quinta-feira, 19 de novembro de 2009

“A Terra a quem a enxovalha”

“A UNFPA [United Nations Population Fund], uma das múltiplas derivações da ONU, declarou o controlo demográfico indispensável à inversão do «aquecimento global». Uma ideia disparatada? Um bocadinho, mas dentro do disparate mais vasto a que a histeria ecológica chegou é admirável que alguém retire enfim as conclusões devidas das suas premissas. Se, no entender da histeria, as «alterações climáticas» e o «aquecimento global» são responsabilidade do homem, não adianta combater o capitalismo, o progresso técnico e os EUA: a solução é ir directamente à fonte e combater o homem. Para já, o objectivo explícito é a redução da natalidade, o que desloca o problema do Ocidente estéril para África e certa Ásia. Em princípio, o problema resolve-se mediante campanhas de esclarecimento (ou o método «a bem»). Caso as tribos do Níger ou do Mali não fiquem esclarecidas, prossegue-se através da esterilização forçada (ou o método «a mal»). Caso a natalidade não se deixe circunscrever de todo, será imperioso actuar sobre outras variáveis, especificamente a mortalidade (ou o método «a pior»). Aqui, abrem-se inúmeras opções, bastando decidir entre as rápidas, do envenenamento em massa ao bombardeamento maciço, e as limpas, dos fuzilamentos colectivos à paulada na nuca. As segundas têm a desvantagem da lentidão, as primeiras prejudicam os ecossistemas. Há que ponderar, escolher e agir com sensatez, na certeza de que a humanidade está a mais e o importante é deixar a Terra entregue aos bichos, o que, dada a importância concedida à ONU e aos senhores que na ONU «estudam» o ambiente, não parece um cenário muito distinto do actual."
Alberto Gonçalves, no “Diário de Notícias” de hoje

domingo, 15 de novembro de 2009

Será que só os holandeses foram enganados?

A notícia é do passado dia 26 de Agosto (de 2009) e resulta de uma entrevista dada por Xandra Van Gelder (Editora da revista “Eye of the Rijkmuseum”) à rádio holandesa, RTV, mas só foi popularizada dois dias depois, pela BBC News. Após o regresso à Terra da missão Apolo 11 (em Julho de 1969), os astronautas, Neil Armstrong, Michael Collins e Edwin Aldrin, fizeram uma visita a vários países, tendo algumas das pedras recolhidas na (alegada) alunagem sido oferecidas a várias entidades. A 9 de Outubro de 1969 estiveram na Holanda e ofereceram uma pequena rocha lunar ao então Primeiro-Ministro holandês, Willem Drees. Mais tarde, após a morte de Drees, a família doou a rocha ao Rijkmuseum (um museu de Amesterdão) tendo-lhe sido feito um seguro no valor de 100 mil florins. Dada a recente polémica sobre a autenticidade da rocha, Wim Van Westrenen da Universidade de Vrije conseguiu uma autorização para a analisar, tendo os testes efectuados confirmado tratar-se de uma rocha terrestre, de madeira petrificada. Instado a pronunciar-se sobre a questão, o Embaixador dos Estados Unidos na Holanda disse não ter nenhuma explicação para o facto. Quantas mais rochas lunares falsas terão os astronautas da Apolo 11 oferecido, nas visitas que efectuaram a cerca de 100 países?
P.S. Um belíssimo (e enorme) exemplar de madeira petrificada está exposto no Museu Geológico, em Lisboa.
Apache, Novembro de 2009

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A minha religião é melhor que a tua

"Oitenta e quatro por cento dos italianos discordam do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, que dias antes proibira (?) os crucifixos nas escolas públicas do país. Dado o número, é de admitir que os ateus de lá não possuam a fina sensibilidade dos ateus de cá, os quais, através de umas agremiações excêntricas, aplaudem a sentença e pedem a sua imediata importação. Segundo percebi, temem que a ingerência religiosa, assim exposta e abusiva, traumatize as criancinhas. É capaz de ser um receio exagerado. Não me lembro se na minha sala da "primária" havia crucifixos. Lembro-me de que fora da sala havia uma igreja inteira, que contemplei da janela durante quatro anos. Além da igreja, existiam nas imediações oito capelinhas e uma filial da Santa Casa da Misericórdia. A escola, pública e laica, chamava-se "do Adro" e no adro jogávamos à bola. Contas feitas, marquei inúmeros golos e não sofri qualquer trauma, excepto nas canelas. Nunca experimentei apetites de frequentar a missa ou a catequese, provavelmente porque os meus pais vagueavam naquele tipo de ateísmo em que a religião não chega a ser assunto. Ao contrário dos peculiares ateus que não pensam noutra coisa. Se querem poupar as criancinhas à imposição religiosa, os progenitores talvez fizessem melhor em ignorar os crucifixos e dirigir o combate para, por exemplo, o "ambientalismo" recorrente nos currículos e "actividades" escolares. Nas cabeças dos petizes, nenhuma cruz na parede tem uma fracção do impacto provocado pela doutrinação de patranhas sobre o "aquecimento global" e o papel do homem nas mudanças climáticas. O "ambientalismo" não é uma religião? É, sim senhor. Se não bastassem os seus mitos e os seus santinhos para o atestar, agora um tribunal britânico deu razão a um trabalhador alegadamente despedido em nome das respectivas "crenças ecológicas". De acordo com o juiz, o "credo ambiental" (sic) merece ser tão protegido da discriminação quanto os credos "tradicionais". Em suma, estamos oficialmente no domínio da pura fé, com a agravante de que as proezas da Greenpeace não são exactamente o Cântico dos Cânticos e o "documentário" de Al Gore não é o "S. Mateus" de Bach. Não tenho um único argumento favorável à presença dos crucifixos, mas a preocupação com o bem-estar das criancinhas implica resguardá-las de todas as manipulações, sobretudo das ideológicas que, legitimadas pelo espírito da época, tomaram de assalto a "educação" e obrigam a referi-la entre aspas. Perdida em preciosidades que vão do "ambiente" à educação sexual, passando pelo "multiculturalismo" e pelos enigmas que cabem na "educação cívica", a escola contemporânea abdicou daquilo que a escola do meu tempo, mesmo com uma igreja de Nicolau Nasoni a 50 metros e com doses variáveis de sucesso, ainda tentava: ensinar. Curiosamente, ou poucos protestam tamanha ingerência na liberdade alheia ou poucos os ouvem."
Alberto Gonçalves, no “Diário de Notícias” de hoje

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

"Ursos"

Ainda que se trate de um artigo recente, já vários blogues o replicaram. No entanto, pela coragem do autor (não só pelas afirmações, ‘per se’ relevantes, mas também pela assunção pública da dependência profissional dos subsídios estatais) bem como da direcção do jornal (que autorizou a publicação), entendo não ser demais deixar, também aqui, a versão integral do artigo que o Investigador Universitário, Fernando Gabriel, publicou no “Diário Económico” da passada quarta-feira. “Ao longo das próximas semanas é possível que o número de ursos nos telejornais seja francamente superior à média. Serão provavelmente ursos polares, acompanhados por uma colecção de ameaças apocalípticas: extinção de espécies, desaparecimento de neve nos glaciares e nos cumes das montanhas, secas, inundações. Tudo, claro, a acontecer a um ritmo "muito mais rápido do que se supunha" e tudo por causa do aquecimento global. Aproxima-se a cimeira de Copenhaga e o derradeiro esforço de propaganda do gigantesco ‘lobby' ambientalista está em marcha. O objectivo é forçar os governantes ocidentais a comprometerem-se com um conjunto de medidas cujos efeitos previsíveis são uma catástrofe económica auto-infligida sem precedente histórico. Para cooperarem com a demência ambientalista, países como a China e a Índia exigem cerca de 300 mil milhões de dólares por ano, um montante equivalente a 1% do PIB das economias mais desenvolvidas. Em cima deste suborno de proporções épicas ainda há que pagar o "preço" da cooperação africana - 267 mil milhões de dólares ano, e das economias sul-americanas - mais umas modestas centenas de milhares de milhões. Um estudo do instituto Open Society calculou que as políticas ambientais da UE implicariam um custo total anual de 102 mil milhões de dólares até 2020. O custo do programa americano de direitos de emissão de poluição em apreciação no Senado equivale a um imposto anual mínimo de 1600 dólares por família americana e mesmo que obtivesse a redução prevista nas emissões americanas de CO2 teria um impacte nas emissões globais inferior a 4% e portanto um efeito negligenciável. Imperturbáveis pelo abismo económico à frente dos pés, os puritanos ecológicos seguem firmes na convicção de que o martírio é o caminho para a salvação - a reconversão "sustentável" da economia ocidental, que trará consigo mel, morangos e milhões de novos empregos. Obama já prometeu 5 milhões de empregos "verdes", mas em matéria de delírio ambientalista, Zapatero há muito que saiu disparado das ‘boxes' e o exemplo espanhol é elucidativo: desde 2000, cada emprego subsidiado nos sectores ditos ambientais implicou a perda de 2,2 empregos nos restantes sectores da economia. O novo livro de Christopher Booker, The Real Global Warming Disaster (Londres, 2009) faz a crónica da longa caminhada que trouxe o ocidente até este ponto de suicídio económico. É uma história de receios apocalípticos, com origem no Clube de Roma, onde a ideia de utilização do "ambientalismo" como um instrumento para a criação de um governo mundial começou a ganhar forma. É uma história de abastardamento e politização da ciência através de um sistema de incentivos financeiros tragicamente errado; de manipulações, mentiras, e silenciamentos em nome de um "consenso" falso e falsificado, que é e será mantido porque gerou uma enorme massa crítica de interesses financeiros, intelectuais e políticos que dele dependem. A imposição desta teleologia milenarista não é só indesejável: é imoral e necessita de ser contrariada por todos os meios.”
Apache, Novembro de 2009

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Do “Prós e Contras” sobre a Gripe A (de 2 de Novembro)

Como já vem sendo habitual neste programa, cerca de duas horas de pseudodebate sobre a “Gripe A” e respectiva vacina, pouco contribuíram para a explicação das principais dúvidas, quer sobre o vírus em si, quer sobre a segurança e (principalmente) eficácia da vacina. As questões mais pertinentes sobre o tema (quer prévias, quer resultantes das intervenções atabalhoadas de alguns convidados), não chegaram sequer a ser colocadas, a saber: Que diferença (concreta) existe entre o vírus H1N1 da “Gripe A” e o vírus H1N1 do tipo A da “Gripe Sazonal”? Ou se preferirem, quantos vírus H1N1 diferentes estão actualmente em circulação? Francisco George, Director-Geral da Saúde afirmou no início do debate [link para a 1ª parte do programa] que a ordem para fabricação de vacinas para o hemisfério norte é dada em Fevereiro. Como foi possível dar ordem em Fevereiro para a elaboração de uma vacina contra a “Gripe A” se o vírus foi identificado (segundo palavras do próprio) em Atlanta, a 7 de Abril? E por que é que o mesmo Francisco George afirmou há dias, no programa “Diga lá excelência” que esta vacina estava a ser preparada pela Novartis desde 2001, quando a estirpe comum às três vacinas disponíveis na Europa (da Glaxo (em Portugal), da Novartis e da Baxter) é a Califórnia/7 de 2009? Quem sofre a mutação mais rápida, o H1N1 ou o neurónio de Francisco George? Uma vez que parte significativa da histeria em volta da “Gripe A” resulta das estatísticas do número de infectados e do número de vítimas mortais, importa esclarecer se esse número se refere a infecções com o H1N1 da “Gripe A” ou se inclui também os infectados com H1N1 da “Gripe Sazonal”? Ou será que os testes efectuados não permitem distinguir os dois?
Sabendo-se que em vários países do hemisfério Norte, o vírus gripal actualmente mais activo é o H3N2, por que não são efectuados testes e divulgadas estatísticas sobre o número de infectados por cada estirpe de vírus? Havendo constante mutação dos vírus da gripe por que é que a vacina da “Gripe Sazonal”, colocada este ano no mercado, contém duas estirpes de vírus do tipo A, H1N1 e H3N2, de 2007, respectivamente a Brisbane/59 e a Brisbane/10, as mesmas do ano passado? O representante do Infarmed referiu que a necessidade de adjuvante [link para a 2ª parte do programa] na vacina da “Gripe A” se prende com a falta de vírus para produzir tantas vacinas. Falta de vírus, com tantas centenas de milhar de infectados? E o cultivo em laboratório? Um dos três fabricantes produziu a vacina sem adjuvante, terá o monopólio da reprodução dos vírus? Por que se insiste tanto na distinção entre esta “Gripe A” e a “Gripe Sazonal" quando a OMS, para o hemisfério Sul, para 2010, recomenda para a vacina da “Gripe Sazonal” as estirpes A: H1N1 Califórnia/7/2009 (que agora faz parte da vacina da “Gripe A”) e H3N2 Perth/16/2009; e a estirpe B Brisbane/60/2008 (a mesma deste ano)? O H1N1 Califórnia/7/2009, este ano é da “Gripe A” mas para o ano é da “Gripe Sazonal”? Que probabilidade tem, de não contrair gripe (neste Outono/Inverno), alguém que seja vacinado com os dois tipos de vacina existentes no mercado (“Gripe A” contra o H1N1 (do tipo A) e “Gripe Sazonal” contra o H1N1, o H3N2 (ambos do tipo A) e uma estirpe do tipo B) se só do tipo A se conhecem 144 estirpes diferentes (numeradas de H1 a H16 e de N1 a N9) e a acreditar nas palavras dos responsáveis, há vários vírus diferentes dentro de cada estirpe?
Apache, Novembro de 2009

terça-feira, 3 de novembro de 2009

"Por Ella" - Roberto Carlos

Em castelhano

Apache, Novembro de 2009

domingo, 1 de novembro de 2009

Da Liberdade

“Sem sustentação económica não se é livre. Com um desemprego brutal não se é livre. Com 700 mil funcionários públicos, com medo que o colega vá denunciá-lo; com um SIS que não se sabe o que faz... não se é livre.”
Medina Carreira, em entrevista ao “Jornal de Negócios”, no passado dia 23

sábado, 31 de outubro de 2009

Nunca vais saber

"Nunca vais saber a sombra que fere o olhar o sorriso breve sem luz no caminho longo a fechar... Nunca vais saber o longo vácuo infinito a saudade já a sangue gravada na mudez nua de um grito... Nunca vais saber a lágrima quente na cama os olhos de seda rasgada o gelo firme na chama... Nunca vais saber a mão crispada e vazia o desejo insano mordido na intensidade do dia... Nunca vais saber o luar que me corre nas veias das noites, de prata vestidos e loucuras tecidas a meias... Nunca vais saber que és tu quem eu trago comigo que és tu quem me assalta ao acordar com um susto quente no peito... Nem nunca vais saber que sonho sempre contigo e que à noite... em ti me aconchego, e que é em ti que eu me deito... Não! Tu nunca vais saber..."
MCB 2008
De uma amiga (grande na escrita) que hoje é pequenina, a quem aproveito para dar os parabéns e desejar muitas felicidades

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Uma aventura no Ministério da Educação

Depois de na passada quinta-feira termos ficado a saber que a nova Ministra da Educação é a coordenadora do Plano Nacional de Leitura, Maria Isabel Girão de Melo Veiga Vilar, conhecida como co-autora da colecção infantil “Uma Aventura”, pelo pseudónimo literário de Isabel Alçada, foram hoje tornados públicos os nomes dos dois secretários de estado que completam a equipa. A saber: José Alexandre da Rocha Ventura Silva (que Maria de Lurdes Rodrigues havia colocado à frente do Conselho Científico para a Avaliação de Professores, órgão que criou para lhe validar os devaneios avaliadores, também conhecido pelos seus estudos independentes, “parecidos” com os da OCDE) e João José Trocado da Mata (“ex-criado” de dona Lurdes no ISCTE, actual Director-Geral do Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação e Coordenador do Plano Tecnológico da Educação). Por comparação aos anteriores inquilinos da “5 de Outubro”, o ministério fica a ganhar na embalagem, sobretudo na qualidade dos fatos e dos perfumes e na linguagem melosa, mas quanto ao conteúdo, espera-se o mesmo cinismo, a mesma hipocrisia, a mesma falta de conhecimento do terreno, a total ausência de ideias válidas. Particularmente no que respeita à líder da equipa, não só, não cultivo grandes ilusões, como, na generalidade, subscrevo o que Santana Castilho (bem ao seu estilo) escreveu no Público de ontem.
“Aqui me têm como sou, dizendo aos que têm a generosidade de me ler o que me vai na alma. Não sou hipócrita nem cultivo falsos respeitos. Se vejo claro o que aí vem, por que insípida postura me iria escudar em convenientes benefícios de dúvida? Qual benefício para quem afirmou, com sorriso de leste a oeste, à espera dos aplausos da plateia, dar o seu “inteiro apoio à política educativa que tem vindo a ser seguida” e considerar “que é importante a prossecução e aprofundamento do trabalho que tem vindo a ser realizado”? Esta é a segunda referência escrita que faço à actual ministra da Educação. A anterior já me valeu 3 mimos: inconveniente, radical e extremista. Assim seja. Sou inconveniente para os dissimulados e radical para os que se especializaram em protelar. Aceito o extremismo. Mas mais extremistas que eu são os que atacaram extremamente os professores, a escola pública e o ensino sério. E esses vão continuar, enquanto não se lhes responder de forma extremamente resoluta. De Isabel Alçada conheciam-se meia centena de livros de fantasias para crianças. Mas nenhuma ideia expressa sobre Educação, para adulto ler. Hoje já temos 3 discursos políticos, bem recentes, e um quadro de comunicação não verbal, que só escapa aos incautos. Tudo visto, são discursos que revelaram uma organização de ideias confrangedora, recheados dos clichés repetidos ad nauseam durante os últimos 4 anos, medíocres do ponto de vista da semântica e da construção frásica, onde os erros de concordância surpreendem. Ficou-lhe mal elogiar tanto o seu Plano Nacional de Leitura. Esse e o da Matemática. Os planos nacionais são expedientes a que se recorre quando as primeiras instâncias falham e não se sabe corrigir o que está mal. Custam muito dinheiro, jogado em cima do que já existe para obter os mesmos resultados. No caso da leitura, o plano sucedeu a anos a menosprezar o ensino do Português, a substituir os clássicos por panfletos de cordel e a tornar a gramática para crianças numa charada de linguistas. No que toca à Matemática, entregou-se a concepção e a execução do plano aos que tinham sido apontados como responsáveis pela situação que o mesmo se propunha corrigir. Sem mais! Esta é a sinopse do verdadeiro contexto de elogios ocos. Ficou-lhe mal dizer que o Magalhães e o plano tecnológico nos tinham colocado na primeira linha do desenvolvimento. São tiques de deslumbramento terceiro-mundista, sem credibilidade, que minam o desejável recato de qualquer começo. Ficou-lhe mal a alusão encomiástica às novas oportunidades e ao ensino profissional. Os professores sabem que, descontadas poucas situações de funcionamento sério, uma e outra iniciativa são farsas e manipulações grosseiras das pessoas e das instituições. Ficou-lhe muito mal a protecção que deu à clausura das crianças na escola, de sol a sol, e a cobertura que não regateou à moderna escravização administrativa dos docentes. Foi-lhe desfavorável a versão, inverosímil, segundo a qual o convite e a aceitação surgiram momentos após a sua declaração pública em contrário e escassas horas antes do anúncio oficial. Aceitaram os que acreditam no Pai Natal. Numa palavra, fez o suficiente para que nenhum professor prudente acredite nela. Para início e em tão pouco tempo, pior seria difícil. Não espanta que Isabel Alçada seja ministra sem anteriormente ter sentido necessidade de dizer o que pensa do sistema educativo. Sócrates pensará por ela. Lurdes Rodrigues já pensou por ela. Aliás, no fim da cerimónia de remodelação governamental, a agora ex-ministra foi profética quando sublinhou, repetidas vezes, com o cinismo que a caracteriza, a sua muita confiança no novo governo. Os mais atentos sabem que tem razão, porque Isabel Alçada não tem identidade política. Melosa e sorridente, foi alistada para continuar a contar histórias, agora aos professores. Da política tratará Sócrates, Silva Pereira, Santos Silva e Francisco Assis. Fala-se muito no poder da Assembleia da República para corrigir os erros de política educativa da anterior legislatura. Mas desvaloriza-se, nessa fé, a circunstância de Sócrates não os reconhecer. Desvaloriza-se, nessa compreensível ânsia de sacudir um jugo de 4 anos, que uma coisa é a cavalgada fácil do descontentamento generalizado, para colher votos, outra é entender a importância estratégica da Educação. Como tal, a realidade mostra que os partidos, todos os partidos, a ignoram. Imediatamente após ter sido indigitado primeiro-ministro, Sócrates assumiu, para espanto dos sensatos, que tanto lhe dava uma coligação com o PSD, como com o PCP, CDS ou BE. Revelou assim, sem delongas, a ideologia do PS que lidera e a manhosice que porá na navegação táctica que se segue. Na peugada, aliás, recordo-o para os de memória curta, de Soares e Guterres: o primeiro meteu rapidamente o socialismo na gaveta, para governar com o CDS; o segundo trocou sem rebuços a coerência política por umas fatias de queijo Limiano. Com este pano de fundo, espera-nos uma aventura de curvas à direita e contra-curvas à esquerda. No primeiro cruzamento, podemos ser surpreendidos por um paradoxo: para suspender tacticamente um modelo de avaliação do desempenho que já não existe, reforçaremos estrategicamente um poder que se instala sob a nossa ingenuidade. Não me entendem? Estejam atentos aos próximos capítulos!”
Apache, Outubro de 2009

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Quero uma bola de cristal igual à da Novartis

Em entrevista concedida ao programa “Diga lá Excelência”, da Rádio Renascença e do jornal Público, transmitido pela RTP2 no passado dia 23, Francisco George, Director-Geral da Saúde afirmou que sabiam [julgo que se refere aos dirigentes da DGS] que “uma nova epidemia de gripe ia acontecer”. Deduzia-se do diálogo mantido com as entrevistadoras (Joana Benárd da Costa e Romana Borja-Santos), que tamanha certeza não era mais que uma mera previsão baseada na periodicidade de epidemias passadas. Mas eis que, a certa altura da entrevista [concretamente aos 13:54 do vídeo] afirma: “A vacinação, para o vírus que veio a emergir, foi preparada mesmo antes da emergência do vírus. Em 2001 recebemos, na Direcção-Geral da Saúde (DGS), cientistas da Novartis que estavam a preparar a nova vacina.” Francisco George afirma assim, que a vacina destinada a prevenir a “Gripe A” (cujo plano de vacinação se inicia hoje) preparada a partir de vírus inactivados (do tipo H1N1) cujas primeiras infecções em humanos (de acordo com a OMS) foram detectadas em Abril do corrente ano, e que a revista Visão já havia noticiado (tal como referi) ter sido patenteada pela Baxter em 2007, afinal, estava a ser preparada pela Novartis (com o conhecimento da DGS) desde 2001.
Começou a ser preparada uma vacina, com o vírus causador da doença, oito anos antes do surgimento do dito? “Há coisas fantásticas, não há?!”
Apache, Outubro de 2009

domingo, 25 de outubro de 2009

E se a ignorância não legislasse?

A comentadora Maria referiu, e bem, no texto abaixo publicado, que a Portaria n.º 1226/2009, de 12 de Outubro, é extensiva aos Primatas, sem qualquer exclusão. Assim é, de facto. Lê-se na referida portaria que “é proibida a detenção de espécimes vivos”, excepto se devidamente autorizados pelo ICNB (Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade). A lista de espécimes proibidos inclui todas as espécies de primatas, [1.2 do anexo I] ordem na qual nos incluímos.
Ficam portanto, as autoridades competentes, alertadas para o facto de, desde o passado dia 13 do corrente mês de Outubro de 2009, por Portaria dos senhores Ministros do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional e da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, ser proibida, em território nacional, a detenção de humanos vivos, bem como a reprodução dos actualmente em cativeiro.
Apache, Outubro de 2009

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

A aldeia dos zelotas

Através da Portaria n.º 1226/2009, de 12 de Outubro, o Governo, proibiu a aquisição de uma série de espécies de animais, ditos selvagens, bem como a reprodução dos actualmente detidos pelos seus legítimos proprietários. É longa, a lista de animais, cuja posse é agora proibida, estendendo-se, por exemplo, dos felinos aos cetáceos, ou das avestruzes às tartarugas. Segundo se lê no texto da ridícula Portaria, “a aprovação destas medidas de proibição ou condicionamento da detenção de espécimes vivos de determinadas espécies prende-se, no essencial, com motivos relacionados com a conservação dessas espécies, com o bem-estar e a saúde desses exemplares e com a garantia da segurança, do bem-estar e da comodidade dos cidadãos em função da perigosidade, efectiva ou potencial, inerente aos espécimes de algumas espécies utilizadas como animais de companhia”. Ou seja, as pessoas escolhem para “animais de companhia” animais “potencialmente ou efectivamente perigosos” e o Governo, através de alguns dos seus iluminados membros, no caso, os Ministros do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, e da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, vem a terreiro protegê-los, enquanto em simultâneo, proibindo a sua reprodução, zela pela preservação das espécies em causa. Na prática, a portaria em causa, teria (se alguém a levasse a sério) como principal consequência “cultural popular”, o fim, a médio prazo, da utilização dos animais no circo. E como efeito social, a lenta mas persistente tendência castradora dum Estado com cada vez mais tiques totalitários. Mas sobre isto, escreveu o sociólogo Alberto Gonçalves, no “Diário de Notícias” da passada sexta-feira: “Infelizmente, a lei que a prazo acabará com os animais selvagens nos circos não promete acabar com os animais teoricamente racionais que a inventaram. O presidente do Instituto da Conservação da Natureza, entidade irónica num país em que a natureza é periodicamente arrasada por construtores e incendiários, justifica a medida com a saúde pública e a segurança. Ignoro quantos milhares de pessoas os macacos do “Chen” e os tigres do “Cardinali” mataram até hoje. Porém, estimo em milhões as vítimas desta senha reguladora que aos poucos procura, e aos poucos vai conseguindo, censurar-nos a comida, o tabaco, o álcool, o sedentarismo, o automóvel, o jogos, os noticiários críticos do Governo e, em suma, tudo o que ainda distingue o homem civilizado da bicharada, selvagem ou outra. Às vezes penso se os pequenos zelotas da padronização foram escolhidos para cargos públicos por serem assim ou ficaram assim depois de alcançar os cargos. A psiquiatria explicará. Para já, suspeito da primeira hipótese: além do Estado, não faltam na "sociedade civil" sujeitinhos sempre dispostos a apoiar ou instigar medidas repressivas. Veja-se, no caso dos animais, as associações do ramo. Conheço algumas e, salvo excepções dignas, nunca lhes notei a menor preocupação com o bem-estar dos bichos. Em compensação, aflige-os imenso que alguém os possa ter, gostar deles e ser retribuído. Os macacos e os tigres circenses são evidentemente um pretexto. Ou um início. A insignificância que dirige uma Associação Animal apareceu a avisar que a nova lei não basta: é urgente abolir todas as criaturas não humanas do circo. Entre parêntesis, diga-se que seria preferível abolir o dito: notoriamente, para ver palhaços não é necessário comprar bilhete e entrar numa tenda. Fora de parêntesis, sabe-se como estas coisas começam e tenho um palpite sobre como podem acabar. Nem aprecio circos, mas é possível que tarde ou cedo o Estado e os parasitas que lhe habitam as franjas estendam o instinto totalitário à privacidade dos lares. No meu, onde convivo babado com quatro rafeiros adoráveis, não lhes prometo uma recepção simpática: se se quer de facto proteger as espécies, aconselho a não deixar a dos pequenos zelotas à solta.”
Apache, Outubro de 2009

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Vai um mergulho, nas águas das Maldivas?

[Imagem de parte do exterior do “Anatara Resort & Spa”, hotel de 5 estrelas situado numa ilha privada do sul das Maldivas.]
As Maldivas (ocupadas pelos portugueses, durante cerca de 15 anos, na segunda metade do século XVI) são um arquipélago de mais de mil pequenas ilhas, de clima tropical húmido, situadas em pleno Oceano Índico, a sudoeste do Sri Lanka (4º Norte; 73º Este), com uma população estimada em cerca de 400 mil habitantes. Apesar das excelentes condições para a prática da agricultura e dos quase 500 mil visitantes por ano, as Maldivas importam a maior parte dos alimentos e apresentam um Produto Interno Bruto per capita típico de um país do 3º mundo (cerca de 4400 dólares por ano (aproximadamente 1/5 do nacional [Fonte:CIA]). No passado sábado, o “Público” anunciava que o governo das Maldivas reuniu debaixo de água para alertar para as alterações climáticas. Este tipo de reuniões parece-me bastante útil porque permite que durante as mesmas, enquanto se discutem os assuntos agendados, se aproveite para capturar o almoço. E como as ilhas se situam numa zona onde (de acordo com os dados dos marégrafos) o nível do mar não se tem alterado nos últimos anos, não parece haver inconvenientes na repetição das mesmas. Já se o território se situasse numa região em que o nível do mar estivesse a descer, passava a haver uma boa desculpa para os atrasos às reuniões do executivo, a dificuldade em encontrar o local.

[Imagem construída a partir de dados da Universidade do Havai. A vermelho e a laranja, as regiões onde o nível do mar tem vindo a subir nos últimos anos, a amarelo, as regiões sem alterações e a verde, os locais onde o nível do mar tem descido.]

Apache, Outubro de 2009

sábado, 17 de outubro de 2009

Obama, Nobel da Paz? Porque não?

Quando ouço tanta gente a perguntar – Obama, Nobel da Paz? Porquê? – apetece-me responder com outra pergunta – Porque não? Até acho que foi das melhores escolhas das últimas décadas. Quem parece concordar comigo é o Ricardo Araújo Pereira que escreveu assim, na “Visão” da passada quinta-feira: “A atribuição do prémio Nobel da Paz a Barack Obama é, evidentemente, absurda. É inconcebível que o recém-eleito presidente dos Estados Unidos tenha recebido o prémio Nobel. Especialmente, é inconcebível que o tenha recebido antes de vencer um Óscar, de ganhar a Bota de Ouro e de ser coroado Miss Portugal. Que se passa com a academia de Hollywood, a Liga de Futebol Profissional e o júri do popular concurso de beleza para não terem ainda premiado Barack Obama? Como é possível que Obama esteja há quase um ano na Casa Branca e tenha vencido apenas um prémio Nobel? E logo o da Paz, que não exige qualquer mérito da parte do premiado - nem sequer o mérito de promover a paz, conforme se constata pelo facto de Henry Kissinger ter recebido o galardão em 1973. Porque não o da Literatura, se as suas autobiografias (as 23) estão escritas num estilo tão elegante e enxuto? Porque não o da Economia, o da Química ou da Medicina? Pode perguntar-se: que fez ele para vencer o Nobel da Economia, da Química ou da Medicina? E pode responder-se: o mesmo que fez para ganhar o da Paz. As candidaturas para o prémio Nobel da Paz são entregues em Fevereiro. Barack Obama tomou posse como presidente dos Estados Unidos no final de Janeiro. Em duas ou três semanas, Obama teve uma acção suficientemente meritória para ganhar o Nobel da Paz. Que fez ele? A resposta é clara: nada. Não ordenou retiradas, mas também não ordenou ataques. Não ordenou nada, o que já é bem bom. Um estadista que não faça nada tem, hoje, um valor inestimável. Há quem diga que o prémio foi atribuído a Obama como sinal de esperança no que o presidente americano poderá fazer no futuro. Sinceramente, não creio. Julgo que o comité norueguês atribuiu o prémio agora por uma questão de oportunidade: há que aproveitar enquanto é tempo. Normalmente, é uma questão de meses até o presidente dos Estados Unidos lançar o país numa guerra qualquer. É preciso premiá-lo enquanto não começa a rebentar com coisas no Médio Oriente. Por outro lado, é muito curioso que a atribuição do Nobel da Paz a Barack Obama tenha desencadeado uma série de comentários extremamente beligerantes. Raras vezes terá havido tanta discórdia a propósito da Paz. É mais um mérito de Obama: recebe prémios, promove discussões, agita o mundo. E tudo sem se mexer. Minto: há uns meses comprou um cão. Mas imaginem o que acontecerá quando ele começar mesmo a fazer coisas.” De facto, se compararmos Obama com outro norte-americano, recente vencedor do Nobel, Al Gore, constatamos facilmente que em relação a este, Obama leva uma grande vantagem, o seu menor tempo de permanência na alta-roda da política permitiu-lhe um menor acumulado de mentiras. Desta vez, acho que os cinco iluminados do Comité Nobel (a quem compete a escolha) estiveram muito bem, é despachar o prémio cedo, antes que se torne demasiado escandaloso.
Apache, Outubro de 2009

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O ranking das escolas

Na passada terça-feira, a SIC divulgava o ranking das escolas do ensino secundário (com mais de 100 provas realizadas), ordenado de acordo com as classificações obtidas pelos alunos nos exames nacionais, às 12 disciplinas mais representativas. Como era de esperar, acentuou-se a tendência dos 4 anos anteriores, de afundamento na tabela, das escolas públicas. Continua (à semelhança do sucedido em 2008) a não haver nenhuma pública nos 10 primeiros lugares e contam-se apenas 6 nos 25 lugares cimeiros. É claro que estes rankings interessam essencialmente aos estabelecimentos de ensino privado que ocupam os primeiros lugares, porque daí advém a publicidade resultante da conclusão fácil de que as escolas onde os alunos obtêm (em média) melhores resultados, apresentam a melhor qualidade de ensino. Será? Convém lembrar que parte significativa dos professores que leccionam no privado, fazem-no por não terem obtido colocação em escolas públicas, o que inviabiliza qualquer conclusão em termos de qualidade do corpo docente, em ambas as realidades. Convém ainda esclarecer que a maioria das escolas públicas faz selecção de alunos, umas de forma mais directa, recusando liminarmente os que apresentam classificações mais baixas, outras indirectamente, através das elevadas mensalidades cobradas. Uma das curiosidades deste ranking, é constatar que, após 4 anos e meio de tutela de Maria de Lurdes Rodrigues à frente do Ministério da Educação, com quase todas as medidas de politica educativa centradas: na avaliação do desempenho docente, no aumento dos equipamentos tecnológicos e, no aumento do tempo de permanência de docentes e de discentes, nas escolas, os alunos dos estabelecimentos de ensino público, se afastam cada vez mais do desempenho dos seus colegas do privado. Quanto tempo mais é preciso, para que certa gentinha perceba que a grande diferença entre o público e o privado está no aluno?! São os alunos, através do seu comportamento, da sua atenção, do seu empenho e participação nas actividades, o factor determinante das classificações obtidas. Papel importante, através do acompanhamento dos mesmos (da disciplina que incutem, das expectativas que geram), é o desempenhado pelos encarregados de educação. Tudo o mais, são pormenores. O texto que a seguir transcrevo, publicado no blogue “Pedro na Escola”, relata um caso real que vai de encontro ao que muitos professores pensam mas poucos têm a coragem de assumir. “Hoje, recebemos um telefonema de uma jornalista do jornal Público, que desejava saber quais foram os factores que nos fizeram subir mais de 700 lugares no ranking nacional, segundo as estatísticas daquele órgão de comunicação social. Nós ainda não sabíamos do nosso lugar no ranking, mas a senhora jornalista fez o favor de informar. Um salto fabuloso! A simpatia da senhora jornalista foi tanta que até sugeriu respostas: mudança de práticas?, mudança de professores?... Com o devido respeito, tenho a dizer que é preciso muita patetice junta e concentrada para sequer se ousar pensar que se trepam 700 lugares num ranking às custas de mudança de práticas ou de professores. É preciso viver mesmo noutro planeta para se adiantar hipóteses destas. Francamente! Ainda assim, foi necessário dar resposta à senhora jornalista, não sei bem para quê, pelo que se gerou ali logo uma saudável discussão sobre os tais factores que fizeram a diferença. Eu tentei forçar a barra, insistindo que o único factor em causa era a mudança dos pais dos alunos. Alunos diferentes, porque pais diferentes, e o resto são estórias da Carochinha, disse eu. Não colou. Assim sendo, elencámos três factores para justificar o salto: 1- Em 2008, não tínhamos uma turma de CEF no 9º ano, pelo que a exame foram alunos interessados, alunos assim-assim e alunos que se estavam a borrifar completamente para a escola (estes com a conivência dos pais, obviamente). Em 2009, mais de um terço dos alunos do 9º ano estavam num CEF, pelo que, automaticamente, acabaram os níveis 1, e os níveis 2 ficaram em minoria. 2- Os alunos que foram a exame, em 2008, tiveram um 3º ciclo para esquecer, sempre com malucos na turma, a provocarem diariamente perturbações e interrupções das aulas para tratar da indisciplina. Os alunos que saíram do 2º ciclo com quatros e cincos, terminaram o 3º ciclo, incapazes de passar acima da fasquia do 3. Tiveram azar, coitados, aqueles que sonhavam voar mais alto, porque, às custas de três ou quatro “órfãos de pais vivos”, ficaram com as “pernas cortadas” para o futuro. 3- Calhou, em 2009, grande parte dos alunos vir desde o 7º ano sem malucos nas turmas e, além disso, grande parte dos alunos ter pais com expectativas, que nunca se demitiram do seu papel de pais, nem das suas exigências para com os deveres e obrigações dos filhos (entenda-se: estudar, ter bons resultados e ter bom comportamento). Calhou, simplesmente. Tiveram sorte, estes alunos. Têm pernas para andar, uns querem seguir para medicina, outros para engenharias, e por aí fora. As práticas lectivas, os apoios dados pela escola, a qualidade dos professores e mais uma mão-cheia de balelas que enchem páginas de jornais, revistas e blogues, são de uma irrelevância brutal neste assunto. Lamento como tanto se insiste em factores que, na minha humilde opinião, não passam de poeira, de tão insignificantes que são. E falo com conhecimento de causa. Fui professor destes alunos que subiram 700 lugares no ranking, durante todo o 3º ciclo, e preparei-os para o exame nacional. Tal como todos os meus colegas de Matemática que também prepararam os seus alunos para o exame nacional. Ao contrário do que muitos patetas pensam, não se faz pão sem farinha! E a minha escola teve muita sorte, porque, em 2009, teve um saco cheio de farinha, quando habitualmente o saco traz bem mais areia do que farinha...”
Apache, Outubro de 2009

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

A escola "inclusiva"

“A educação em Portugal é um crime de «lesa-juventude». Com a fantasia do ensino dito «inclusivo», têm lá uma data de gente que não quer estudar, que não faz nada, não fará nada, nem deixa ninguém estudar. Para que é que serve estar lá gente que não quer estudar? Claro que o pessoal que não quer estudar está lá a atrapalhar a vida aqueles que querem estudar. Mas é inclusiva.... O que é inclusiva? É para formar tontos? Analfabetos?"
Medina Carreira, a 9 de Março de 2009

sábado, 10 de outubro de 2009

“O verdadeiro vírus”

“Enquanto Luiz Felipe Scolari é requisitado em prol da campanha de vacinação, o bastonário da Ordem dos Médicos tenta evidenciar o "excesso de alarme" em volta da gripe A, que considera "uma doença banal e pouco letal". O dr. Pedro Nunes chegou um bocadinho atrasado. A acreditar no Expresso, para o bem e para o mal, os receios do H1N1 já alteraram os hábitos da população. Por um lado, lavamos as mãos com frequência; por outro, evitamos beijinhos e apertos de mão. Tradução: graças ao vírus, deixámos de ser um país de sebentos para nos tornarmos um país de malcriados. O mérito da evolução é discutível. Por mim, duvido que apertar uma mão infestada de microrganismos seja pior do que ficar de braço estendido perante um indivíduo que se recusa a cumprimentar civilizadamente o próximo. A primeira experiência aconteceu-me centenas de vezes, e não morri em nenhuma. Mas deve ser um embaraço mortal ver a saudação fraterna recusada por um boçal que vê em nós um foco de doenças. De qualquer maneira, o relevante em tudo isto nem é a gripe: é o empenho com que tantos abraçam as mais extraordinárias coisas a pretexto de motivos absurdos, vagos ou imaginários. Se as autoridades recomendassem que fizéssemos o pino ou empurrássemos um grão-de-bico com o nariz, essa gente acataria a sugestão com o zelo suplementar de quem encara o conselho como uma ordem e o seu cumprimento como um prazer. Talvez a explicação para o fenómeno esteja algures entre o gozo da obediência e a necessidade de integração, não sei. Sei que, além de tardias, as declarações do pobre bastonário são inúteis: dizer aos cidadãos que não se preocupem é muito menos apelativo do que convertê-los a um ritual colectivo amalucado, desde abolir o beijinho a vestir o banco do carro com o colete reflector, passando por correr a pedir o "cartão do cidadão" e por pendurar bandeirinhas nas janelas. A participação do sr. Scolari não é causal, e uma vacina contra o ridículo não é provável.”
Alberto Gonçalves, no “Diário de Notícias” da passada quinta-feira

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

“Há claramente um excesso de alarme e de zelo” em torno do H1N1

Numa entrevista dada à “Lusa” à margem da inauguração da nova sede distrital de Beja da Ordem dos Médicos (OM), Pedro Nunes, citado pelo jornal “i”, afirma que “há claramente um excesso de alarme e de zelo” em volta de algo que “não passa de uma gripe, uma doença banal, pouco letal”. Acrescentando que “o melhor contributo da Ordem dos Médicos é chamar a atenção dos médicos e, através deles, das pessoas, de que isto é uma doença banalíssima e que não é preciso andarmos todos assustados". Pecam por tardias as declarações do Bastonário da OM que há muito deveria ter criticado o alarmismo oficial. Não se percebe, no entanto, (a menos que razões económicas se sobreponham a valores éticos) porque concorda Pedro Nunes com o plano de vacinação que obedece a "consensos internacionais", sendo dever de Portugal se “integrar na comunidade internacional". Onde é que eu já ouvi falar de consensos ao som do tilintar do vil metal?
Apache, Outubro de 2009

terça-feira, 6 de outubro de 2009

"A Gaivota" - Amália Rodrigues

"Se uma gaivota viesse trazer-me o céu de Lisboa, no desenho que fizesse, nesse céu onde o olhar é uma asa que não voa, esmorece e cai no mar. Que perfeito coração no meu peito bateria, meu amor na tua mão, nessa mão onde cabia perfeito o meu coração. Se um português marinheiro, dos sete mares andarilho, fosse quem sabe o primeiro a contar-me o que inventasse, se um olhar de novo brilho no meu olhar se enlaçasse. Que perfeito coração no meu peito bateria, meu amor na tua mão, nessa mão onde cabia perfeito o meu coração. Se ao dizer adeus à vida as aves todas do céu, me dessem na despedida o teu olhar derradeiro, esse olhar que era só teu, amor que foste o primeiro. Que perfeito coração morreria no meu peito, meu amor na tua mão, nessa mão onde perfeito bateu o meu coração." Poema de Alexandre O'Neill com música de Alain Oulman, em jeito de homenagem à voz inconfundível de Amália Rodrigues (1 de Julho de 1920 – 6 de Outubro de 1999)

Apache, Outubro de 2009

O défice público ascende a 6,7% do PIB

O “Correio da Manhã”, do passado dia 22 de Setembro, anunciava que o défice público se situa "neste momento" em 8 712 milhões de euros (e agrava-se a cada dia que passa em 36 milhões de euros). Tal valor, corresponde a 6,7% do PIB. [Os últimos dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística (Julho de 2008 a Junho de 2009) apontam o valor do Produto Interno Bruto Nacional para os 129,3 mil milhões de euros.] Não sei se se recordam, mas em 2005 (ano em que o senhor “inginheiro” chegou a Primeiro-Ministro) Bruxelas validou um défice nacional de 6% do PIB. Pelo que, 4 anos depois, após o fecho de escolas e maternidades, o congelamento de salários da função pública, o aumento de impostos e, vários outros mimos, sistematicamente justificados pela necessidade de combater o défice, o melhor que este governo conseguiu fazer foi agravá-lo em 0,7%. Vamos ter calma que eles talvez ainda consigam… fazer pior.
Apache, Outubro de 2009