“Primeiro, Vítor Gaspar tirou dinheiro aos trabalhadores. Depois, tirou aos reformados. A seguir, tirou aos consumidores em geral. Agora, tirou ao ministro da Economia. Ora até que enfim, uma medida justa. Creio que o Ministro das Finanças encontrou finalmente um rumo: confiscar verbas aos colegas de Governo. Se Vítor Gaspar também tivesse tomado conta do orçamento de Miguel Relvas, talvez tivéssemos poupado aqueles 12 mil euros que o ministro-adjunto gastou a imprimir 100 exemplares do programa do Governo.
O modo como Gaspar se apoderou dos dinheiros do QREN, que eram até aí responsabilidade do Álvaro, envergonha o povo português. Todos nos lembramos do escabeche que os trabalhadores fizeram por terem ficado sem os subsídios de férias e de Natal, no valor de meia dúzia de tostões. Já o Álvaro fica sem 2,5 mil milhões de euros e limita-se a amuar um bocadinho. Não organizou manifestações, não pintou cartazes, não gritou palavras de ordem. Por razões patrióticas, não se permitiu mais do que um ligeiro melindre. É verdade que o Álvaro tem algum traquejo nisto de ser espoliado, uma vez que Paulo Portas já lhe tinha tirado a diplomacia económica, Miguel Relvas tinha-lhe ficado com o emprego jovem e António Borges tinha-lhe abarbatado as privatizações e as PPP. Mas, ainda assim, continua a ser notável a dignidade com que ele se deixa esbulhar. Sobretudo porque se percebe muito bem o destino que aguarda o Álvaro: os outros ministros têm um orçamento, o da Economia terá uma mesada. Todos os meses, Vítor Gaspar entregará ao Álvaro uma pequena soma, com a indicação de não gastar tudo em guloseimas. É mais uma medida de contenção de despesas e racionalização de custos: não tendo Portugal uma economia, acaba por não se justificar que tenha um Ministério da Economia. É interessante constatar que a única economia que funciona bem em Portugal é a economia paralela - curiosamente, aquela que os economistas não definem nem programam. (…)”
Ricardo Araújo Pereira, na “Visão” de 15 de Março de 2012