terça-feira, 9 de março de 2010

Era para escolher?

Citando a “Lusa”, o “Diário de Notícias” de ontem informa que os prejuízos causados recentemente pelo mau tempo (que ascendem a mil e quinhentos milhões de euros) quase davam para pagar a terceira ponte sobre o Tejo, orçada (segundo a notícia) em mil e setecentos milhões de euros. Muitos argumentos se poderiam esgrimir sobre a utilidade e os custos dessa infra-estrutura, mas não é esta a discussão que nos propõem. O que nos apresentam é algo diferente, com o qual os mais distraídos nem sonhavam: a possibilidade de optarmos por um temporal ou uma ponte nova. Ok, para a próxima já sei o que escolher. E a velhota do 3º esquerdo, com quem me cruzei à hora do almoço, também. Manda dizer que está disposta a trocar a próxima chuvada por dois pares de cuecas novas e uma peúgas mais quentinhas.
Apache, Março de 2010

segunda-feira, 8 de março de 2010

Um Óscar e uma tesoura s.f.f.

O dia mais machista do calendário (o dia internacional da mulher) ficou marcado pela cerimónia dos Óscares. Uma das surpresas (ou talvez não, afinal este é o terceiro prémio individual em 3 meses (dois de melhor e um de pior)) da longa noite de domingo (madrugada de segunda-feira, em Portugal) foi o Óscar de melhor actriz para Sandra Bullock, a miúda (de 45 anos) que além das típicas taras ambientalistas (muito comuns em Hollywood) e daquele estranho beijo em Meryl Streep, conjuntamente com algum jeito para certos personagens, ainda mantém um intermitente gosto por roupas, como esta, que só apetece rasgar.
Apache, Março de 2009

sábado, 6 de março de 2010

quinta-feira, 4 de março de 2010

‘Lellos’

“Enquanto se confirma que uma empresa pública pagou a Luís Figo para vir a Portugal apoiar o eng. Sócrates por um dia, um pedacinho do País debate o caso de Inês Medeiros, que o público em geral paga para vir a Portugal apoiar o eng. Sócrates todas as semanas. Embora eleita deputada pelo círculo de Lisboa, a sra. Medeiros não está para habitar pocilgas e por isso vive em Paris, cidade a que regressa às sextas-feiras. Como nem em trânsito a sra. Medeiros tolera convívio excessivo com a ralé, as viagens decorrem em classe executiva. Infelizmente, na Assembleia da República alguns não compreendem essas necessidades básicas e, numa demonstração de ressentimento muito portuguesa, há quem proponha que a senhora financie as deslocações do próprio bolso. O PS, naturalmente, discorda, e José Lello sugeriu que retirar os privilégios à sra. Medeiros seria "pôr em causa a livre circulação dos cidadãos europeus". Eu, confesso, ignorava que a ausência de bilhetes em "executiva" à custa do contribuinte desrespeitasse um dos princípios basilares da União. Porém, já que falam nisso, é verdade que até aqui sentia a minha capacidade circulatória um tanto condicionada e não sabia a razão. Agora sei, pelo que aproveito para apelar aos valores de Maastricht e exigir, não na qualidade de cidadão europeu, voos regulares e com tratamento VIP rumo a Florença, Praga, Londres e Edimburgo. A sra. Medeiros apenas deseja a rota Lisboa-Paris. E é da maior importância que os portugueses a ajudem a realizar a sua pretensão por via de manifestações, petições e, se preciso for, donativos directos. Em primeiro lugar, porque não nos devemos arriscar a que a sra. Medeiros nos prive do seu extraordinário desempenho parlamentar, de resto evidente no sorriso irónico com que ela encara cada reunião da Comissão de Ética. Em segundo lugar, porque se o eng. Sócrates for impedido de angariar apoiantes no estrangeiro depressa começará a ter dificuldades em consegui-los cá dentro. Bem sei que, além do sr. Figo e da sra. Medeiros, os comentários da Internet estão repletos de louvores apaixonados do primeiro-ministro. Mas, justamente a julgar pelo grau da paixão, os seus autores também não vivem em Portugal: vivem na Lua ou no aparelho do PS, o que hoje em dia é quase o mesmo.”
Alberto Gonçalves, no “Diário de Notícias” da passada sexta-feira

segunda-feira, 1 de março de 2010

Obrigadinho, Zé!

Num encontro com professores socialistas, o Primeiro-Ministro, José Sócrates, citado pelo jornal "Público" garantiu que “não há sucesso económico sem melhor educação.Esqueceu-se de definir o que entende por “sucesso económico” e por “educação”, assim, é impossível o contraditório e, falando sem nada se dizer vai-se passando por douto. Tecendo elogios à actual Ministra da Educação, enfatizou “o êxito político notável das negociações que conduziu com os sindicatos do sector para duas reformas essenciais. Subentende-se idêntico elogio aos sindicatos do sector, que conduziram com a ministra negociações para duas reformas essenciais. Essenciais, para eles (sindicatos, ministra e consequentemente Governo) porque os professores foram, uma vez mais, ignorados (para ser politicamente correcto). Em relação à avaliação dos docentes e ao estatuto da carreira disse que as “reformas começaram por ser controversas mas já estão interiorizadas e consensualizadas.” Interiorizadas foram-no, seguramente, como comprovam as (ainda na memória) manifestações de 100 e 120 mil docentes. Quanto ao “consenso” é uma expressão que está muito na moda aplicar, sempre que uma determinada ideia é alvo de forte e fundamentada contestação e não há argumentos válidos para a defender. Obrigadinho pelo reconhecimento, Zé!
Apache, Março de 2010

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Foi declarada a nulidade dos estatutos e consequente extinção da FNE

“Por sentença de 23 de Novembro de 2009 da 8.ª Vara — 3.ª Secção do Tribunal da Comarca de Lisboa, transitada em julgado em 11 de Janeiro de 2010, proferida no processo n.º 2206/08.5TVLSB, que o Ministério Público moveu contra a FNE — Federação Nacional dos Sindicatos da Educação, foi declarada a nulidade dos estatutos e a consequente extinção da referida federação sindical por os estatutos violarem o n.º 4 do artigo 479.º e o n.º 1 do artigo 492.º, todos do Código do Trabalho. Assim, nos termos do artigo 456.º do Código do Trabalho, aprovado pela Lei n.º 7/2009, de 14 de Setembro, é cancelado o registo dos estatutos da FNE — Federação Nacional dos Sindicatos da Educação, efectuado em 4 de Novembro de 1982, com efeitos a partir da publicação desta notícia no Boletim do Trabalho e Emprego.” O texto acima vem publicado na página 622 do Boletim do Trabalho e Emprego n.º 7, Volume 77, de 22 de Fevereiro de 2010, pelo que, desde a passada terça-feira que a FNE (Federação Nacional dos Sindicatos da Educação), segunda maior organização sindical de professores, em Portugal, deixou de existir.
Apache, Fevereiro de 2010

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Mais um boy

«O filho dum amigo meu não acabou curso nenhum, deram-lhe o nono ano sem saber ler nem escrever, chamaram-no para uma tarefa sigilosa, forneceram-lhe um PC portátil e um e-mail confidencial, um telemóvel com cartão de pré-pagamento e disseram-lhe que quando lhe encomendassem tarefas, teria de obedecer. Pode trabalhar em casa, sem horários, recebe em dinheiro e não faz perguntas nem descontos. O rapaz anda feliz. Limita-se a reenviar mails e sms com comentários a artigos e notícias em jornais, e com ameaças aos destinatários que lhe indicam e que, viria ele a descobrir mais tarde, são os autores desses escritos. Há momentos em que há mais que fazer. Mas nos tempos mortos, fornecem-lhe historietas e anedotas para o rapaz distribuir pelos endereços electrónicos que lhe indicam, desacreditando uns e deixando boas impressões de outros. À observação de ser um erro não descontar para a segurança social, o filho do meu amigo diz que não é preciso. ”Deram-me um número de telefone e, se precisar de alguma coisa, alguém cuida de mim”. E se alguém pergunta o que faz na vida? ”Ora, digo que sou informático, ou que trabalho para o Estado, ou que sou consultor do Governo. Depende! É conforme! Mas eu gostava era de estar na equipa que escreve os textos”…»
Joaquim Letria, no jornal “24 horas” da passada quarta-feira

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Retrato (rápido) do país

“Nos últimos dias sucederam-se peças altamente perturbadoras sobre a situação da nossa Justiça ao mais alto nível, com a comunicação social a demonstrar que o PGR terá contornado o rigor dos factos numa ida ao Parlamento e amanhã um jornal a assinalar coincidências demasiado graves para nos sentirmos a viver num país onde reste um pingo de seriedade no mundo da política, economia e justiça, tudo assim com letra pequena. Ver alguém colocado numa empresa com a dimensão da PT, cujo currículo se resume a criar uma ferramenta de propaganda para a ascensão do Grande Líder, refugiar-se em declarações aos deputados numa cadeia de comando para justificar as suas acções e alegar factos desmentidos poucas horas depois, ao mesmo tempo que uma deputada chic observa tudo com ar entediado, ocupando-se com qualquer coisa (não percebi se seria telemóvel ou caixa de pó de arroz) para desanuviar o seu evidente desinteresse pelo que se passava diante de si, deixa-me uma sensação de enorme repulsa pelo estado a que tudo isto vai chegando, numa espiral que parece não ter forma de acabar. Eu sei que é redundante fazer este tipo de discurso pessimista, decadentista, mas é impossível observar isto e não sentir algo de profundamente visceral, no pior dos sentidos. Uma sensação de claustrofobia perante as teias e os cordelinhos que tudo tentam controlar. Ver o ponto a que chegou o desplante de arrivistas que ascenderam na base do mais descarado clientelismo, aparentemente com uma sensação de impunidade que só pode ter nascido da certeza de protecção superior. Eu sei também que esta não passa de uma variação do discurso que analistas e opinadores como Pacheco Pereira ou Vasco Pulido Valente desenvolvem há muito tempo. Mas é quase impossível não ver isto tudo deste modo turvo. E não nos sentirmos diariamente ofendidos na nossa (mesmo que escassa) inteligência. Há tempos alguém me dizia que eu não sou esperto, que o mundo e as vantagens estão do lado dos espertos. O contexto era outro, mas aplica-se que nem uma luva ao que observamos por estes dias. Um estado de calamidade que não se decreta para não pagar reembolsos a turistas, aparelhistas de segunda linha a controlar negócios de milhões, isaltinos a quererem aparecer como moralizadores do estado, pequenos-almoços negociados para patego consumir. Ainda há horas alguém me escrevia que eu pareço emocional ou mentalmente perturbado. Não me choquei. É verdade. Estou sinceramente perturbado com tudo isto, por ser exactamente como eu sempre soube que era, depois de o ter imaginado e vislumbrado muito antes. Porque, como em várias outras coisas, eu nem queria ter razão e ver provadas as minhas mais negras teorias. Não há um polvo, mas vários polvos, de que sentimos, por vezes apenas de passagem, os tentáculos. Vários polvos em disputa. Pela supremacia num mar em que pretendem tudo agarrar ou, se alguém resiste, asfixiar. Portugal não está amordaçado. Portugal não está sem liberdade de expressão. E, de certa forma, tudo o que se está a passar o demonstra. Mas Portugal está gravemente doente e chega a ser extraordinário como ainda resiste. A disputa pelo que resta açambarcar até 2013 está ao rubro. É disso que se trata. Há um par de semanas, alguém – com um olhar preocupado e parcialmente externo – me perguntava se isto tem salvação e quem pode ainda salvar Portugal, pois está por um fio. Respondi que sinceramente não sei, pois não consigo ver quase nenhum recanto que não esteja salpicado por lama. A lama que cuidadosamente, ao longo de anos, houve o cuidado de depositar em vários pontos, antes de ligar a ventilação e a espalhar por todo o lado, na forma de favores, cheques, posições, contratos, acordos, cumplicidades, e tudo aquilo que todos sabemos, da micro-escala do pequeno feudo à macro-escala dos negócios orçamentais de grande porte. E nós, a grande maioria limita-se a observar em estado de crescente entorpecimento, com exaltações cívicas pontuais que nem sequer muitos percebem ser instrumentalizadas exactamente para servirem de escape passageiro para as frustrações e tudo manterem na mesma. Discutindo a percentagem acrescida da nova penalização para as aposentações antecipadas. Enquanto outros se lambuzam. Isto está mesmo – de novo – uma imensa choldra.”
Paulo Guinote, autor do blogue “A educação do meu umbigo”

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

“O sexto sentido de Estado”

“Quando, na semana passada, o PS desafiou a oposição a apresentar uma moção de censura ao Governo, a política portuguesa ficou subitamente mais difícil de compreender. Os nossos políticos, que são pessoas bastante lineares, curiosamente produzem uma política muito complexa. Resumindo, o que se passa é isto: neste momento, Portugal tem um Governo que não se demite mas acha que a oposição devia demiti-lo, e uma oposição que não o demite mas acha que ele devia demitir-se. O primeiro-ministro deseja controlar os jornais, mas não consegue evitar que os jornais o descontrolem. E acusa os jornalistas de fazerem jornalismo de buraco de fechadura quando a porta está, na verdade, escancarada. Façamos uma história breve do que tem sido o Governo de Portugal nos últimos anos. Primeiro, Durão Barroso saiu, porque foi chamado pela Comissão Europeia. Sócrates não sai mesmo que lhe chamem tudo. Pelo meio, Santana também saiu, mas contra a sua vontade. Um sai porque quer, o outro sai sem querer e o último não sai nem que toda a gente queira. Antes de Durão, já Guterres saíra, porque tinha coisas combinadas e o Governo do País atrapalhava-lhe a agenda. Dos últimos quatro primeiros-ministros, só 50% quis manter-se no lugar, facto que imediatamente os torna suspeitos. O actual Governo está mergulhado em escândalos de vários tipos. Quem pode fazê-lo cair é o grupo parlamentar do PSD onde se encontra, por exemplo, António Preto, mergulhado em escândalos de vários tipos. Ou o Presidente da República, Cavaco Silva, cujos amigos e membros dos seus anteriores governos se encontram envolvidos em escândalos de vários tipos. O eleitor está um pouco confuso e com razão: é difícil optar entre tantos escândalos. Qual dos envolvidos em escândalos é o mais indicado para livrar o País destes escândalos? Eis uma questão difícil. Bom, sou capaz de me ter deixado levar pelo ambiente de suspeição que temos vivido. Vistas friamente, as acusações ao primeiro-ministro acabam por ser frágeis. É difícil sustentar que Sócrates quer acabar com a comunicação social quando verificamos que foi ele quem mais fez, nos últimos tempos, pela leitura de jornais. Para sermos justos, teremos de reconhecer que Sócrates acabou com os jornais, sim, mas nas bancas. Acabou com eles porque, por sua causa, a edição esgotou-se e teve de se fazer outra. Quem, no meio de tudo isto, poderá conduzir o País? Quem nunca esteve envolvido num caso obscuro, nunca teve cargos de responsabilidade em governos desastrosos, nunca recebeu dinheiro de Manuel Godinho? É possível que exista alguém que corresponda a este perfil, mas terá certamente menos de 10 anos. E colocar um menor de 10 anos no Governo do País poderá ter consequências trágicas: o País ficaria de certeza sem rumo, com o desemprego elevadíssimo, e manietado por uma crise profunda. Nem quero imaginar o que poderia acontecer.”
Ricardo Araújo Pereira, na “Visão” da passada quinta-feira

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Os “camaradas papagaio”…

Há quem pense que a “cassete” é propriedade exclusiva da esquerda. Santa Ingenuidade. A “cassete” é típica da generalidade dos angariadores de adeptos (seja de causas políticas, religiosas, etc.) e dos vendedores (sejam eles de bens, de serviços, ou de ideias). Os camaradas papagaio (reprodutores incansáveis da “cassete”) mais mediáticos são, na sua maioria, políticos e comentadores políticos que ocupam a totalidade do espectro partidário, mas também abundam nas ciências sociais (principalmente na economia) e, pasme-se começam a proliferar que nem cogumelos nas ciências exactas. Têm uma característica comum, são (como diria a outra) “fraquinhos no discernimento” mas, apesar disso, ou talvez por isso, são muito úteis aos interesses instalados. O José Luís Sarmento, autor do blogue “As minhas leituras” traça (pela transcrição da “cassete” do “rigor salarial”) um fidelíssimo retrato de um “camarada papagaio”. “Se há perigo de inflação, é preciso conter os salários. Se há perigo de deflação, é preciso conter os salários. Se a crise é económica, é preciso conter os salários. Se a crise é financeira, é preciso conter os salários. Se não estamos em crise, é preciso aproveitar para melhorar a competitividade - e portanto conter os salários. Se o défice das contas do Estado está alto, é preciso conter os salários. Se o défice das contas do Estado está baixo, é preciso não entrar em euforia - e conter os salários, claro está. Se o desemprego está alto, é preciso encorajar as empresas a empregar mais gente - o que só se consegue contendo os salários. Se o desemprego está baixo, os salários tendem a subir - e portanto contê-los é mais necessário que nunca. Finalmente percebi. Não vale a pena perguntar em que circunstâncias é que os salários podem aumentar: a resposta politicamente responsável e tecnicamente rigorosa é que não podem aumentar em circunstâncias nenhumas.”
Apache, Fevereiro de 2009

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

“Liberdade de pressão”

“É uma questão que tem sido colocada várias vezes: a internet vai acabar com os jornais? Finalmente, temos a resposta: só se José Sócrates não acabar com eles primeiro. O primeiro-ministro tentou controlar o défice e não conseguiu, tentou controlar o desemprego e não conseguiu, tentou controlar a comunicação social e esteve perto de conseguir. Acaba por ser justo que o plano tenha falhado. Era o que faltava que Sócrates fosse eficaz no que lhe interessa e ineficaz no que interessa ao País. Este caso tem essa dimensão muito reconfortante: ora até que enfim que o primeiro-ministro sofre com a inabilidade política do primeiro-ministro. Apesar disso, todos gostaríamos que José Sócrates colocasse nos assuntos do Estado o mesmo empenho que coloca nos seus assuntos. Que, em vez de Mário Crespo, o desemprego fosse um problema que teria de ser solucionado. Que, em lugar de uma operação financeira para adquirir a TVI, se empenhasse numa operação financeira para reduzir o défice. Talvez falhasse na mesma, mas ficaríamos com a sensação de que teria feito um esforço maior…”
Ricardo Araújo Pereira, na “Visão” do passado dia 11

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Mais uma prova...

“Sempre que escrevo sobre o "aquecimento global", e reconheço que o faço com frequência e com o cepticismo que as aspas sugerem, sou acusado de estar do lado oposto à credibilidade. Durante algum tempo, porém, supus que a tal credibilidade fosse sinónimo dos cientistas e activistas que vivem a expensas de interesses diversos e não liguei. É difícil ligar a sujeitos que, como tem sido notório, distorcem, omitem e inventam informação de modo a legitimar (digamos) as respectivas teses. O problema é que, quando parecia desacreditada de vez, a tese da influência humana no clima ganhou enfim um defensor acima de qualquer suspeita. Falo, é claro, de Bin Laden, cuja mais recente (e atribuída) gravação é inteiramente dedicada à preocupação com as "alterações climáticas". Para cúmulo, a intervenção segue passo a passo o cânone do género e inclui visões apocalípticas, evocação do Tratado de Quioto, críticas aos EUA e a George W. Bush e, num acto de ecumenismo, citações de um judeu. A evidência ecuménica diminui se se disser que o judeu se chama Noam Chomsky. Ainda assim, o testemunho de Bin Laden é arrasador para os cépticos. Eu, pelo menos, confesso-me inclinado a começar a acreditar no "aquecimento global", sobre o qual apenas aguardo a confirmação de Ahmadinejad e daquele canibal que manda na Guiné Equatorial para abolir as aspas, aderir à Quercus, berrar contra o capitalismo americano e engrossar as fileiras credíveis.”
Alberto Gonçalves, no “Diário de Notícias” de 4 de Fevereiro
Ahmadinejad é um descrente da propaganda ocidental. O canibal da Guiné Equatorial, mais cedo ou mais tarde, papam-no. A lengalenga do morto mais palrador (e mediático) é a gota de água que faltava (se é que faltava alguma) para transbordar o copo da credibilidade da negociata. Pelo que, apesar de muitos (nos quais me incluo) subscreverem várias das críticas ao Jorginho dos arbustos, não vislumbro grande número de futuras adesões à associação portuguesa de chaparros.
Apache, Fevereiro de 2010

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Os tais 150 mil empregos…

Despacho n.º 26368/2009 “(…) nomeio (…) Sílvia Simões Esteves para exercer funções de adjunta do meu Gabinete (…) Este despacho produz efeitos a 26 de Outubro de 2009 (…) O Primeiro -Ministro, José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa.” Despacho n.º 26369/2009 “Exonero (…) Sílvia Simões Esteves das funções de adjunta do meu Gabinete (…) Este despacho produz efeitos a 30 de Outubro de 2009 (…) O Primeiro -Ministro, José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa.” Despacho n.º 26370/2009 “(…) nomeio (…) Paula Alexandre Cunha Coelho Ferreira para exercer as funções de secretária pessoal do meu Gabinete (…) Este despacho produz efeitos a 26 de Outubro de 2009 (…) O Primeiro -Ministro, José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa.” Despacho n.º 26371/2009 “Exonero (…) Paula Alexandre Cunha Coelho Ferreira das funções de secretária pessoal do meu Gabinete (…) Este despacho produz efeitos a 30 de Outubro de 2009 (…) O Primeiro -Ministro, José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa.” Despacho n.º 26384/2009 “(…) nomeio (…) Sílvia Simões Esteves para exercer funções como adjunta do meu Gabinete (…) O presente despacho produz efeitos a partir de 31 de Outubro de 2009 (…) O Secretário de Estado Adjunto do Primeiro -Ministro, José Manuel Gouveia Almeida Ribeiro.” Despacho n.º 26385/2009 “(…) nomeio (…) Paula Alexandre Cunha Coelho Ferreira para exercer funções como minha secretária pessoal. (…) O presente despacho produz efeitos a partir de 31 de Outubro de 2009 (…) O Secretário de Estado Adjunto do Primeiro -Ministro, José Manuel Gouveia Almeida Ribeiro.”
Nomeio, exonero, nomeio, exonero, nomeio… Ainda falta muito para chegar aos 150 mil?
Apache, Fevereiro de 2009

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Quero uma licenciatura em marketing pelo instituto português da coisa!

“Eu não sei quem é esse tal Rui Pedro Soares, o boy sem cv que aos 32 anos foi alçado a administrador-executivo da PT pelo Estado, a ganhar escandalosamente mais num ano do que o meu marido ganhou em toda a vida, ao longo de 40 anos como servidor do Estado nos mais altos escalões. Socialista encartado, dizem. Será, nunca dei por ele, que eu saiba nunca sequer me cruzei com ele. Fraquinho no descernimento [julgo que pretendia escrever discernimento, uma vez que, numa versão anterior do texto escreveu “atrasado mental” onde se lê agora “fraquinho no descernimento”] é, de certeza. Porque se não quis encalacrar os socialistas, foi exactamente isso que logrou ao accionar uma providência cautelar para impedir a saída do jornal SOL com mais escutas das suas ruminações telefónicas, justamente numa semana em que os socialistas procuraram desmentir quem clamava contra a falta de liberdade da imprensa. E se investiu para abafar o jornal, a criatura também não percebeu que, ao contrário, projectava ainda mais longe a radiação solar. Com bóis [numa primeira versão do texto, em vez da palavra “bóis” estava escrito “ruminantes”] destes, para que servem ao PS os boys?”
Ana Gomes, Eurodeputada socialista, ontem, no blogue “Causa Nossa
Para quem não está a par da “estória”, Rui Pedro Barroso Soares é o licenciado em Gestão de Marketing pelo Instituto Português de Administração de Marketing e ex-candidato à liderança da Juventude Socialista, que desde 2006, por proposta da Caixa Geral de Depósitos e do Banco Espírito Santo, exerce o cargo de administrador executivo da ‘holding’ do Grupo PT, auferindo o módico salário de 1373 contos por dia (2,5 milhões de euros por ano). Rui Pedro, um dos envolvidos nas escutas do processo “Face Oculta” tentou, através de uma providência cautelar (aceite pelo tribunal) impedir que a edição de hoje do “Sol” publicasse escutas envolvendo o seu nome, tendo mesmo, ao que consta, solicitado ao tribunal que fossem apreendidos todos os exemplares do jornal.
Apache, Fevereiro de 2009

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A Média das Temperaturas dos continentes (a 09 de Fevereiro de 2010)

Já aqui tinha escrito que “temperatura média do planeta” (é assim que muito boa gente a designa) é uma expressão sem significado físico. O que habitualmente aparece referenciado como tal é, na realidade, a média das temperaturas fornecidas por cerca de 1200 estações meteorológicas terrestres e alguns milhares de bóias marítimas (escolhidas conforme dá jeito à propaganda que se quer “vender”). Os valores que se obtêm seriam substancialmente diferentes, se as estações meteorológicas escolhidas para calcular a média fossem outras. Não é, portanto, possível, determinar com rigor científico o valor da temperatura média do planeta. A título ilustrativo calculei a temperatura média de cada continente, usando as 180 temperaturas mais elevadas e as 180 mais baixas (de anteontem) recolhidas na página do OGIMET (que usa dados divulgados pela NOAA). A excepção a este método foi aplicada à Antárctica, que dispõe de apenas 75 estações meteorológicas no seu território, tendo sido achada a média das máximas e das mínimas de todas as estações. Os valores obtidos (em graus Célsius) são os seguintes: África: 23,11; América do Norte e Central: -0,86; América do Sul: 25,29; Antárctica: -9,01; Ásia: -3,47; Europa: -3,24; Oceânia: 26,51. [Convém recordar que estamos em pleno Verão, no Hemisfério Sul, sendo (obviamente) Inverno no Hemisfério Norte. A Terra passou, há cerca de mês e meio atrás, pelo ponto de máxima aproximação ao Sol, da sua órbita, estado agora a afastar-se até ao solstício de Junho] Calculando a média (simples) dos valores obtidos, chegamos a 8,34 ºC. [Note-se que esta é a média global das temperaturas continentais e que 71% da superfície do planeta está coberta pelos oceanos.] Mas como sabemos, os continentes têm dimensões bastante diferentes, por isso, se calcularmos a média total, ponderando as áreas de cada continente, chegamos ao valor de 6,97 ºC para média das temperaturas de “terra emersa” a 1,5 metros do solo (quase 1,4 ºC inferior ao valor acima calculado). Se outro método fosse usado, valores diferentes seriam obtidos. É portanto ridículo (por mais contas que façamos) dizer que há provas irrefutáveis de que a temperatura média do Planeta subiu nos últimos 150 anos. O que subiu foi a média de valores de temperatura, que hoje o GISS e o CRU calculam usando determinadas estações meteorológicas, por comparação com a média das temperaturas de há 50, 100 ou 150 anos, calculadas com dados de outras estações noutros locais.
Apache, Fevereiro de 2010

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A precipitação com a precipitação

Infelizmente, por malvadez, incúria, ou ignorância, vários crimes graves de lesa-ambiente têm sido praticados pela humanidade, no entanto, tais actos restringem-se à escala local, pois a quantidade total de matéria planetária (sólida, líquida ou gasosa) manipulada pelo homem é insignificante, por comparação à massa do planeta (às massas de águas oceânicas, ou à massa da atmosfera). Localmente (entenda-se uma aldeia, ou uma cidade; um lago ou um rio) a actividade humana, pode, não só, criar graves problemas ambientais, como repará-los, assim haja vontade política e disponibilidade económica. No entanto, generalizou-se a ideia, inicialmente propagada pelas organizações ecologistas e posteriormente repetida na comunicação social por caçadores de subsídios à investigação (de honorabilidade duvidosa) que se auto-intitulam cientistas, por industriais e banqueiros a quem o dinheiro fácil inebria, e por políticos ávidos de manipulação de massas, que o homem consegue alterar o clima, à escala global e, ainda por cima, fá-lo de forma prejudicial ao ambiente, perturbando o (na versão deles) frágil equilíbrio do planeta. No final dos anos setenta e início da década de oitenta “venderam-nos” o “buraco do ozono” antropogénico (no qual fomos acreditando sem exercer espírito crítico, confiando nas competências de quem o anunciava). Percebemos tarde que se trata de uma das mais estúpidas teorias científicas até à época apresentadas. Confiantes na capacidade de manipulação, cerca de 10 anos depois, vieram com a teoria (ainda mais aberrante) do “aquecimento global” antropogénico. Tomam-nos por tolos e de curta memória, quanto mais não seja, por apontarem o dióxido de carbono como principal responsável, quando nos anos setenta foi apontado como causador de um “arrefecimento global antropogénico”. As contínuas notícias de secas devastadoras têm sido anunciadas na comunicação social, nas últimas décadas, com se algo substancialmente diferente (por comparação com 50 ou 100 anos antes) se esteja a passar actualmente. O gráfico que a seguir se apresenta (da responsabilidade de um dos organismos que sustenta a propaganda idiota; para que não se diga que se trata de obra de leigos ou “descrentes”) é da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), o equivalente nos Estados Unidos, ao nosso Instituto de Meteorologia e mostra a variação anual da quantidade total de chuva (em litros por metro quadrado, no eixo vertical) caída no planeta, anualmente (datas no eixo horizontal), entre 1900 e 2008. O valor “zero” representa a média do período em questão. Da análise do gráfico conclui-se que não houve nenhuma tendência significativa nestas (quase) onze décadas, apenas uma ligeira diminuição da precipitação nos primeiros 15 anos do século XX. A partir daí, os períodos "mais secos" têm alternado com outros "mais chuvosos", a cada 3 a 5 anos.

Apache, Fevereiro de 2010

sábado, 6 de fevereiro de 2010

“O juízo final ou a falta dele”

“Quando, em Março ou Abril últimos, a gripe A chegou aos noticiários, previ aqui que os milhões de mortos anunciados resultariam em coisa nenhuma ou quase nenhuma. Não foi uma previsão arriscada. Se acertasse, cá estaria para lembrar "Eu não avisei?" Se falhasse, a carnificina teria sido tão vasta que os restos da humanidade andariam mais ocupados a enterrar cadáveres do que a confrontar as opiniões de humildes colunistas, entretanto também provavelmente falecidos por acção do H1N1. Numa altura em que a gripe A praticamente sumiu, em que o número das respectivas baixas anuais ronda os 3% das da gripe comum e em que distintas personalidades vêm aos bandos acusar a OMS de inventar uma falsa pandemia em prol das farmacêuticas, apraz-me cumprir um ritual e proclamar (ligeiro rufar de tambores, por favor): "Eu não avisei?" É evidente que os meus dotes premonitórios aproveitaram uma característica de todas as catástrofes anunciadas: não passam dos anúncios. Sempre que os responsáveis globais e caseiros pela saúde pública antecipam uma qualquer mortandade a pretexto dos porcos, das galinhas, das vacas e dos bichos que calham, é garantido tratar-se de histeria infundada. Com, vá lá, uma virtude: se não posso jurar que visem beneficiar a indústria farmacêutica, pelo menos as sucessivas histerias médicas revelam a sua falsidade em questão de meses. Muito piores, excepto para as indústrias que deles beneficiam, são os apocalipses a médio ou longo prazo, isto é, os que em vez de prometerem a desgraça para o inverno que vem, imitam as Testemunhas de Jeová e marcam o Julgamento para 2025 ou 2050, datas que adiam, ou no mínimo complicam, a confirmação da fraude. O exemplo clássico é o do "aquecimento global", que há anos influencia políticas e enriquece os pioneiros das "energias alternativas". Apenas recentemente se abriram brechas "mediáticas" no consenso de que a acção do homem arruinaria o clima em poucas décadas. Hoje, as sugestões de manipulação ou pura trafulhice nos dados "oficiais" tornam-se uma trivialidade entre os especialistas do ramo (há dias, foi o principal conselheiro científico do governo britânico a pedir "honestidade"; uns dias antes, fora o próprio organismo da ONU para o clima, o alarmista-mor IPCC, a reconhecer "erros grosseiros"). Tudo isto aconselha a desconfiar das instituições? Em parte. Mas a parte maior da desconfiança deve recair sobre a humanidade, que engole cada patranha com recorrência curiosa, para não dizer assustadora. "Uma mentira exige duas pessoas: uma para mentir, outra para escutar." O autor da frase é, claro, Homero, o dos "Simpsons" e não o da "Ilíada". O futuro está inteirinho nos clássicos.”
Alberto Gonçalves, no “Diário de Notícias” de 28 de Janeiro

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

"Desfolhada" – Simone de Oliveira

Poema escrito em 1968 por José Carlos Ary dos Santos, com o título “desfolhada portuguesa”, foi em 1969 renomeado para “desfolhada”. Nesse ano, com música de Nuno Nazareth Fernandes e orquestração de Joaquim Luís Gomes vence o Festival da Canção, interpretado pela voz colossal da Simone de Oliveira.

“Corpo de linho lábios de mosto meu corpo lindo meu fogo posto. Eira de milho luar de Agosto, quem faz um filho fá-lo por gosto. É milho-rei milho vermelho, cravo de carne bago de amor. Filho de um rei que sendo velho volta a nascer quando há calor. Minha palavra dita à luz do sol nascente meu madrigal, de madrugada amor, amor, amor, amor, amor presente em cada espiga desfolhada. Minha raiz de pinho verde meu céu azul tocando a serra. Oh minha água e minha sede, oh mar ao sul da minha terra. É trigo loiro é além Tejo, o meu país neste momento. O sol o queima o vento o beija, seara louca em movimento. Minha palavra dita à luz do sol nascente meu madrigal, de madrugada amor, amor, amor, amor, amor presente em cada espiga desfolhada. Olhos de amêndoa cisterna escura onde se alpendra a desventura. Moira escondida moira encantada lenda perdida lenda encontrada. Oh minha terra, minha aventura. Casca de noz desamparada. Oh minha terra, minha lonjura, por mim perdida, por mim achada.”
Apache, Fevereiro de 2010

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O derreter da mentira

Num longo artigo de 6 páginas (16 a 21), desnecessariamente sensacionalista, que faz a capa desta semana, da revista indiana “Open”, o jornalista Ninad Sheth escreve sobre a fraude das alterações climáticas, mostrando-se impiedoso com Rajendra Pachauri e com o IPCC (Painel Intergovernamental da ONU para as Alterações Climáticas) a que ele preside, apelidando-os de “máfia das alterações climáticas”. Na capa lê-se que: “é agora claro que o relatório sobre aquecimento global, que permitiu ganhar o Prémio Nobel, está cheio de exageros imprecisões, conclusões ilógicas e mentiras.” No interior, logo abaixo do título do artigo, acrescenta: “Foi apresentado como um facto. O IPCC, liderado pelo famoso Rajendra Pachauri chegou a anunciar que havia consenso sobre o assunto. O mundo estava a aquecer e os humanos eram os culpados. Despejou um monte de mentiras.” Mais adiante: “Nunca tão poucos enganaram tantos por tanto tempo, nunca.” E continua: “A verdade é que o mundo não está a aquecer significativamente. Nem os glaciares dos Himalaias vão derreter em 2035 como foi afirmado. Nem há nenhuma ligação entre desastres naturais como o furacão Katrina e o aquecimento global. Tudo isto é puro disparate, ou se preferirem, ‘não-ciência’.” [Tradução minha] O artigo pode continuar a ser lido aqui. Por um lado, é de saudar que a comunicação social comece a despertar para o chorrilho de mentiras convenientes que umas centenas de políticos, na generalidade ignorantes e umas dezenas de cientistas maioritariamente corruptos, propagaram durante cerca de 20 anos. Mas por outro, é caso para perguntar onde esteve a comunicação social nestas últimas duas décadas? E já agora, por onde anda a dignidade e o profissionalismo dos cientistas que se mantiveram e permanecem calados a esta e a várias outras mentiras ridículas que caçadores de subsídios, auto-denominados cientistas, venderam no último meio século e infestam o ensino das ciências mundo fora?
Apache, Fevereiro de 2010

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O texto de Mário Crespo a que a direcção do JN negou publicação

“O fim da Linha”
“Terça-feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento. O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa. Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil («um louco») a necessitar de («ir para o manicómio»). Fui descrito como «um profissional impreparado». Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal. Definiram-me como «um problema» que teria que ter «solução». Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o. Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): «(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)». É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos. Sem esse confronto só há ‘Yes-Men’ cabeceando em redor de líderes do momento dizendo ‘yes-coisas’, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados. Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser «um problema» que exige «solução». Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre. Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos «problemas» nos media como tinha em 2009. O «problema» Manuela Moura Guedes desapareceu. O problema José Eduardo Moniz foi «solucionado». O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser «um problema». Foi-se o “problema” que era o Director do Público. Agora, que o «problema» Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais «um problema que tem que ser solucionado». Eu.” Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada.” Este é o texto que Mário Crespo escreveu para ser hoje publicado, na habitual coluna semanal de opinião que o jornalista tem mantido no “Jornal de Notícias”, mas que a direcção do jornal se recusou a publicar e que marca, nas palavras do jornalista, o fim da sua colaboração com o diário.