição para nossa compreensão das alterações do nível do mar.” [Tradução minha]
Apache, Novembro de 2009